A autoestima, como vimos no artigo anterior, é o amor que tenho a mim mesmo, a forma como me sinto comigo mesmo e como avalio os meus atributos e habilidades.
Podemos dizer que uma autoestima ótima é caracterizada pela genuinidade, verdade, estabilidade e congruência (1). Em contrapartida, uma autoestima baixa está muito relacionada com a questão de evitar situações difíceis, por medo de se magoar. Estas pessoas avaliam-se negativamente e ignoram as avaliações positivas que lhe são dirigidas, conduzindo a pessoa a evitar contextos sociais que pode culminar numa perturbação de ansiedade social.
Portanto, vemos o quão importante é o equilíbrio entre amar-me (na semana passada percebemos como uma elevada autoestima pode conduzir a uma pessoa narcisista) e criticar-me. Neste sentido, hoje vamos entender melhor como funciona a autocrítica e como a devo gerir em mim.
Todos nós temos uma imagem do que esperamos de nós, como gostaríamos de ser, o nosso eu ideal. Contudo, para uns, essa luta entre o meu eu e o eu ideal é muito exigente e a autocrítica pode conduzir à exaustão.
A autocrítica são esses pensamentos negativos que fazemos de nós mesmos, em momentos de fracasso, de perda, de engano. Isto é, perante uma situação onde eu “falho” posso sentir-me demasiado envergonhado de mim, ao ponto de me sentir derrotado e assoberbado, portanto a minha autocrítica é demasiado dura para comigo mesmo. Isto faz com que tenha imenso medo de me expor socialmente, pois temo a desaprovação das minhas ideias, modo de pensar, como se isso dissesse que sou bom ou mau. Nestes momentos de insucesso, podemos reagir de duas formas: com uma enorme raiva contra mim mesmo, “como fui capaz de errar?”, “como é que não percebi logo?”, “Que horror! Que vergonha! Sou mesmo burra!”; ou com uma benevolência, paciência e flexibilidade para connosco mesmos, pois reconhecemos que errar é humano e isso não me torna nem mais nem menos que os outros e, portanto, dizemos coisas do tipo “pronto, podia ter sido pior!”, “Ui, errei, mas acontece, não sei tudo!”, “Para a próxima já aprendi!”. Estas duas formas distintas de responder a uma erro/falha estão diretamente ligadas às experiências vividas na infância. A forma como reagiram aos meus erros nas minhas idades precoces foi o meio que eu internalizei e aprendi a reagir.
Pessoas autocríticas tendem a ser muito competitivas e muito exigentes consigo mesmas, acabando por se cansarem e sofrerem muito internamente. São pessoas que também têm dificuldade em se autocorrigirem, pois ficam assoberbadas com as suas próprias críticas, não conseguindo “sair do poço”.
É importante desenvolver um sentido crítico de si, mas intimamente ligado à esperança e confiança de si mesmo, no sentido da sua mudança. Isto é, eu posso (e devo) ter uma boa autocrítica para corrigir o meu comportamento, as minhas atitudes e melhorar a minha performance no futuro, mas que essa autocrítica não me oprima ao ponto de eu não reconhecer as minhas qualidades e a capacidade de mudança, melhoramento.
Concluindo, a autocritica é importante e útil, necessita de um equilíbrio para que me proporcione um momento de aprendizagem, que me leva a um aperfeiçoamento pessoal.
(1) Kernis, M. (2003). Optimal self-esteem and authenticity: Separating fantasy from reality, Psychological Inquiry, 14(1): 83-89
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