A educação começa em casa e é aí que as bases devem ser alicerçadas. Cada família tem os seus princípios e valores regentes, bem como as suas tradições e é no meio desse legado, que tudo o resto se vai processar.
O pai e a mãe vão transmitir o que trazem com eles e cada um tem a sua bagagem. Não é por acaso que a educação dos filhos é dos temas que mais discussão traz ao casal, porque cada um teve a sua educação particular e sobre o mesmo comportamento/situação pensam e agem de forma diferente.
O diálogo é fundamental no casal, visto ser necessário estabelecer regras e limites comuns e que ambos concordem. Se um casal, à frente dos filhos vacila, pronto, já perdeu a batalha. As crianças são astutas, os adolescentes mestres na manipulação a seu favor, portanto ou os pais estão unidos e mostram que têm a mesma visão ou irá haver muitas guerras.
Todas as crianças aprendem por imitação e, nos seus primeiros anos de vida, elas são autênticas máquinas fotográficas, que captam os nossos gestos, palavras, expressões, comportamentos e reproduzem. Quando menos esperamos vemos o nosso filho a ter um comportamento, que parecemos mesmo nós, e nem sempre é um comportamento que nos orgulhamos. Portanto, os pais precisam redobrar a atenção às suas atitudes, posturas, respostas, por forma a serem o mais assertivo possível.
Os adolescentes são muito sensíveis à coerência. Se eu estabeleço regras em casa, mas não as cumpro, eles reagem logo. Por exemplo, se não quero que eles estejam sempre ao telemóvel, mas eu estou; não quero que vejam televisão no horário das refeições, mas eu vejo; não quero que gritem, mas eu grito. Entre tantos outros exemplos. Tenho que cuidar mais do meu discurso, ponderar bem as minhas ideias, partilhar com o esposo e depois comunicar.
“Educar não é só clarificar ideias” refere Luigi Giussani, no seu livro Educar é um Risco. Isto é, educar é como construir uma casa, precisa colocar, em primeiro lugar, os alicerces, num local bem estável e só depois fazer a casa, começando por baixo até ao topo, fazer a estrutura e só depois os acabamentos.
Na educação, também, temos de dar as bases sólidas do amor e segurança, depois colocar os limites e ir orientado a criança, adolescente nos seus comportamentos e tomadas de decisão, mas sempre fundamentando e explicando o porquê dessas escolhas. Em simultâneo, educamos para a liberdade e responsabilidade. Portanto, desde cedo, entendem que cada ato tem uma consequência. Posteriormente, estão aptos a decidirem por eles mesmos.
O grande desafio dos pais, hoje em dia, na educação dos filhos, prende-se com a sua própria liberdade em educar conforme estes pontos que referi: as tradições familiares; seus princípios, valores e crenças; aprendizagem por modelagem; coerência entre o que aprendem em casa e o que lhes é ensinado fora; educar para a liberdade e responsabilidade.
Antigamente as crianças eram educadas pelos seus pais, avós, tios, primos, tios-avós, padrinhos, desta forma, as tradições familiares, seus valores, princípios e crenças eram mantidas no seu dia-a-dia, fortalecidas pelas diversas experiências e vivências pessoais e sociais.
Atualmente, as crianças são educadas pelos pais, pela escola, pela televisão, internet, portanto, em muitas situações, ocorre um choque, diferenças e divergências de pensamento e as crianças ficam desorientadas, indecisas e a pender para a pressão e influência social (seja para o positivo ou para o negativo).
Neste sentido, nós pais precisamos ser sábios e aproveitar bem os primeiros anos de vida dos nossos filhos, para lhes transmitir, em primeiro lugar, muito amor e segurança. Por um lado, amor, para que eles se sintam desejados, amados, queridos por nós, e sintam que são especiais e iniciem o belo caminho do autoconhecimento, sempre plasmado em Deus, nosso Criador, e incentivá-los a descobrir a bela pedra preciosa que têm dentro de si. Por outro lado, segurança em nós e no ambiente familiar, para que se sintam sempre bem, confortáveis e acolhidos no seio familiar, seja para serem valorizados e aplaudidos, seja para serem reconfortados e incentivados, ou, ainda, para serem orientados e assumirem as suas fragilidades.
Em segundo lugar, os princípios, valores e crenças com que nos regemos e mostrar-lhes como esse caminho tem sentido para nós, como nos torna mais coerentes, nos dá sentido à vida, pois é através da nossa vivência e coerência de vida que eles vão interiorizando toda esta bagagem e ela vai ressoando dentro deles.
Em terceiro lugar, educar sempre para a liberdade. O Prof. Filipe Aquino, no seu livro “Educar pela conquista e pela fé” afirma que “educar é formar homens verdadeiramente livres. A liberdade é o maior dom que recebemos de Deus” e precisamos ensinar os nossos filhos a usá-la bem, para serem felizes. Mostrar aos nossos filhos como a vida não é feita de facilidades, mas de escolhas e cada decisão implica renunciar a outras possibilidades, arcando com as consequências das minhas escolhas, aceitando-as. Preciso lidar de forma coerente com a minha liberdade, isso é responsabilidade.
Se conseguirmos estes três passos, teremos sucesso na educação dos nossos filhos e superaremos esse grande desafio atual.
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