Humor como passo para o sentido da vida

Temos feito este caminho de descoberta da Logoterapia e, desta forma, temos aprofundado em cada revista um conceito desta corrente da psicologia. No artigo passado descobrimos o que é o autodistanciamento e percebemos a importância que ele tem na nossa saúde mental. Hoje vamos perceber que o autodistanciamento está interligado a outro sinal de sanidade mental: rir de si mesmo, o humor.

Na logoterapia olhamos a pessoa no seu todo, como um ser bio-psico-social-espiritual, portanto conseguimos ver o Homem com determinadas capacidades humanas que o distinguem dos animais, uma delas é que o animal não se preocupa com o sentido da vida e não sabe rir. Mas o Homem sim! O Homem necessita ter um sentido na sua vida, algo que o ajude a ultrapassar o momento mais doloroso, algo que o impulsione a lutar, para não se acomodar e, no meio de tudo isto, há situações onde o humor é imperativo e ajuda o Homem, em determinados momentos, a sair do seu mundo, da sua dificuldade, sofrimento e a ver com um outro olhar mais leve o meio circundante.

Uma pessoa que sabe rir de si, sabe, da mesma forma, distanciar-se, observar-se, questionar-se, pensar sobre si mesma, ver além da situação/sofrimento e posicionar-se. Quando alguém ri dos seus problemas provoca uma distância entre o seu eu e o problema, logo o humor ajuda o Homem a ser ‘dono de si’, pois posiciona-se acima do seu problema para ‘dominá-lo’. Esta capacidade permite à pessoa compreender que ela não é a situação/sofrimento, não é o que lhe acontece, não é o seu limite. Desta forma, ao distanciar-me de uma situação eu tomo posse de mim, das minhas reações e comportamentos perante o sofrimento, logo deixo de agir num impulso, mas domino as minhas paixões, pois passo a compreender e ver além.

O autodistanciamento está ligado à autocompreensão, pois à medida que me vou distanciando de mim vou-me percebendo, analiso as minhas reações, relativizo-as, questiono-me e tomo decisões perante os meus comportamentos.

Frankl fala do humor também ligado a uma técnica logoterapêutica que é a intenção paradoxal. Esta técnica baseia-se na capacidade da pessoa se distanciar do seu problema e rir-se de si mesma. Por exemplo uma pessoa que não consegue falar em público, pois começa a gaguejar, é lhe dada a indicação, segundo a intenção paradoxal, que da próxima vez que for falar em público tente gaguejar o máximo que conseguir, mas ao ponto de ninguém perceber nada do que ela está a falar e comecem todos a rir às gargalhadas, com a dificuldade que ela tem em ler e por gaguejar imenso. A pessoa vai esforçar-se para fazer exatamente aquilo que teme, mas com grande exacerbação. Claro, que isto implica a capacidade de se rir de si mesmo, o humor. A verdade é que, assim que a pessoa começa a desejar e a dar indicações a si mesma para que aconteça o que mais teme, o medo cessa, a ansiedade baixa.

“Nada faz com que o paciente se distancie mais de si mesmo como o humor” Frankl enfatiza, sempre, nos seus escritos que esta capacidade do ser humano é das mais importantes para que se viva com mais leveza, mais saúde mental, mais harmonia com as pessoas que o rodeiam.

Concluindo, vamos rir muito, vamos rir mais, vamos tornar mais leve a nossa vida e a de quem nos rodeia.

 

Frankl, V. (2016). “Teoria e terapia das neuroses. Introdução à logoterapia e análise existencial.” É Realizações Editora, Livraria e Distribuidora, Ltda. São Paulo.

 

Autodistanciamento e autotranscendência caminhos para o sentido da vida

Marta Faustino