Apesar de o homem ter esquecido o seu destino sobrenatural, que consistia em ser “amigo de Deus”, não destrói Deus o Seu projeto a respeito do homem. Tomando a iniciativa do diálogo, Deus vem ao seu encontro, revela-Se-lhe e deseja estabelecer com ele pessoais relações de amizade, tornar-Se seu “aliado”.
A aliança feita com Abraão e todas aquelas, que se lhe seguiram, no decurso dos séculos, são preparação da Aliança definitiva, mas são também a expressão do desejo que Deus tem de entrar em comunhão com o homem. A esta prova de confiança, dada por Deus, o homem só pode dar a resposta que Abraão deu: aceitar a palavra de Deus, “sair da sua pátria”, do seu ser “carnal”, pôr-se a caminho, correndo o “risco” da fé. Esta disponibilidade não suprime os problemas, os perigos, as dificuldades do caminho. Porém, a obediência a Deus, mesmo quando nos parece contra toda a lógica, traz consigo a salvação, pela força mesma do amor, com que é vivida. O nosso caminho de dor levar-nos-á sempre à nossa transfiguração em Cristo, que, na Sua fidelidade ao Pai, deu a Sua vida por nós.
1ª Leitura: Livro do Génesis 15, 5-12.17-18 — Deus estabelece a aliança com Abraão
Toda a história da salvação, desde o princípio até ao fim dos tempos, não é outra coisa senão o estabelecimento de uma aliança entre Deus e os homens, aliança que é oferta gratuita de Deus e que há-de ser aceitação humilde e agradecida da parte do homem. Mas há momentos mais significativos no estabelecimento desta aliança. Um deles, que é o seu ponto de partida mais explícito, é o da Aliança com Abraão, o crente por excelência, que, pela fé, se entrega totalmente à palavra de Deus. Nesta leitura, a aliança é significada por meio de um antigo rito: os animais oferecidos e esquartejados são o gesto do homem e o fogo que passa pelo meio deles é sinal da presença de Deus. Assim, de aliança em aliança, nos encaminhamos para a celebração da nova e eterna aliança na Páscoa do Senhor.
Salmo 26(27) — O Senhor é a minha luz e a minha salvação.
2ª Leitura: Epístola de São Paulo aos Filipenses 3, 17—4,1 — Cristo nos transformará à imagem do seu corpo glorioso
Cristo glorioso é o termo de toda a história humana, o objecto da esperança de toda a nossa vida e a meta para onde se orienta o nosso itinerário quaresmal. Ao tempo da ascese difícil e dolorosa na subida, que acompanha a vida que vivemos neste corpo mortal, responde a vida gloriosa, que já se manifesta no Corpo do Senhor transfigurado. Mas o caminho e a porta da glória passa pela Cruz.
Evangelho: São Lucas 9, 28b-36 — “Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto”
A Transfiguração aparece todos os anos no Segundo Domingo da Quaresma, como anúncio da Ressurreição, do modo que, ao longo deste tempo de preparação pascal, estejamos bem conscientes de que o tempo, para onde caminhamos, é Jesus ressuscitado. A Transfiguração, lida neste Domingo depois do Domingo da Tentação, faz com ela uma espécie de preâmbulo, antes de chegarmos à parte central da Quaresma. Mortificação e glorificação, tentação e glória, morte e ressurreição, são de facto, a síntese do mistério pascal que vamos celebrar.
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