Na semana passada, começamos a ver dois, dos quatro ingredientes essenciais no matrimónio, segundo S. João Paulo II, falamos da liberdade e fidelidade. Hoje vamos abordar os que falta: ser fecundo e total.
O casal precisa ser aberto à vida, pois o amor precisa ser fecundo. Ter Deus no centro do matrimónio é deixar-se guiar por Deus e pela Sua divina providência, em todos os aspetos.
Cada ato conjugal precisa ser aberto à vida. A Igreja concorda que o casal viva uma paternidade responsável e possa espaçar o nascimento dos filhos, por diversas razões que afetem o casal. Para isto existem os métodos naturais de regulação da fertilidade (exemplo: o método de ovulação Billings), que ensinam o casal a reconhecer os seus períodos férteis e inférteis e possam, dessa forma, espaçar as gravidezes, mas sempre abertos a seguir a vontade de Deus. Na exortação apostólica de S. João Paulo II sobre a família, Familiaris Consortio, no artigo n.º 32, diz o seguinte: “Neste contexto, o casal faz a experiência da comunhão conjugal enriquecida daqueles valores de ternura e afetividade, que constituem o segredo profundo da sexualidade humana, mesmo na sua dimensão física.”
No entanto, a fecundidade do casal não se restringe aos filhos, é ser fecundo no mundo, no trabalho, no serviço e acolhimento aos outros, na hospitalidade de uma casa aberta, no atendimento, orientação e apoio a outros casais e abertura ao serviço na comunidade.
Total:
No matrimónio realizamos uma entrega total ao outro. Existe uma doação do meu todo ao outro e não apenas de uma parte.
Para me dar preciso de me possuir, isto é, preciso de me conhecer, reconhecer Deus em mim, ter domínio de mim mesmo, das minhas paixões e decidir doar-me na totalidade ao meu cônjuge.
A entrega total é a doação de vida, pois entrego os meus sonhos, projetos, anseios, aspirações nas mãos de Deus e cedo a tudo isso por um bem maior. No matrimónio os esposos precisam sonhar em conjunto, construir metas a dois e dialogar sobre esses anseios, de forma a conciliar os sonhos de um e de outro. Já não sou eu que decido por mim mesma, sozinha, a minha vida, mas passo a depender da partilha, do diálogo e concordância do meu esposo. Isto não é submissão, no sentido que lhe devo obediência cega e ele é que me controla e domina, mas é liberdade interior para me desprender dos meus desejos e paixões e colocar o amor acima de tudo. “O «lugar» único que torna possível esta doação segundo toda a verdade, é o matrimónio, isto é, o pacto de amor conjugal ou escolha consciente e livre, pela qual o homem e a mulher aceitam a comunidade íntima de vida e de amor, querida pelo próprio Deus, que só a esta luz manifesta o seu verdadeiro significado. A instituição matrimonial … é uma exigência interior do pacto de amor conjugal que publicamente se afirma como único e exclusivo, para que seja vivida assim a plena fidelidade ao desígnio de Deus Criador. Longe de diminuir a liberdade da pessoa, esta fidelidade protege-a contra o subjetivismo e relativismo e fá-la participante da Sabedoria Criadora.” Familiaris Consortio, n.º11.
Matrimónio é doação da totalidade do meu ser: corpo e alma. Como já vimos, esta entrega é total (o meu corpo todo e aberto à vida) e não só uma parte. O ato conjugal é muito mais que uma entrega de corpos, é doação de vida, de interioridade. É assumir um compromisso total com o outro, admiração, bondade, vontade de amar sempre mais. Se esta não for a realidade de uma das pessoas, então aquele ato sexual é uma mentira e corrói o amor que os une, destruindo o casal, a sua dignidade e até a capacidade de se doar.
Viver o matrimónio segundo estes quatro ingredientes é viver a verdadeira liberdade de amar, segundo o coração de Deus.
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