Aproxima-se o final do ano, a revisão de vida e a preparação dos projetos/metas para o próximo ano.
A pandemia trocou-nos as voltas e o que planeamos, no início deste ano, pode ter ficado pelo caminho. No entanto, como temos vindo a refletir, a minha segurança, a minha esperança não pode ficar pelas minhas metas. Se a minha felicidade depende das minhas conquistas, então preciso rever esse conceito.
Como Schopenhauer disse no livro A arte de viver: “O que cada um de nós sente por si próprio, o que nos acompanha na solidão sem que alguém nos possa tirar, isso é muito mais importante do que tudo o que temos ou aquilo que parece ser aos olhos de outras pessoas”. Basicamente, o que estas palavras nos fazem refletir é: será que sei quem sou? Conheço-me ao ponto de me amar? Gosto da minha presença? Sou uma pessoa agradável a mim mesmo? Sou boa companhia para mim? Sinto-me grata com a minha vida (conquistas, lutas, perdas, sofrimentos)? Tenho sonhos (gosto de sonhar e pensar no futuro, no que ainda quero alcançar ou mudar em mim)? Pois aqui é que se situa a felicidade.
A felicidade não é o que eu possuo, não é o carro do ano que me vai fazer feliz, ou usar a roupa de marca tal, ou ter a casa decorada com as cores deste ano, enfim, não é o que eu tenho, o que possuo que me vai trazer felicidade.
Da mesma forma não é o que eu pareço ser aos olhos dos outros que me vai trazer a felicidade. Não é a minha aparência, a simpatia que coloco nas minhas palavras, a bondade dos meus gestos, a paciência das minhas atitudes para com os outros, que são atos de louvar, mas precisam ser genuínos, senão quando estiver só comigo mesma, o verdadeiro eu vai surgir e não vou gostar de estar comigo. Isto faz com que eu fuja de estar só.
É em criança que devemos aprender a ficar só, a imaginar, a criar, a pensar em nós e nos nossos atos, se isto não acontece, traz repercussões no crescimento, pois não aguentamos o silêncio, não nos suportamos, refugiamo-nos nos prazeres superficiais e nada nos satisfaz. Andamos cansados, psicologicamente, frustrados e não nos sentimos felizes. Também aqui, esperamos demasiado, criamos grandes expetativas de que algo de extraordinário vai acontecer e perdemos o prazer das pequenas coisas.
Este cansaço psicológico torna-nos pessoas complicadas, amargas, mesquinhas, exigentes, impacientes, irritáveis. Existem pessoas que parecem panelas de pressão ambulantes e, ao mínimo contratempo explodem, não sabem valorizar o aqui e agora e o que ele me pode dar. Desta forma, enfurecem-se com as filas de trânsito, têm ataques de raiva se a mesa não está bem posta, desejam vingança quando são atendidas de forma arrogante, numa loja, e isto despende tanta energia que deixa as pessoas de rastos. Como diz Enrique Rojas, no livro Não te rendas, “O sábio não repara no pó que não foi limpo, na batata que o cozinheiro não cozeu, nem na fuligem que o limpa-chaminés não limpou. Não quero dizer que não deve tomar medidas para remediar estas questões, se tiver tempo para as tratar; o que quero dizer é que deve enfrentá-las sem emoções.” Portanto, aquele que consegue libertar-se da ditadura das inquietações descobre que a vida é muito mais alegre e leve do que quando andava constantemente irritado.
Concluindo, por andam a minha esperança? E a minha felicidade? O que me faz ser feliz? Ou já desisti desse projeto? Perante esta reflexão o que quero, para mim, no próximo ano? Quais as metas que quero alcançar, com o intuito de me sentir bem comigo mesma e alcançar a alegria de viver.
Artigo relacionado:
Ano Novo, vida nova mas… será que acontece por “magia” ou depende de mim?
- Primeiro dia do funeral marcado pela trasladação do corpo de Bento XVI para a Basílica de S. Pedro - 3 de Janeiro, 2023
- Legado teológico de Bento XVI está a ser traduzido para português - 3 de Janeiro, 2023
- Canonista explica protocolo do funeral de Bento XVI - 2 de Janeiro, 2023