Nos finais do século XX, li o livro de Gilles Lipovetsky “A era do vazio”. Nesta obra, este sociólogo francês, analisa a nossa sociedade pós-moderna e disserta sobre as novas atitudes do indivíduo que se manifestam no mundo ocidental, atitudes essas que, segundo ele, traduzem uma perda de importância da esfera pública, bem como das suas instituições coletivas (sociais e políticas), que vai cedendo perante a emergência do individualismo de tipo narcisista e hedonista.
Recordei-me desta obra a propósito dos eventos desportivos que estamos a viver neste Verão: o campeonato europeu de futebol na Alemanha e os jogos olímpicos de Paris.
Vemos que há uns tempos a esta parte, uma das únicas coisas que parecem mover os homens contemporâneos é o desporto, a par de outras coisas como os festivais musicais, o culto panteísta da natureza e a obsessão com o corpo (dietas, cirurgias plásticas e exercício físico). Quando se trata de eventos desta índole, as pessoas movem-se, mobilizam-se, aderem, faça chuva ou faça sol. O que interessa é estar e de preferência, vestidos a rigor.
Assistimos a jogos trajados a rigor, com camisolas das cores nacionais, entoam-se hinos, organizam-se sunsets (pôr-do-sol) onde se vai trajado de branco, e por aí fora.
É certo que os símbolos são muitos importantes, pois unem as pessoas em torno de causas e ideais comuns. A palavra símbolo, sýmbolon em grego, quer dizer isso mesmo, agregar, unir.
Seria ótimo que os europeus se agregassem em torno da sua bandeira, azul com doze estrelas douradas, inspirada no livro do Apocalipse, capítulo 12 «Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça». A bandeira da União Europeia significa: o azul – a paz, e as 12 estrelas, em círculo, os povos europeus, com as suas matrizes greco-romana (os 12 deuses do Olimpo), e judaico-cristã (os 12 filhos de Israel e os 12 Apóstolos de Jesus) a viverem em harmonia. Que os povos de todo mundo vissem, também, na bandeira olímpica, o branco e os cinco anéis que simbolizam a paz entre os povos dos cinco continentes.
Para os nossos contemporâneos, imbuídos de individualismo e até de narcisismo, parece que os momentos e as pessoas só têm valor se lhe derem satisfação imediata. Se não atingirem os seus objetivos hedonistas, são logo dispensáveis e descartáveis.
Tudo é efémero (passa num dia). Leva-se dias e horas a preparar algo e, «passando o dia, passa a romaria», arruma-se tudo e venha a próxima atividade. Depois ouve-se o rosário de lamentos: antigamente é que se viviam as coisas… agora tudo vale e nada faz sentido.
Temos de nos centrar no essencial, naquilo que nos une que é muito maior do que aquilo que nos separa. Os símbolos podem ajudar e muito, nesta missão. Como seria belo ver os europeus a usar a sua bandeira com orgulho, fiéis à origem do projeto europeu, inscrita na Declaração de Robert Schuman «A Europa não se construirá de uma só vez, nem de acordo com um plano único. Construir-se-á através de realizações concretas que criarão, antes de mais, uma solidariedade de facto».
Cada um deve refletir e pensar como está a viver os momentos e a sua vida. Possamos encontrar um sentido para as coisas e para a nossa vida, de forma que tudo tenha significado e a importância que lhe é devida.
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