Como esperar aquele que já veio? O Advento é inaugurado com leituras que nos põem em caminho: com Jeremias recordamos a promessa que Deus nos faz de um rebento na terra que exercerá o direito e a justiça; o salmista repetidamente pede que o Senhor nos mostre o seu caminho; e Paulo centra o nosso coração no grande tema da conversão cristã, o amor, entre crentes, de uns pelos outros, e por todos os que nos rodeiam. Mas se Jesus já chegou, de que estamos à espera? Esperamos a nossa própria adesão ao Verbo que se fez carne, uma adesão se quer cada vez mais íntima e mais real.
1ª Leitura: Livro de Jeremias 33, 14-16 — “ Farei germinar para David um rebento de justiça”
Salmo 24(25) — “Para Vós, Senhor, elevo a minha alma”
2ª Leitura: Primeira Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses 3, 12—4,2 — “O Senhor confirme os vossos corações no dia de Cristo”
Evangelho: São Lucas 21, 25-28.34-36 — “A vossa libertação está próxima”
É Lucas que vem em nosso auxílio no Evangelho de hoje. É ele quem nos abre este mistério, com esta ponte que a Igreja nos propõe entre a encarnação do Filho e o fim dos tempos. Num primeiro momento, tal pode parecer-nos estranho, mas tão somente porque demasiadas vezes reduzimos os dias prévios ao Natal nem tempo de simpatia casual, que culmina em jantares, e nas já mecânicas – e por vezes ocas – trocas de prendas.
O Advento é tempo de ponderar o acolhimento de Cristo nas nossas vidas e o dilema que este traz: adiro à fragilidade do poder de Deus, que nasce pobre entre os pobres, e faço, com Paulo, do amor a opção radical, fundante, da minha vida? Ou viverei guiado pelos meus apetites, pelos meus pequenos interesses, pelos meus “estados de alma”, por passageiros e fugazes amores? Esta é a decisão a tomar, que está diante de nós e que é o combate espiritual a travar.
Neste tempo de Advento que hoje começa, enchamos os nossos corações de bondade, enfeitemos os presentes que com amor sincero oferecemos e preparemo-nos para acudir e aliviar o sofrimento dos que pouco ou nada têm. Mas, principalmente, busquemos este rebento que germina da terra para que ele nos mostre o caminho do amor, um amor que nos permite viver da misericórdia e fidelidade de Deus. Este é um amor que cresce, lenta e intimamente, em santidade, uma santidade que é uma luz que não ofusca, mas que ilumina. Uma luz que é frágil, uma luz que é um Menino, uma luz que é Jesus, o Filho de Deus, que quando reina nos corações é mais poderoso que todos os impérios da terra. Vigiai, orai e amai, para que Jesus nasça.
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