O monge beneditino e poeta místico.
Origens: Bernardo Vaz Teixeira de Vasconcelos, filho de Manuel Joaquim da Cunha Maia Teixeira de Vasconcelos e de D. Filomena da Conceição Vaz Lobo, foi o sétimo de oito irmãos. Nasceu no dia 7 de julho de 1902 na paróquia de S. Romão do Corgo, Celorico de Basto. Esta povoação fica situada no extremo da verde província do Minho, na passagem para o Douro e Trás-os-Montes, marcada pela ruralidade, interioridade e pelo isolamento.
Bernardo foi batizado no dia 5 de agosto do mesmo ano, na igreja paroquial da sua terra de origem. Nasceu no seio de uma família profundamente cristã de quem recebeu o ensino dos princípios morais e éticos mas sobretudo o exemplo de uma fé profunda. Desde os primeiros meses que mostrou uma saúde muito débil, debilidade que se iria manifestar, ao longo dos quase trinta anos de vida, de muitas e variadas formas. A sua infância foi como a de qualquer criança da sua aldeia: brincou, foi à escola, cresceu em idade e sabedoria “diante de Deus e dos homens”! Mas desde pequenino que se revelou uma criança dócil, meiga, inteligente, piedosa, amiga de todos e com uma sensibilidade muito forte para com os pobres.
Sua estadia em Coimbra: Depois de passar quase 5 anos no colégio de Lamego, para os estudos secundários, vai para Coimbra. Bernardo de Vasconcelos vai viver em Coimbra por um período de cerca de 4 anos, não consecutivos, entre outubro de 1918 a outubro de 1920 e outubro de 1922 e maio de 1924. Coimbra foi a cidade que o acolheu para a sua formação académica, mas, por desígnios de Deus, vai ser a cidade de todas as suas decisões e crescimento humano, intelectual, moral e religioso. Vai ser aí que vai tomar a grande decisão da sua vida: ser monge beneditino.
Sua estadia no Porto: Podemos dizer que o primeiro período da sua formação na cidade dos estudantes não teria atingido os seus objectivos. Faz uma paragem com mudança para a cidade do Porto onde viveu desde outubro de 1920 até ao verão de 1922. Na cidade Invicta frequentou um Curso Comercial e trabalhou no Banco do Espírito Santo. Sempre numa ânsia de servir a Deus e aos irmãos, colaborou na ajuda aos pobres e, ajudado pelo P. José Lourenço, (O.P.) colabora, com as suas primeiras poesias, nas Flores Espirituais. Entra na Congregação dos Filhos de Maria do Carmo.
A escola do C.A.D.C.: O C.A.D.C., Centro Académico da Democracia Cristã, tinha como objectivo tentar recristianizar o ambiente universitário coimbrão e, através dele, a sociedade portuguesa. Em 1922, é lançada a revista Estudos que se publicará ininterruptamente até 1970. 14 de março de 1920 – Filia-se no Centro Académico da Democracia Cristã (C.A.D.C.) com o número 398. Com a sua ida para o Porto interrompe a sua participação no C.A.D.C. Regressado a Coimbra em outubro de 1922 retoma a sua participação nesta instituição. O seu empenho e entusiasmo é tal que a 3 de maio de 1923 foi nomeado secretário da Redação da revista Estudos, do C.A.D.C. e a 27 de maio de 1923 foi nomeado vice-presidente da Direção do C.A.D.C. com José Augusto Vaz Pinto, na Presidência. Estas duas funções revelam muito bem a participação frutífera de Bernardo nesta Associação Académica. Podemos dizer que o C.A.D.C foi como uma “oficina” onde Bernardo de Vasconcelos se deixou formar e colaborou na formação de centenas de Associados.
Foi uma escola onde as suas responsabilidades o obrigaram a um estudo aprofundado da doutrina da Igreja. A sua conferência, pronunciada no C. A.D. C., com o título “O Ideal Cristão” revela os seus conhecimentos bíblicos, teológicos e místicos.
