Técnicas mais utilizadas na prática da Logoterapia

Tenho falado sobre Logoterapia e, ultimamente, tem-se falado mais desta vertente da psicologia. Já expliquei alguns conceitos, mas em que consiste na prática a logoterapia? É uma técnica, usa algo de diferente, também tem um divã, tem alguma técnica misteriosa? Não, nada disso.

A Logoterapia baseia-se na premissa de que cada um de nós precisa encontrar o sentido para a sua vida e isso ajuda a pessoa a viver bem o aqui e agora, em paz com o seu passado e a ter um olhar de esperança no futuro.

Neste sentido, a Logoterapia utiliza muito o confronto da pessoa com ela mesma e leva a pessoa a questionar-se a si própria e devolve-lhe as suas preocupações e questões. Isto é, temos pessoas que pensam demais sobre si, os seus pensamentos, sentimentos, vontades, necessidades, dores e, portanto, fazem uma hiper-reflexão. Por exemplo, pessoas que ficam muito focadas em determinados pensamentos que assolam a mente e não conseguem livrar-se deles, ao ponto em que se tornam obsessivos, invasivos e perturbam o seu bem-estar. Nestes casos, há a necessidade de utilizarmos uma técnica que se chama de-reflexão, que consiste em levar a pessoa a não pensar em demasia naquela situação, bem como a intenção paradoxal, que tem por fim levar a pessoa a fazer ou desejar que aconteça o que ela mesma teme: “um sintoma evoca a fobia, e a fobia, por sua vez, passa a provocar o sintoma; a ocorrência do sintoma, a partir da fobia, logo passa a reforçá-la. O paciente vê-se preso num casulo, já que um mecanismo de feedback se estabelece.[1]” Claro que há situações onde a farmacoterapia precisa de ser aplicada, também. Mas o que a intenção paradoxal quer dizer é que quando passamos a desejar que aconteça o que tememos, estamos a dizer ao nosso corpo que não há problema que aquilo aconteça e, por isso, as defesas baixam e, efetivamente o corpo deixa de ter essa reação, a ansiedade antecipatória perde força. Por exemplo, já não vamos tremer a voz em frente a uma plateia, já não vamos vomitar no meio de uma multidão, etc.

Existe um pormenor muito importante a ser utilizado junto com a técnica da intenção paradoxal, que é o humor. Esta técnica necessita ser formulada sempre com uma boa dose de humor, pois este ajuda o homem a criar uma perspetiva, a colocar uma distância entre si e o que quer que lhe aconteça, bem como a tomar posse de si, aumenta a sensação de controlo do que lhe acontece, por exemplo “Hoje vou transpirar tanto, em frente à plateia que me espera, que vão correr litros de água e vou ficar encharcadíssimo, vai ser um espetáculo digno de se ver!”.

Outras duas técnicas, já falamos há umas semanas, e, por isso vou tocar ao de leve nelas, que são o autodistanciamento e a autotranscendência. O primeiro remete-nos para a capacidade de nos distanciarmos de nós mesmos e conseguirmos ver em perspectiva o que nos está a acontecer, a situação em que nos encontramos, portanto, ver outros lados da mesma situação e, dessa forma, alargarmos o nosso campo de visão, para não ficarmos focados, somente, num aspeto, mas ver o todo, ver mais além, e conseguirmos perceber um sentido para aquela situação.

A segunda, a autotranscendência leva-nos a deslocar o pensamento de nós para o outro, isto é, não ficar focado só em mim, no meu mundo, na minha triste situação, sofrimento (que não me ajuda a viver), mas a olhar à minha volta e ver que existem outras pessoas que necessitam de mim, da minha ajuda, apoio, orientação e dedicar-me a elas, pode ser através de um voluntariado, apoiar alguma causa, associação, entregar-me a ajudar os meus filhos, netos, sobrinhos, entre outras situações que estejam ao meu redor.

Como vemos a Logoterapia utiliza-se de diferentes técnicas consoante as situações, mas todas têm o mesmo objetivo trazer alívio à pessoa, mudança de perspetiva e levar a pessoa a encontrar um sentido para o que vive.

 

[1] Frankl, V. (2011). A vontade de sentido. 1ª edição, Paulus, São Paulo, Brasil.

 

 

Marta Faustino