Raízes e asas: educar para a liberdade

Educar é das tarefas mais difíceis que temos de realizar. Primeiro, porque os filhos não trazem um manual de instruções, segundo porque existem muitas pessoas cheias de opinião e de “razão” e terceiro porque cada criança é um mundo peculiar, onde desbravamos caminho a cada dia.

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A educação dos filhos é o grande projeto da nossa vida de pais, pois é onde temos de colocar o nosso maior investimento de tempo, amor, sabedoria, paciência. Por conseguinte, é, igualmente, o projeto que mais nos realiza, dá satisfação e alegrias. Educar é uma arte e exige muito de cada um dos pais. Penso que o maior desafio na educação é conseguir educar com sentido, isto é educar com amor, limites e educar para a liberdade.

Certa vez ouvi uma palestra de uma terapeuta familiar, cheia de sabedoria (já era avó) que disse o seguinte “O que podemos dar, de melhor, aos nossos filhos é: raízes e asas”. Achei brilhante!

Realmente, podemos oferecer-lhes um quarto repleto de brinquedos, uma assinatura de um serviço streaming para verem filmes e séries, uma liberdade total, entre tantas outras coisas, mas nada disso é educar e não os vai satisfazer.

As crianças necessitam sentir-se amadas e seguras. Quando um bebé se sente seguro ele consegue sair da proteção das “saias da mãe” e explorar o mundo que o rodeia, porque ele sabe que por mais longe que vá, mesmo deixando de ver a mãe, ela estará lá, para quando ele regressar, ele tem essa certeza. Os pais precisam ter tempo de qualidade com os seus filhos, para gerarem vínculos securizantes.

Criar raízes é dar sentido a esse tempo que se tem com eles, onde se exploram brincadeiras, geram cumplicidade, vivem aventuras e traquinices. Mas, mais ainda, é criar tradições de família. As rotinas, os hábitos são muito importantes, pois dão, igualmente, segurança, estabilidade, são previsíveis. Cada família tem os seus, mas por exemplo: saber que sábado à tarde é tempo de fazer um bolo juntos, ou passear; domingo é o dia de visitar os avós; quando alguém faz anos vamos à cama cantar os parabéns, etc.

Esse tempo de qualidade que os pais estão com os filhos é a chave, igualmente, para o desenvolvimento emocional dos pequenos. Precisamos aproveitar cada momento do dia-a-dia para validar as suas emoções, ajudá-los a dar nome aos seus sentimentos e ensiná-los a gerir essas emoções dentro deles. Aceitar as suas emoções não é o mesmo que validar os seus comportamentos. Por exemplo, aceitar a raiva do meu filho, não é igual a permitir que ele revire o quarto todo para extravasar a raiva. Este momento é crucial para o conduzir ao entendimento da sua responsabilidade, perante as suas ações. Se aceitarmos todas as reações dos nossos filhos como corretas, não iremos ensiná-los a gerir as suas emoções nos momentos difíceis e eles tenderão sempre a reagir no impulso, o que lhes trará dificuldades nas interações sociais. Pelo contrário, se os castrarmos perante todas as emoções, por exemplo “Não tens razão para estar triste!”, eles vão acabar por reprimir as suas emoções e vão tornar-se inseguros.

Temos, portanto, de encontrar o equilíbrio aceitando as emoções dos nossos filhos e limitando as suas ações. Desta forma, ensinamos-lhes que as suas emoções fazem parte da experiência humana, mas que eles são responsáveis pelas reações perante essas emoções, e pelos efeitos dessas reações neles mesmos e nos outros ao seu redor.

No entanto, os filhos não vão ficar para sempre debaixo da nossa “asa”, temos de os preparar para a autonomia. Precisamos dar-lhes asas para eles, aos poucos, irem voando, primeiro com a nossa orientação e depois sozinhos.

Dar asas é dar liberdade e responsabilidade. Dar asas é, por exemplo, criar uma rotina em casa, onde cada um tem a sua tarefa para realizar e caso não a faça, tem consequências que terá de ser responsabilizado por isso.

A grande questão da educação é o equilíbrio entre um e outro, isto é criar raízes, mas dar asas. Os nossos filhos têm de se sentir amados incondicionalmente por nós, com a certeza de que estaremos sempre lá para os amparar, saberem quem são e o potencial que têm, mas seguros o suficiente para darem passos por si mesmos e alcançarem os ramos mais altos, sem medo de cair.