Estamos no início de um tempo proposto pela Igreja, aliás, é uma proposta anual e desafiante. E é neste início que eu devo perguntar-me: Que caminho eu escolho percorrer?
Escolho deixar-me engolir pelo ritmo frenético da vida, engolido pela agitação dos dias e deixo-me, mais um ano, passar por este tempo sem parar, sem rezar, sem buscar interioridade? Ou responsabilizado pelo meu caminho de conversão pessoal e crescimento espiritual, escolho buscar o meu cantinho sem ninguém, ouvir a Deus e mudar velhas atitudes que não constroem o Reino de Deus nem em mim nem à minha volta?
Este tempo não é um ‘tempo comum’, em que somos convidados a viver a santidade no ordinário da vida, mas um tempo de interioridade, de reflexão, que precisa de nos conduzir a uma mudança de rumos, que precisa de nos levar a uma ascese espiritual, para vivermos ainda melhor a exigência da santidade ordinária que virá a seguir.
Meu querido irmão, assim como o seu, o meu dia parece-me curto para todas as coisas que preciso de realizar, portanto, eu compreendo bem o tamanho do desafio que tem para buscar o silêncio e a reflexão, mas posso dizer-lhe sem medo: é possível.
Nosso Pai-fundador, Mons. Jonas Abib, ensina-nos que somos contemplativos na ação, vendo a ação de Deus no meio das realidades quotidianas, a Sua presença e os Seus sinais, mas também aprendemos que é preciso cavar tempo para rezar, buscar as oportunidades de estar com Deus a sós, e contemplar a Sua ação em nós.
É claro que você reza ao ritmo da vida, mas será que não consegue parar um pouco todos os dias para se dedicar à oração? Parar durante uma hora, parar por trinta minutos ou até mesmo só quinze minutos, para refletir um pouco sobre as propostas deste tempo? Parar e meditar a Palavra de Deus proposta pela liturgia? Parar e fazer o seu exame de consciência, apontar os seus pecados e fazer uma boa confissão, onde você se acuse e não se justifique? Será que não é possível organizar-se para um retiro? Talvez um mini retiro: uma manhã ou uma tarde diante de Jesus, acompanhado de uma boa leitura espiritual, mesmo que não seja um período, que seja ao menos algumas horas.
Meu irmão, não passe mais um ano por este tempo desatento, assoberbado pelas atividades do dia-a-dia, mas percorra este caminho com uma “determinada decisão” de buscar tempo de penitência, silêncio e oração, que gere frutos de conversão verdadeiros e concretos no ordinário da vida.
Lembre-se: os 40 dias de Quaresma não são a meta, são o caminho, a meta é estar preparado para viver o ato central da nossa fé, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, o Tríduo Pascal de onde emana toda a nossa vida cristã, portanto, escolher percorrer bem este caminho é mergulhar no Tríduo Pascal com o coração aberto a Cristo e a vida nova que Ele nos trouxe.
Meu amado irmão em Cristo, desejo-lhe uma boa Quaresma e uma santa Páscoa.
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