O Bernardo Apóstolo na universidade: O Bernardo em tudo o que fazia tinha apenas uma preocupação: que Deus fosse conhecido e amado. Nada fazia, desde uma simples poesia, até ao trabalho mais árduo e longo que não fosse dar glória a Deus e que os seus companheiros sentissem o mesmo. Salvar almas era o ideal que movia as suas energias físicas, espirituais e intelectuais. A atestar isto que acabo de dizer é de referir não só o seu empenho, como já ficou dito acima no C.A.D.C., mas a inscrição, a 21 de janeiro de 1923, na Conferência de S. Vicente de Paulo, da Faculdade de Direito, onde dois meses depois é nomeado vice-presidente; a criação , por sua iniciativa, da Liga Eucarística para estudantes universitários; a sua participação, como maqueiro, numa peregrinação nacional a Lourdes, em setembro de 1923, onde a sua ajuda aos doentes foi um testemunho extraordinário de carinho e afabilidade.
O Bernardo escritor: Bernardo de Vasconcelos evangelizou não apenas com as suas actividades apostólicas, acima referidas, mas dentro do claustro (1924-1932) , já sem grande contacto com o mundo, foi o seu tempo de mais profunda evangelização: 1-através da Oblação da sua vida; 2-pela oferenda dos seus muitos sofrimentos pela Igreja em geral e pela reforma da Ordem Beneditina em particular; 3- pela escrita. Bernardo de Vasconcelos nunca teve o intuito de ser um escritor mas a sua vida de recolhimento levou-o a que pusesse por escrito as suas reflexões e conhecimentos. Os livros que lhe são atribuídos são oito: “Do Ideal Cristão”- 1924; “A Vida na Paz” 1927 -tradução de uma obra de D. Idesbald; “A Vida de S. Bento Contada às Almas Simples”- 1930; “Cântico de Amor”- 1932, obra que acabou de ser impressa dias antes da sua morte e que ele muito ansiava por ter em suas mãos mas foi posta no correio no dia em que faleceu. Esta é a obra literária mais conhecida e que revela o Bernardo como poeta místico. É uma obra composta por 32 poemas escritos entre 1920-1932. Dois anos após a sua morte, 1934, aparece a “Vida de Amor” uma espécie de autobiografia uma vez que o seu conteúdo é tirado das várias centenas de cartas que escreveu. “As Nossas Festas” – 1934 que é uma compilação de artigos que foram publicados da Revista “Opus Dei”; “Poesias Dispersas” – 1935 que é uma recolha de outros poemas que Bernardo de Vasconcelos escreveu e que o P. Luís Cabral (S. J.) levou a efeito; “A Missa e a Vida Interior” – 1936 coleção de artigos de Bernardo de Vasconcelos sobre a Eucaristia e publicados da Revista “Opus Dei”.
Bernardo, de monge ao Céu: Bernardo de Vasconcelos foi-se deixando moldar pela palavra de Deus. Ansiava vivamente fazer, só e em tudo, a vontade do Senhor. Escolheu como meio o caminho da renúncia, renúncia a tudo que o pudesse desviar deste ideal.
Um momento determinante para o seu amadurecimento espiritual foi o retiro em que participou de 11-13 de fevereiro de 1923 no Luso, retiro orientado pelos padres da Companhia de Jesus. Bernardo não pensava ser padre nem religioso. Alimentou vivamente a ideia do casamento. Deus é sempre surpreendente nos seus caminhos.
