Estamos às portas do mês de novembro, mês de profundas e enraizadas tradições cristãs. Mas, de uns anos a esta parte, fruto da globalização e da uniformização hollywoodesca da cultura, corremos um sério risco de interrupção da vivência e transmissão daquilo que é genuinamente nosso, como povo e como cristãos.
Por estes dias, «naquele tempo» começavam as azáfamas de zelar, nos cemitérios, as campas e jazigos dos fiéis defuntos para a sua memória litúrgica. Se no 1.º de novembro, solenidade de Todos-os-Santos, pela manhã se elevavam preces e cânticos em união com a multidão incontável dos santos do céu, pela tarde, recordavam-se aqueles que nos precederam na fé e que «configurados com Cristo na morte» fossem contemplados na glória da ressurreição. Organizavam-se procissões e visitas aos cemitérios, onde as famílias aguardavam com respeito e devoção aqueles sufrágios e preces.
Contudo, vemos que uma festa anglo-saxónica, o Halloween, uma festa de brincadeira e de trevas, tenta ofuscar no coração das crianças e jovens a alegria da santidade e da luz. Se ainda há bons exemplos de preservação das nossas tradições, como o Dia do Bolinho e do Pão por Deus em algumas regiões portuguesas, noutras pura e simplesmente se esfumaram sendo substituídas pelas doçuras ou travessuras.
As crianças e jovens já nem sequer se abeiram dos cemitérios, porque podem ficar «traumatizados», mas andam vestidos de esqueletos e almas penadas na véspera… Ironias.
Após os dias dos Santos e Fiéis, no nosso Portugal, vinha umas das mais antigas e festejadas romarias: São Martinho. Hoje quase reduzido a um magusto nas escolas e famílias e onde alguns já nem sequer falam da lenda e da vida de tão célebre santo, o primeiro não mártir a ser inscrito no martirológio.
Nos finais de novembro, tínhamos sempre a solenidade de Cristo Rei, com os votos e promessas das associações católicas, como a Ação Católica, entre outras. Hoje na maioria das comunidades, é só mais uma data no calendário, mesmo que seja o último domingo do ano litúrgico. Na praxis pastoral, o que importa é o que vem a seguir: o advento e o Natal, na melhora das hipóteses.
Basta darmos uma volta pelas nossas cidades e vemos que se vive já em época pré-natalícia, com enfeites e montras a rigor, ombreando com bruxas e esqueletos.
Mas onde ficam as genuínas tradições? Para quê este consumismo desenfreado, sem nexo, sem utilidade de uma sociedade pós-cristã que apenas mantém do cristianismo aquilo que convém, como o folclore das luzes e consoadas, enquanto se esquece do verdadeiro espírito cristão desta época: a partilha e a caridade. O pão por Deus e a lenda de São Martinho lembravam-nos que todos somos irmãos e que devemos partilhar o que temos com aqueles que nada têm. Transmitia que é bom e salutar rezar por aqueles que já partiram e pedir a intercessão daqueles que estão junto de Deus. Pois só estão junto de Cristo, rei e senhor do universo, aqueles que praticaram as obras de misericórdia, sejam elas corporais ou espirituais: Tive fome e deste-me de comer… Estava nu e vestiste-me…
Reencontremos as nossas tradições e voltemos àquilo que de bom os nossos antepassados no legaram e deixemos de parte ou enquadremos aquilo que importamos sem sentido crítico. Vivamos em santidade e deixemos a vaidade…
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