O que significa personalidade? A palavra deriva do grego “personare”, que quer dizer cara/rosto/máscara, era a máscara que os atores usavam no mundo greco-romano. Esta etimologia aponta para uma característica da personalidade, algo que é visível. Se formos ao latim, verificamos que deriva da expressão “per se unum”, que é algo único, peculiar, original, portanto a essência da pessoa, algo que não é visível.
Podemos, então, juntar estes significados e concluir que a personalidade engloba a essência de cada um, que é única e expressa-se num corpo, num rosto, que é visível aos outros. A personalidade revela-se no rosto, que é o espelho da alma, desta forma o rosto exprime os processos interiores e reflete o que se passa na nossa intimidade.
Ao analisarmos a personalidade, depreendemos que esta engloba o carácter e o temperamento. O carácter é a parte adquirida, que se vai formando ao longo da vida, devido às influências psicológicas, sociais e culturais, são as experiências do percurso de vida que nos vão moldando a forma de ser, responder, reagir. Já o temperamento é a parte herdada, diretamente relacionada com padrões de comportamento hereditários, portanto de raiz neurobiológica. Desta forma, eu posso herdar um traço depressivo forte, mas ter vivências e influências tão agradáveis e um suporte, das figuras de referência, tão grande que esse traço se ameniza.
O temperamento é, portanto, a nossa carga genética e isso explica o facto de existirem famílias onde reina mais a cólera, outras são mais pacíficas, outras, ainda, mais introvertidas e fechadas em si mesmas. No entanto, não somos fotocópias uns dos outros, porque temos, igualmente, a outra parte (caracter) que se vai moldando às vivências.
Hipócrates, o pai da medicina, elaborou uma teoria sobre os diversos tipos de temperamentos das pessoas, tendo em conta o domínio dos fluidos corporais (1). Segundo ele temos 4 fluidos corporais a que correspondem os 4 tipos de temperamento: sangue (sanguíneo), linfa ou fleuma (fleumático), bilis (colérico) e bilis negra (melancólico). Vamos conhecer um pouco de cada um e tentar perceber com qual me identifico mais:
Sanguíneo: de natureza extrovertida, optimista, expansivo e impulsivo. É bom falante, sabe defender-se e cativa com o seu discurso eloquente e envolvente, mesmo de improviso. Contudo, pode ser considerado antipático por falar em demasia (o silêncio incomoda-o) e centrar o discurso em si mesmo, visto que o que tem é sempre o melhor. É uma pessoa muito generosa, mas devido à insegurança, pode fazer atos para benefício próprio. Parece ser uma pessoa forte, segura e determinada, no entanto é altamente influenciável e necessita da apreciação dos demais, neste sentido, pode agir de forma diferente consoante o grupo de pessoas onde está inserido.
Fleumático: de natureza tranquila, descontraída, simpático, responsável e digno de confiança, neste sentido são pessoas de trato fácil e agradáveis ao convívio social. São pessoas práticas e eficientes, portanto conseguem assumir responsabilidades e corresponder à sua exigência, são pacificadores e não criam atritos, desta forma, tornam-se bons líderes. Contudo, necessitam de motivação externa, podem desmotivar se não se sentirem amparados, tornando-se extremamente indecisos e temerosos. Podem, ainda, esconder as suas belas qualidades na sua grande introversão.
Colérico: capacidade natural de liderança, muito prático, decidido e bastante ativo. Consegue obter sucesso onde os outros fracassam devido à sua persistência e resiliência. A sua veia optimista contagia os que o rodeiam e consegue estimular todos à sua volta. É muito ativo, inteligente e está sempre a pensar em algo para fazer, como superar determinado obstáculo. Tem tendência a ser insensível, chega à ira facilmente e por vezes, pode tornar-se agressivo em gestos ou palavras. É muito auto-suficiente, orgulhoso, impaciente e rancoroso, o que o faz alcançar objetivos que a outros são impossíveis, motiva-se a si mesmo e trabalha muito bem sob pressão.
Melancólico: grande sensibilidade artística, que se reflete no seu humor vacilante. É um amigo leal e observador e que se doa nas suas amizades. Tudo o que faz é belo, com alto padrão de qualidade, cuidado e esmero, devido ao seu perfecionismo. Contudo, esta perfeição também é sua inimiga, pois a necessidade de entregar, sempre, algo excelente e digno de mérito faz com que peça adiamento de datas e/ou sofra, interiormente, para atingir essas metas. Embora tudo o que faça seja excelente, ele convive com um grande complexo de inferioridade e nunca se acha pronto para a tarefa que tem em mãos. Consegue sacrificar-se por aquilo em que acredita, “vestir a camisola”, dedicando-se ao seu objetivo.
Conseguiu identificar-se com algum destes temperamentos? Como é importante o nosso conhecimento em profundidade, aceitar quem somos, identificar os pontos fortes e perceber onde melhorar. Estamos em constante mudança e o que somos hoje, não é, necessariamente, o que seremos amanhã. Estamos sempre a tempo de recomeçar e aperfeiçoar, contando, sempre, com a graça de Deus sobre nós que nos acolhe, perdoa e incentiva à mudança.
(1) Atualmente, temos outras formas de classificar a personalidade (em psicologia temos vários testes que aprofundam esta questão), contudo esta é muito fácil de compreender, é acessível a qualquer pessoa e pode fazer, facilmente, o teste (encontra-o disponível na internet).
- Primeiro dia do funeral marcado pela trasladação do corpo de Bento XVI para a Basílica de S. Pedro - 3 de Janeiro, 2023
- Legado teológico de Bento XVI está a ser traduzido para português - 3 de Janeiro, 2023
- Canonista explica protocolo do funeral de Bento XVI - 2 de Janeiro, 2023