A autoestima insere-se no nosso ser de uma forma que não dá para a analisar por si mesma. Não conseguimos dissecar a autoestima da nossa identidade, pois ela é quem somos e faz parte de quem somos, está no nosso passado, presente e futuro.
Gosto de pensar na autoestima como um construto em mudança. Sabemos da importância dos primeiros anos de vida na construção da autoestima, mas também já vimos que muito vai depender do que vamos viver, posteriormente, e, portanto, posso ter uma baixa autoestima agora, mas posso trabalhá-la e conseguir vir a ter uma boa autoestima.
O que é importante na construção da autoestima? É isso que vamos ver neste artigo, onde vou tocar em sete pontos importantes para nos revermos, analisarmos e trabalharmos.
Baseei-me num livro, que gosto muito “Tu, quem és? Da personalidade à autoestima”, do psiquiatra espanhol Enrique Rojas e desenvolvi estes 7 pontos que vejo como sendo importantes na construção e consolidação de uma boa autoestima. São eles:
Visão de mim: qual a imagem que tenho de mim? Como me qualifico, que palavras me identificam? Como me descrevo e que sentimentos tenho associados a mim? É necessário eu ser justa nesta visão que faço e que tenho de mim, pois se eu fico só focada no negativo acabo por criar uma imagem de mim muito distorcida da realidade. Mas, da mesma forma, também, não posso exagerar no meu engrandecimento senão acabo num exagero e prepotência. É necessário encontrar o equilíbrio. Algo muito importante neste ponto é conciliar o que sou e o que desejo ser, pois preciso acreditar na minha potencialidade de mudança e não ficar só focada no que não consigo ser, acabo por cair numa depressão ou só a pensar no que deveria ser, que me traz ansiedade.
Meu corpo, minha imagem: como vejo a minha aparência física? O que sinto quando me vejo ao espelho? Gosto do que vejo, a minha altura, cor dos olhos, cabelo mais ou menos liso, a minha forma mais ou menos arredondada, etc.? Será que me revolto com o meu corpo, por vezes fujo do espelho e da balança? Da mesma forma, é importante observar o corpo internamente, isto é, tenho doenças genéticas que não aceito? Ou alguma doença adquirida, até devido a alguma asneira minha ou algum acidente? E psicológica, psíquica ou cognitivamente, tenho alguma patologia que me impede ou limita de alguma forma? Como lido com isso? Aceito e vivo bem ou reajo negativamente, escondo-me, vivo com raiva?
Trabalho: o trabalho é um dos três principais aspetos que já abordamos sobre a felicidade, devido ao grande impacto que tem na nossa vida e à quantidade de tempo que lhe dispensamos. Portanto, é necessário identificar-me com o que faço diariamente. Neste âmbito, não tem que ver com um patamar elevado que alcancei, mas estar satisfeito com o que faço e fazê-lo com amor, dedicação e liberdade. Desta forma, sinto-me bem comigo e promovo a minha autoestima.
Interação social: como lido a nível social, tenho amigos, um círculo de amizades que me motiva, me ajuda, me educa e me faz feliz? Sinto-me confiante quando estou com pessoas e converso sem qualquer problema ou, pelo contrário, tenho muito receio de me expor perante os outros e tento sempre escapar dos contactos sociais? Quando tenho uma boa autoestima o contacto social não é um problema para mim, dá-me gosto passar tempo com pessoas com as quais me identifico. Da mesma forma, é necessário ter esses contactos até para me ajudarem no estímulo e incentivo das minhas metas e como são importantes essas interações no aumento da minha autoestima.
Comparação: na continuidade do ponto anterior, quando estou com pessoas tenho tendência para me menosprezar e faço comparações com os outros? Fico insegura e atenta à forma de ser do outro e a pensar “quem me dera ser assim!” ou a comparar-me financeira, ou fisicamente? Quando nos retemos aqui vêm ao de cima carências pessoais, de incapacidade para reconhecer o bem que temos (ingratidão). Assolam-nos pensamentos negativos, pessimistas, distorcidos que nos provocam inquietação, insegurança.
Compreensão e aceitação: este é o ponto que devemos chegar que é olhar-me e olhar o outro com compreensão, flexibilidade, sem julgamentos nem comparações. Preciso aliviar a pressão em mim, de desejar ser algo que não sou, ou colocar uma fasquia muito alta para mim e não a alcançar porque é impossível, não porque eu sou incompetente ou fraca. Preciso saber desculpar as minhas faltas e erros pessoais e compreender que isso não me faz pior pessoa.
Doação: por último, ao aceitar-me como sou consigo doar-me a outros, sem que isso me desgaste. Fazer algo pelos outros é muito importante e, em alguns momentos de maior desânimo na vida, pode ser o único caminho que nos retira dessa escuridão, pois nessa doação ao outro eu percebo que afinal sou útil. Contudo, essa doação precisa ser ponderada, pois posso acabar por esquecer de mim, das minhas necessidades e limites (até esquecer a família) e anulo a minha vida para viver em função de outros e desgasto-me. Pode ser uma forma de compensação, isto é, como não vejo valor em mim, a minha autoestima é baixa, acabo por me doar inteiramente a outros para me sentir melhor. Portanto, é necessário o equilíbrio entre doação e cuidado comigo mesma.
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