A Festa da Exaltação da Santa Cruz faz-nos contemplar o Crucificado na Sua prova máxima de amor. E é Ele que nos importa contemplar.
Foi na Cruz que nos deu a prova máxima do amor, morrendo por nós, resgatando-nos do mal e do pecado, libertando-nos do poder das trevas. Se o pecado entrou por causa da cobiça e do orgulho, do fruto da Árvore da Vida no paraíso, a redenção também nos veio pela Árvore da Cruz, onde Jesus Crucificado nos salva e nos liberta. Diante dos nossos sofrimentos e dos do mundo, só o Crucificado é a nossa solução de amor. Só Ele, perante a doença, a morte, as pandemias, as cruzes do quotidiano, será nossa solução, nossa força, nossa fonte de graça. “Nas vossas Cinco Chagas, escondei-nos”, “Água do lado de Cristo, lavai-nos”. É do Coração do Crucificado, dessa fonte divina, que nos vem a salvação e a graça.
Silêncio e Cruz duas realidades que se entrecruzam e nos podem dar matéria de reflexão e de crescimento espiritual. A cruz é o lugar do silêncio de quem sofre com amor e por amor e descobre a dimensão apostólica e sobrenatural do sofrimento. Aprender a sofrer em silêncio, amando a cruz que nos chega aos ombros e ao coração, para que o mundo tenha vida e a tenha em abundância. Sem masoquismo mas para imitar Jesus. Com amor a Ele e ao mundo, mergulhar o sofrimento no silêncio divino do amor. Enraizados em Jesus Crucificado, estaremos sempre a viver a Exaltação da Santa Cruz. Ele e nós exaltados nela e por ela elevarmos o mundo para o Pai. Só assim o mundo terá vida, paz, graça, santidade, felicidade. A ressurreição e os “aleluias” só se vivem depois da Sexta-Feira Santa. No silêncio do coração aceitar com amor a cruz de cada dia, vivermos nosso martírio branco como expressão do nosso amor. Estaremos a ser fecundos e a vida da graça a passar para os outros. Amar o mundo e conseguir descobrir caminhos de conversão, de mudança, de amor e de justiça. Só o amor do Crucificado nos poderá ajudar. A Cruz é caminho de vitória e de ressurreição.
Na Cruz de Jesus o Pai faz silêncio. Misterioso silêncio. Quase que nos “revolta” e nos coloca questões muito grandes. Mas Jesus que clama na Cruz e que reza aceita o silêncio do Pai e oferece-Se por amor e com toda a confiança: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. No silêncio da cruz, Jesus, em amor oblativo, dá-nos o testemunho eloquente da entrega, da oblação sem medida. Apresenta-Se como nosso modelo, mesmo quando o Pai guarda silêncio e parece não nos ouvir, não remediar nossas dores e não aliviar nossa cruz. Perceber o silêncio do Pai olhando o amor de Jesus e a Sua entrega em total generosidade. Com Ele colaboramos na redenção. E o Pai sofre connosco como sofreu unido à cruz, à dor, à morte do Filho bem-amado.
O silêncio dos que sofrem hoje a prisão, a doença, a perseguição, a morte, a injustiça, a calúnia, a exploração indigna, etc. é outro modo de perceber o silêncio de Jesus e do Pai. Multidões com fome, milhões a sofrer a droga, a sida, a cadeia, o desemprego, são “cristos” crucificados em silêncio, como Jesus Cristo, o Mártir do Gólgota. Crianças exploradas, idosos desprezados e humilhados, vítimas de violência doméstica, são continuadores da “paixão” de Cristo. Precisamos de ser a sua voz junto de Deus e perante o mundo, tantas vezes, cruel e injusto. Precisamos de os ajudar a lutar contra o poder do mal e do pecado. Precisamos de os mergulhar no Coração do Pai e nas Chagas de Cristo. O seu sofrimento tem de ser aproveitado e tornado colaborador da salvação do mundo. Como São Paulo devemos dizer: “o resto é lixo, a não ser Cristo e esse Crucificado”. A Cruz redentora é a nossa esperança e a nossa vitória. A Cruz não é desgraça, é salvação. A Cruz Exaltada é vitória sobre o mal e o pecado. Estarmos crucificados com Cristo é o nosso lugar.
Para o evangelista João, autor do quarto Evangelho, que não nos fala da Ascensão gloriosa, mas nos faz contemplar a crucifixão, e ouvir muitas palavras do Crucificado, a Cruz já é elevação gloriosa, porque feita e aceite com amor e por amor, como a maior prova de amor, até ao dom da vida. E só o amor salva e redime. Só o amor converte e liberta. Só o amor de Jesus, que tem sede de nós, pode polarizar o nosso coração e nos atrair a Ele. “Quando for elevado da terra atrairei todos a Mim”. A Cruz libertadora é a grande vitória. O Crucificado tem de ser a nossa paixão.
Padre Dário Pedroso
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