Ouvimos dizer, com frequência, que as bem-aventuranças são uma espécie de resumo de todo o Evangelho. Neste sentido, toda a Boa Nova é anúncio de uma felicidade que tem origem em Deus.
Foi Ele que “derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes, encheu de bens os famintos e aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1, 52-53), conforme canta o Magnificat de Maria. As palavras fortes de Jesus, que Lucas apresenta dirigidas a um “vós” que inclui os ouvintes de todos os tempos, interpelam-nos certamente, levando-nos a desejar a felicidade anunciada por Jesus, que tem por base a consolação de Deus para quem é desfavorecido neste mundo, e a evitar as situações que conduzem à desventura.
1ª Leitura: Livro de Jeremias 17, 5-8 — “Maldito quem confia no homem; bendito quem confia no Senhor”
A vida do crente em Deus, e mais ainda do crente em Jesus Cristo, é orientada por uma sabedoria mais do que humana. Já desde o Antigo Testamento que esta sabedoria orientou os membros do povo da Aliança. Guiado, por ela, o homem pode distinguir sempre diante de si dois caminhos: o que lhe é apontado pela luz que vem de Deus e que a Deus conduz, e o que é iluminado só pelas luzes que vêm dos homens e que, por isso, não pode levar mais longe do que o horizonte do mesmo homem. O que segue por este último caminho será maldito, enquanto que o que envereda pelo primeiro será feliz e abençoado.
Salmo — Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.
2ª Leitura: Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios 15, 12.16-20 — “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé”
A ressurreição é um artigo da fé cristã, expressamente proclamado no Credo. A ressurreição dos homens é consequência imediata da ressurreição do Senhor. Se Ele ressuscitou, os que n’Ele crêem e esperam, os que, por isso, estão em Cristo, também com Ele ressuscitarão. A Eucaristia, como aliás todos os sacramentos, celebra, em última análise, o mistério da Morte do Senhor, que, por ela, passou à vida do Ressuscitado. É este afinal o mistério da Páscoa cristã.
Evangelho: São Lucas 6, 17.20-26 — “Bem aventurados os pobres. Ai de vós, os ricos”
A perspectiva dos dois caminhos, já apontada no Antigo Testamento, é retomada, e com muito mais clareza, por Jesus. São as célebres “Bem-aventuranças”, que São Lucas resume em quatro, contrapondo-lhes, em compensação, outras tantas “maldições”. É este um jeito literário, frequente também nos salmos, de expor uma ideia, primeiro afirmativamente, depois negando o ponto de vista oposto. Aqui a ideia resulta clara: o ideal do Reino dos céus não se rege por critérios terrenos. É preciso aceitar os critérios de Deus.
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