No dia 10 de Novembro de 1923, teve o primeiro encontro com o Dr. Manuel Gonçalves Cerejeira sobre a vocação sacerdotal. Em 10 de fevereiro de 1924, recebeu das mãos do Dr. Pereira dos Reis o escapulário de Oblato beneditino. O assistente do C.A.D.C era o P. Luiz Lopes de Melo que o incentivou não apenas a ser sacerdote mas a ser religioso e religioso beneditino. Então toma conhecimento com D. António Coelho O.S. B. que foi para Bernardo como um verdadeiro pai, amigo, mestre e apoio de todas as horas. Então começa o seu caminho como monge:
No dia 15 de Agosto de 1924 (sexta-feira), Assunção de Nossa Senhora, deixa a sua família e a sua terra definitivamente. No dia 16 do mesmo mês, inicia o postulantado no Priorado de Singeverga. No dia 11 de setembro deste mesmo ano, partiu para Samos, Galiza, onde fez o noviciado. A 24 de setembro, do mesmo ano, recebe o hábito beneditino, na Abadia de Samos, e toma o nome de Frei Bernardo da Anunciada.
Em 11 de outubro de 1924 (sábado), foi realizada a consagração da sua cela a Nossa Senhora. A 8 de Dezembro de 1924, fez o voto de castidade, por vontade própria e obediência ao pai espiritual. A 29 de setembro de 1925, no mosteiro beneditino de Samos, profissão de votos simples como monge do mosteiro de Singeverga. No dia 7 de julho de 1926, regressa a Portugal. A 20 de setembro desse mesmo ano, é-lhe diagnosticada a doença que o vitimou: Mal de Pott! No dia 26 do mesmo mês e ano, partiu para a Bélgica a fim de começar os estudos de Teologia na abadia de Mont-César-Lovaina. Infelizmente, a doença agrava-se e não pode prosseguir os estudos e no dia 3 de novembro desse ano regressa a Portugal. Então tem início o seu calvário de cerca de seis anos com a presença de alguns períodos na Comunidade, então instalada na Falperra-Braga, e a maior parte do tempo nos hospitais e casas particulares do Porto e Póvoa de Varzim.
O seu grande desejo era ser sacerdote e, por isso, no dia 6 de janeiro de 1928, recebeu, das mãos de D. Manuel Vieira de Matos, a Prima Tonsura, no Seminário de S. Barnabé, em Braga.
A sua Profissão Solene foi realizada na Igreja de S. José de Ribamar-Póvoa de Varzim, no dia 29 de setembro de 1928.
No desejo de chegar ao sacerdócio, nos dias 5 e 6 de fevereiro de 1929, recebe das mãos de D. António de Castro Meireles as Ordens Menores na capela do Paço da Torre da Marca, no Porto. Na busca e ânsia de ser curado participa, em agosto de 1929, numa peregrinação para doentes ao Sameiro, ato que já tinha realizado a Fátima a 13 de maio do ano anterior.
A 23 de abril de 1932, recebe o sacramento da Santa Unção pelas mãos de D. António Coelho diante do qual renovou a sua profissão religiosa.
No dia 3 de julho, sai a sua primeira obra literária – Cântico de Amor- que ele tanto sonhou e se esforçou para ter em suas mãos, mas que não chegou a tempo pois a morte surpreende-o na madrugada do dia 4 de julho, na Foz do Douro, Rua S. Bartolomeu, nº29. Após as exéquias, na Igreja beneditina da Foz do Douro, foi provisoriamente a sepultar no cemitério local.
A 5 de Setembro de 1932 foi trasladado para o cemitério de Molares, Celorico de Basto, depositado no jazigo do P. Francisco Almeida Barreto, amigo da família.
Em 4 de julho de 1933, os restos mortais foram trasladados para a igreja de S. Romão do Corgo.
Em 4 de julho de 1982 foi fundado o Boletim Frei Bernardo.
Em 4 de julho de 1983 teve lugar a Abertura da fase diocesana do processo de beatificação e canonização, na Casa Episcopal de Braga.
A 9 de outubro de 1987 deu-se a Conclusão da fase diocesana do referido processo.
A 25 de março de 2005 foram entregues na Congregação para as Causa dos Santos, em Roma, dois volumes com o processo de beatificação/canonização.
O Papa Francisco, no dia 14 do mês de Junho de 2016, aprovou e assinou o decreto que oficialmente declara Frei Bernardo «Venerável»
P. José Granja (O.S.B) Vice-Postulador
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