Quem sou eu?

Como me vejo? Como me descrevo?

A identidade é a nossa essência e, no fundo, é o motor do nosso ser e da nossa vida. Se eu não me conheço, não sei do que sou capaz, nem para onde caminho. Pelo contrário, quando trilho o caminho do autoconhecimento, eu identifico as minhas potencialidades, fraquezas, formas de sentir e reagir, metas, sonhos e a vida ganha sentido.

Quando construímos uma empresa, uma associação, uma marca, temos de escrever a identidade da mesma, para dar a conhecer aquela marca, os seus objetivos, mais valias, missão, valores. Desta forma, pode mudar a administração da marca, mas a identidade original é preservada.

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A identidade comporta não só o que sou, mas o que gostaria de ser. Quando penso “como me vejo a mim próprio?”, eu reflito sobre as características que percebo em mim, as potencialidades, ainda que em embrião, e projeto-me no futuro. Isto é relevante na construção dos nossos sonhos, para traçarmos o caminho que vamos percorrer.

Esta tensão entre o que sou e o que gostava de ser é o que a logoterapia, na pessoa do psiquiatra Viktor Frankl, menciona como a tensão interior necessária para manter vivo o sentido da minha vida e me impulsionar a avançar, pois posso sempre mais e ser melhor.

Segundo o psiquiatra Enrique Rojas, a identidade tem 4 áreas de análise: a visão de si mesmo, a relação com os outros, a visão da história pessoal, e, por fim, a interpretação da realidade.

Explorando cada um deles percebemos que a descoberta da nossa identidade depende, em primeiro lugar, da capacidade psicológica para fazer uma avaliação justa de mim mesmo, pois existem pessoas que tendem a criticar tudo em si, minimizam as suas capacidades e virtudes. Desta forma, o conceito de identidade que vão ter de si mesmo, será distorcido. A análise tem de englobar tanto o positivo, quanto o negativo, nos diversos aspetos: físicos, psicológicos, cognitivos, culturais e sociais.

Posteriormente, perceber qual a visão que os outros têm de mim, no entanto, segundo o mesmo autor, é preciso ir mais além, não ficar só na ideia que criam de mim, pois eu preciso ser eu mesmo, ser com os outros e ser para os outros.

Quanto à história pessoal, o balanço tem que englobar passado, presente e futuro. Não ficar só no que aconteceu e a remoer as lembranças negativas uma e outra vez. Mas, da mesma forma, não só no aqui e agora sem ter em conta o futuro e as consequências dos meus actos (tão típico na adolescência). E, igualmente, não ter medo de encarar o futuro, sem ansiedade, nem desconfiança das minhas potencialidades. Caso tenha alguma dificuldade em gerir isto, será uma boa altura para fazer um acompanhamento psicológico, pois o profissional ajudará a re-escrever a sua história, agora com sentido, atualizando o presente e a projetar-se num futuro coerente, com metas e sonhos alcançáveis, ainda que agora veja tudo só em embrião.

Por último, interpretar a realidade é procurar o sentido dos acontecimentos. “Interpretar é esclarecer acertadamente aquilo em que estamos envolvidos para podermos compreender a verdadeira razão de ser, do que se passa à nossa volta.” (Enrique Rojas no livro: Tu, quem és?).

Claro que tudo isto será muito redutor se ficar só nas capacidades de cada um. O caminho do autoconhecimento tem de passar pela autotranscendência, isto é, encontrar um sentido para a vida que vá além de si mesmo. Desta forma, evitamos o vazio existencial (segundo a logoterapia é o núcleo da neurose), que é a sensação de não ter um para quê viver.

Este percurso de me conhecer a mim mesmo, leva-me à minha identidade, que é composta, então, pelo meu ser homem ou mulher (a minha sexualidade), a visão que tenho de mim, como sou com os outros, o que conta a minha história, a interpretação que faço da realidade, a minha relação com a transcendência, a minha vocação (matrimónio, celibato, solteiro) e o papel que desempenho (como mãe/pai, esposo(a), filho(a), profissão).

Perante isto, sei quem sou eu? Como me vejo? Sou feliz comigo mesmo? Sou grato pela minha identidade?