Dia 25 de julho, celebra-se a festa do Apóstolo São Tiago. Não fora o facto de estarmos a viver com os condicionalismos da pandemia, certamente seriam milhares aqueles que estariam nas estradas da Península Ibérica a percorrer os Caminhos de Santiago, vindos de todo o mundo.
Sempre que o dia 25 de julho coincide com o domingo, como é o caso deste ano, a Igreja proclama um Ano Santo, um jubileu, chamado de Ano Jacobeu (Xacobeu em galego). O Jacobeu 2021, passou a ser de 2021-22, por decreto do Papa Francisco. Tem este nome (Jacobeu) porque a origem do nome Tiago ou Santiago, deriva de Sant’Iago (português arcaico), Sanctus Iacobus (latim), São Jacob (hebraico). Daí o Jacobeu, de Jacob, um dos 12 apóstolos de Cristo, o primeiro a ser martirizado e o único que tem o seu martírio narrado nas páginas do Novo Testamento da Bíblia.
Segundo as tradições e lendas, após a ascensão de Jesus aos céus, os apóstolos espalharam-se pelo mundo conhecido de então a espalhar os ensinamentos de Cristo. Tiago teria vindo evangelizar o noroeste da Península Ibérica, e teria escolhido o primeiro bispo de Braga (S. Pedro de Rates, entre os anos 45 e 60 d.C), tendo regressado à Palestina onde teria sido martirizado.
Hoje, não irei contar as inúmeras e belas lendas e histórias da vinda do corpo de Santiago para a Galiza, por escassez de espaço nesta rubrica, talvez noutra oportunidade aqui regressemos.
Trouxe o assunto do Ano Jacobeu, porque a experiência de fazer o Caminho de Santiago, por qualquer um dos traçados aprovados e que são vários, é algo que nos transforma e revigora. Todos os anos faço o Caminho Francês de Santiago (o que vem dos Pirenéus até Compostela).
Ao fazer o Caminho, recarregamos baterias, reencontramo-nos connosco próprios, reatamos a nossa ligação à Criação e reafirmados o essencial do ser humano.
Aqueles que fazem o Caminho de Santiago são os verdadeiros peregrinos, pois peregrino é aquele que caminha «per agros», pelos campos. Os peregrinos são aqueles que vão a Compostela, ao longo dos campos e florestas. Os romeiros eram os que iam a Roma, em romaria; e os palmeiros eram os que iam a Jerusalém e traziam ramos de palmeira, recordando a entrada de Cristo na Cidade Santa.
Ao longo destes anos, tenho visto as maravilhas que fazer o Caminho de Santiago tem realizado nas pessoas de todas as idades, nos grupos, nas famílias e nas paróquias. É uma verdadeira aposta e um bom investimento para a saúde da alma e do corpo, bem como das comunidades.
No Caminho, somos nós e só nós, sem títulos, sem classe social, somos todos irmãos. Saudámo-nos fraternalmente, com a expressão «Bom Caminho». Vemos pessoas de todos os cantos do mundo e somos acolhidos fraternalmente nos albergues e nas paróquias. O bom povo muitas vezes pede as nossas orações, oferece água e fruta, dá bastões para o caminho e diz «leva as minhas orações até ao senhor Santiago».
Mesmo em pandemia, mesmo com limitações, se possível façamos esta experiência e para aqueles que têm Fé, pode ser um tempo de recarregar baterias, com as graças espirituais que a Igreja concede neste ano e a todos os que percorrem pelo menos 100 km a pé ou a cavalo ou 200 Km em bicicleta: a indulgência plenária obtida por aqueles que façam o caminho com espírito cristão, participem da missa na Catedral de Compostela, rezem junto do túmulo do Apóstolo pelas intenções do Papa, se confessem e comunguem na Eucaristia.
A todos eles é oferecida uma recordação, a famosa compostelana, uma espécie de bula que atesta que se fez o Caminho pelos percursos milenares. Bom Caminho a todos…e recordemo-nos que o Caminho começa sempre na casa de cada um, continua na estrada com todos e termina junto do túmulo daquele que viveu e deu a vida pela Verdade – Tiago Maior. O Caminho é um sinal da nossa vida, ou ela não fosse uma peregrinação no tempo e no espaço. Estamos aqui, mas não somos daqui, não temos aqui morada permanente.
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