No sofrimento como encontrar o sentido último da vida?

Nas palavras de Frankl, “o suprassentido não diz respeito a uma questão de conhecimento intelectual, mas de fé. Não conseguimos relacionar-nos com esse suprassentido em solo puramente racional, mas, apenas em solo existencial, através do todo de nosso ser, isto é, por meio da fé. Mas quero argumentar que a fé num sentido último é precedida pela crença num Ser último: pela crença em Deus”.[1]

Nós, católicos acreditamos que Deus existe, criou-nos e deseja que voltemos para Ele e isto dá-nos um sentido último (o suprasentido) a toda a nossa existência e no meio de uma situação mais atribulada, de um sofrimento maior conseguimos ter esta visão abrangente, este autodistanciamento e autotranscendência que nos levam a ver a nossa vida em perspetiva, a perceber um fio condutor ao longo dela e isso dá-nos essa segurança, é esse sentido que nos ajuda a dar sentido ao nosso sofrimento de ontem, de hoje e o que há-de vir.

É, igualmente, esta perspetiva que nos ajuda a ver o impossível no ordinário da vida, pois como diz Frankl, “algo que parece impossível numa dimensão mais baixa é perfeitamente possível numa dimensão superior, mais abrangente”. [1]

Por isso, quando na vida nos aparecem situações que nos fazem parar, que impossibilitam o nosso trabalho, que nos levam a questionar a decisão que tomamos do matrimónio, que nos confronta com uma necessidade urgente para um filho, uma deficiência permanente, um acidente incapacitante, uma doença incurável, entre tantas situações, nós temos sempre uma forma de encarar e de ver a situação: qual o sentido último de tudo isto que estou a viver? No fim, o que ando a fazer neste mundo? Para onde vou no meu último suspiro?

Atrevo-me a deixar umas palavras de Frankl aqui escritas, pois eu não diria melhor e com esta simplicidade: “As pessoas que restringem a realidade ao que é tangível e visível e que, por tal razão, tendem a priori a negar a existência de um Ser último, também tendem a reprimir sentimentos religiosos. Junto dessas pessoas que são sofisticadas demais para aceitar os conceitos ingénuos da religião, também há aqueles que são imaturos demais para superar uma epistemologia pobre, insistindo que Deus deveria ser visível. Se essas pessoas algum dia subirem a um palco, elas aprenderão uma lição. No palco, o homem, ofuscado pelos refletores, não pode ver o seu público, apenas um buraco negro. Ele não pode ver aqueles que o estão vendo. O ser humano, atuando no palco da vida, interpretando a sua própria existência, não pode ver diante de quem a sua performance se desenrola. Ele não consegue ver diante de quem ele é responsável por apresentar uma boa atuação. Nas luzes ofuscantes do dia a dia, ele esquece-se de que está sendo observado. Ele não se lembra de que, no escondido, no escuro, alguém o observa do camarote”. Isto para dizer, que Deus está presente na nossa vida, observa-nos e vê cada detalhe da nossa vida, está atento aos nossos sofrimentos e à nossa atitude perante os mesmos.

Nós, católicos, sabemos que os nossos sofrimentos servem, da mesma forma, para alcançarmos a salvação da nossa alma, e dos outros, como podemos constatar nas Palavras de S. Paulo: “Estou absolutamente convencido de que os nossos sofrimentos do presente não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rom 8,18); ou como nos disse Nossa Senhora em Fátima, a 13 de Maio, de 1917:  “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?” e no dia 19 de agosto fez um pedido: “Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”, e ainda, Jesus manifestou-se a Santa Faustina dizendo: “Não vives para ti mesma, mas para as almas. Dos teus sofrimentos terão proveito outras almas. O teu contínuo sofrimento lhes dará luz e forças para aceitarem a Minha vontade” (Diário, 67); quem tem Fé e vê a vida deste prisma, consegue ter este sentido último e, desta forma, o sofrimento é vivido com um sentido de reparação, sacrifício, consolo de outras almas e penhor de vida eterna.

Que sentido dás tu à tua vida? Como vês o sofrimento da tua vida? Para onde caminhas? Qual o sentido último de tudo isto?

 

1 – Frankl, V. (2011). A vontade de sentido. 1ª edição, Paulus, São Paulo, Brasil.

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Marta Faustino