O matrimónio é uma vocação muito bela e repleta dos seus desafios. Enquanto vocação, o relacionamento conjugal é uma pedra preciosa que nos liga mais a Deus e nos indica o caminho do Céu. No entanto, tal como as pedras preciosas, ele necessita passar pelo seu processo.
Uma simples pesquisa mostra que os diamantes, considerados as mais belas e raras pedras preciosas, são feitos de carbono e não se formam na crosta terrestre (mais na superfície da Terra), mas sim no manto (um oceano subterrâneo de magma) e são o resultado da pressão e da temperatura altíssima do manto, capazes de liquefazer rochas (torná-las líquidas).
Este paralelismo é ótimo! Reparemos, o matrimónio é feito do profundo relacionamento entre homem e mulher, é a entrega de cada um, da sua intimidade, dos seus medos, sonhos, desejos, portanto a relação de mais profundidade e intimidade que teremos. É a unidade homem e mulher, com toda a sua complementaridade. E, assim, como o diamante, o matrimónio é recheado de pressões e altas temperaturas que vão desde as contas para pagar no final do mês; os filhos e a educação; as divergências de pensamento entre o casal; as famílias do cônjuge e as suas tradições; o que a sociedade espera de nós como pais; conciliar o trabalho e a família; discussões acesas; comportamentos que nos irritam no cônjuge; atitudes que nos fazem pensar que estávamos tão bem solteiros; a um grande sentimento de incompreensão ou mesmo traição.
Estas pressões podem conduzir a um afastamento ou rutura. Mas, excetuando casos de gravidade e violência, com diálogo, Fé e orientação pode ser feito um caminho novo, um recomeço. Onde o casal é conduzido a regressar às raízes e retornar ao estado líquido para se fundir de novo e gerar algo melhor, o PERDÃO.
Saber perdoar é reconhecer que o outro erra, é limitado, mas igualmente, descobrir em mim a caridade, a misericórdia, o amor que tudo suporta, tudo crê, tudo espera em Deus. De acordo com Kristina Gordon e Donald Baucon (1998), o processo do perdão na relação conjugal implica 3 estádios:
1) Impacto: desorientação emocional e cognitiva, devido à diferença entre o comportamento ofensivo do cônjuge e as expetativas e ideias que alimentava em relação a ele e à relação de ambos. Sente-se enganado, ofendido e tem dificuldade em voltar a confiar no cônjuge. Há uma diminuição da auto-estima que está associada ao não se sentir valorizado, estimado pelo cônjuge ou resulta dum sentimento de vergonha e culpa por se sentir “fraco” e “estúpido”. Há uma tendência para a pessoa ferida querer o máximo de detalhes possível, de forma a readquirir um certo equilíbrio cognitivo.
2) Demanda do significado: depois da confusão inicial, tenta compreender o motivo. Conhecer o contexto em que a ofensa ocorreu. O remorso do cônjuge, as interações que vão tendo e o tempo, vão permitir que a pessoa tenha uma noção mais clara do acontecimento e readquira maior controlo nas suas emoções.
3) Superação: depois da pessoa iniciar uma reelaboração cognitiva, isto é conseguir distanciar-se da ofensa e começar a conseguir colocar-se do lugar do outro. Isto não retira a culpa do ofensor, mas ajuda-o a não se focar só no mal que fez, mas no bem que pode fazer em conjunto com o ofendido.
Para percorrer este caminho pode ser necessário ajuda especializada (psicólogo ou terapeuta familiar), e/ou um caminho de direção espiritual com um Padre de confiança. Posteriormente, tenho certeza que não serão mais os mesmos e que se conhecem muito mais, estão mais ligados um ao outro e mais perto de fazerem do vosso matrimónio essa “pedra preciosa que nos liga mais a Deus e nos indica o caminho do Céu”.
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