As Cinco Chagas do Senhor

O culto das Cinco Chagas do Senhor, ou seja, a reverência prestada às feridas que foram infligidas a Cristo na crucificação e que Ele manifestou aos Seus Apóstolos depois da Ressurreição, foi impulsionado por S. Bernardo, e encontrou sentida e
profunda adesão no povo português, desde os primórdios da nacionalidade. São disso testemunhas bem concretas a literatura religiosa e a onomástica (referente a pessoas e a instituições).

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Na Dedicatória, d’Os Lusíadas (a epopeia nacional), Camões relembra a D. Sebastião de quem ele descende:
Vós, tenro e novo ramo florescente
De uma árvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesárea ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas, e deixou
As que Ele para Si na Cruz tomou)” (Os Lusíadas, Canto 1, estância 7).

Nestes versos, Camões recorda ao rei que ele é um jovem rebento de uma família mais amada por Cristo que qualquer outra família real, porque o seu escudo é o único onde estão representadas as Cinco Chagas de Cristo. Estes versos sintetizam o simbolismo que tradicionalmente relaciona as armas da bandeira nacional com as
Chagas de Cristo.
Esta narrativa remonta ao reinado de Afonso Henriques. Entre os factos históricos dignos de referência no que respeita às lutas contra os mouros, salienta-se o Fossado de Ladera, em 1139 e, no mesmo ano, o destaque particular dado pela História, meio caldeada com a lenda, à Batalha de Ourique, travada em 25 de Julho.

O Livro da Noa de Santa Cruz, de Coimbra, o Cronicon Lamecense e outros, relatam que, num lugar chamado Haulic ou Oric ou Ouric, se travou uma batalha entre os portugueses, comandados por D. Afonso Henriques, e um exército de mouros comandados por Ismar ou Esmar ou Examare e mais outros quatro reis, tendo «os infiéis» sido desbaratados com grandes perdas, depois de Jesus Cristo crucificado ter milagrosamente aparecido no Céu a abençoar os portugueses. Outras vozes contam que Jesus Cristo Crucificado apareceu ao próprio rei Afonso Henriques, quando este foi orar, antes da Batalha, “assegurando-lhe a vitória e a protecção futura do reino. Desta forma a independência de Portugal assentava na vontade expressa de Deus”; (Dicionário da Língua Portuguesa, 2003-2011). A partir desta vitória, Afonso Henriques mandou colocar no seu escudo e na bandeira a representação das Cinco Chagas de Cristo. A atual bandeira tem ainda presentes as Cinco Chagas de Cristo, que nem os novos ventos do Liberalismo nem a fúria demolidoramente anticlerical da República ousaram retirar. As Cinco Chagas de Cristo, impressas na bandeira nacional até aos nossos dias, o que a
torna sagrada, presidiram e presidem a todos os acontecimentos da Lusa Pátria, quer os da desventura para lhe dar esperança, coragem e perseverança quer os da glória para a convocar à ação de graças, à certeza de que há um Deus amoroso que tudo rege .

As Chagas representam a totalidade da Paixão e mais ainda da Ressurreição. Esta festa faz-nos reviver o mistério da Redenção de Cristo a nosso favor. É para Jesus Cristo que se dirige a nossa adoração, celebrando esta festa, para Ele que nos amou infinitamente e que nos manifestou esse amor através das Suas Chagas, para Quem nos amou até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8).
A popularidade desta festa, em Portugal, era tão grande que levou o Papa Bento XIV a instituir esta festa litúrgica para o nosso país, celebrando-se a 7 de Fevereiro, com Ofício e Missa próprios, como ainda hoje acontece.
A contemplação das Chagas do Senhor rendeu especial atenção ao Lado aberto, conduzindo os místicos medievais e posteriores à contemplação do Coração trespassado, a mais viva, profunda e eloquente expressão do Seu amor. Essa
contemplação move-nos espontaneamente à correspondência, isto é, “amor com amor se paga”.
O povo português, na sua forma mais simples de religiosidade, sempre esteve ligado a Maria, a Mãe intercessora, e por isso, com Ela elevam-se as vozes dos crentes, daqueles que na sua humildade reverenciam as Chagas do Senhor, as marcas visíveis do amor incondicional do Pai e da obediência extrema do Filho, que doou a Sua vida para a
salvação de todos.

Virgem das Dores, cujas lágrimas ungiram as Santíssimas Chagas do Salvador, lavai com as Vossas lágrimas, unidas ao Sangue Precioso de Vosso Filho, os pecados de Portugal!
Pelas Vossas Santas Chagas, perdoai-nos, Senhor!

 

Paula Ferraz | Missionária Segundo Elo da Comunidade Canção Nova Portugal