Porquê uma festa para todos os santos?

Sabias que no céu pode haver um santo que conheceste?

Durante o ano, a Igreja Católica dedica alguns dias da sua liturgia para homenagear alguns santos. 19 de março é dia de São José, 13 de junho, dia de Santo António; 13 de maio, de Nossa Senhora de Fátima. Enfim, comemoramos o exemplo de vida dos santos e o facto de já estarem diante da glória de Deus.

Mas já imaginaste que, além dos santos mais conhecidos, muitas outras almas também chegaram a ganhar o céu e a plenitude? Já pensaste que, durante a história da humanidade, muitos mártires e muitas outras pessoas de bom coração, fiéis ao Senhor, viveram a sua vida de forma irrepreensível e foram testemunhas para o próximo, mas permaneceram anónimas? Quem sabe exista, no céu, alguém que tenhas conhecido, que esteja morto e tenha se tornado santo!!!

Pois bem! No dia 1 de novembro, a Igreja celebra a Festa de Todos os Santos para fazer memória àqueles que estão diante da visão beatífica de Deus, intercedendo por nós sem cessar.

Para compreendermos um pouco melhor o sentido desta festa, é importante mergulharmos na realidade da Igreja de Cristo, Seu Corpo Místico. A definição de Igreja é “a assembleia de todos os santos. A comunhão dos santos é precisamente a Igreja” (Catecismo Igreja Católica 946).

Para complementar, o artigo seguinte diz: “Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns é comunicado aos outros […]. O bem de Cristo é comunicado a todos os membros” [da Igreja] (CIC 947). Existe uma comunhão de bens espirituais que uns podem transmitir aos outros; as nossas orações, os nossos pedidos, jejuns e sacrifícios podem tornar-se um “fundo comum”.

Os membros da Igreja são “os seus discípulos que peregrinam na terra (nós que estamos vivos); outros, terminada esta vida, são purificados (almas no purgatório); enquanto outros são glorificados, vendo claramente o próprio Deus trino e uno, como Ele é” (CIC 954).

As almas, nos três estados da Igreja, podem alcançar graças umas pelas outras. “A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo de maneira alguma se interrompe; pelo contrário, […] vê-se fortalecida pela comunhão dos bens espirituais” (CIC 955).

Essas verdades a Igreja buscou na Sagrada Escritura. Nenhuma alma “fica a dormir” como interpretam alguns. “Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo” (Hb 9, 27); e também quando Jesus diz ao que foi crucificado junto com Ele: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Também não fica inconsciente: “Estando ele (o rico, já após sua morte) nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio” (Lc 16, 23).

São Paulo também distingue os habitantes no céu dos peregrinos nesta vida: “dobro meus joelhos diante do Pai, de quem recebe o nome toda família, no céu e na terra” (Ef 3,15).

No livro do Apocalipse, encontramos também uma passagem em que João vê os santos a interagir com o Senhor e lhes é pedido que aguardem até se completar o tempo de instaurar a justiça na terra: “Vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra? Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos” (Ap 6, 9-11).

Fica claro que, após a morte, a alma que alcançou as graças de Deus e se foi para junto d’Ele está a interceder pelos vivos, e não aguarda que Cristo venha, na Sua segunda vinda, para só então “despertar”.

Costumamos dizer que somos devotos dos santos, mas se repararmos bem, desde antes de sabermos alguma coisa sobre um deles, eles já estavam a cuidar de nós. Por vezes, ao viver uma situação difícil, chega até nós, como que “por acaso”, um folheto ou uma imagem de um padroeiro “especialista” na situação pela qual eu estava a passar.

Dias atrás, conheci um casal devoto de São José. Eles contaram-me que, antes mesmo da conversão deles, haviam se casado numa paróquia de São José (foi a igreja que conseguiram na época). Também disseram que se conheceram no dia 1º de maio (Dia de São José Operário) e ficaram noivos num dia 19 de março (porque foi a data em que conseguiram reunir todos os parentes). Hoje, eles percebem como o pai adotivo de Jesus continua presente nas suas vidas e no seu matrimónio.

Com certeza, o céu antecipa-se quando nos tornamos devotos de um santo, e descobrimos que ele já estava a trabalhar no coração de Deus em nosso favor.

Todos os santos, rogai por nós!

Sandro Arquejada
Missionário da Comunidade Canção Nova, Sandro Arquejada é formado em Administração de Empresas pela Faculdade Salesiana de Lins (SP). Atualmente, trabalha na Editora Canção Nova. Autor de livros pela Editora Canção Nova, ele já publicou três obras: “Maria, humana como nós”; “As cinco fases do namoro”; e “Terço dos Homens e a grande missão masculina”.