A Logoterapia utiliza na sua base o termo de vazio existencial, pois é devido a isso que o homem perde o sentido da vida e anda à deriva, portanto, esta vertente da psicologia vem alertar para a necessidade de o homem preencher esse vazio e encontrar o sentido da sua vida. Mas então o que é isso de vazio existencial? É uma doença? Todos temos isso?
A logoterapia vem chamar a atenção para a questão do sentido da vida, pois Frankl apercebeu-se de um fenómeno que estava a surgir: as pessoas que se queixavam de um vazio, uma falta de sentido na vida. E Frankl explica dois fatores, que do seu ponto de vista, levaram a este vazio existencial, são eles o facto de os instintos não dizerem ao homem o que tem de fazer, ao contrário dos animais; e a tradição também já não diz o que o homem deveria fazer, como há uns bons anos atrás. O homem já não sabe o que ele mesmo deseja fazer, por isso acaba por seguir o que outros fazem (conformismo) ou o que outros lhe mandam fazer (totalitarismo). Diz Frankl: “apesar do desmoronamento das tradições, a vida conserva um sentido específico para cada indivíduo, e, ainda mais, que esse sentido se conserva – literalmente – até ao último suspiro. E o psicoterapeuta pode mostrar ao seu paciente que a vida nunca cessa de ter um sentido. A rigor ele não pode mostrar-lhe o que é o sentido, mas pode indicar-lhe que há um sentido, e que a vida o conserva: a vida mantém-se cheia de sentido, sob quaisquer condições.” (1)
Atualmente, vemos um aumento enorme desta falta de sentido e se olharmos para a nossa juventude de hoje percebemos a desorientação em que se encontram e o boom que aí vem de depressões, ansiedades e pessoas a andar à deriva, sem sentido na vida. Isto é extremamente perigoso, pois o que está na base disto são sentimentos como apatia, tédio, desespero, que podem culminar num suicídio!
Os nossos jovens estão expostos, atualmente, a uma forma de viver completamente nova com a invasão das tecnologias e já são diversos os estudos que relatam o aumento da apatia, tédio e, portanto, do vazio existencial entre eles. Os jovens procuram, cada vez mais, respostas rápidas, tudo funciona no aqui e agora, há pressa e não sabem esperar os momentos certos para cada situação, da mesma forma, no mundo digital quer-se alcançar a perfeição, seja de vida, de corpo e, portanto, tudo está fantasiado e a vida torna-se uma tentativa de alcançar essa fantasia de ideal que não existe. Bem como, a crescente invasão de privacidade, os jovens são convidados a expor cada vez mais a sua intimidade e são confrontados com a intimidade dos demais, os limites do pudor estão muito largos e as nossas crianças encontram-se num grande perigo de falta de noção de limites à sua exposição e sem confronto com a frustração. Como diz Lemos, as redes sociais virtuais “têm tornado as vidas dos jovens cada vez mais frágeis, por falta de identidade própria e por não conseguirem estabelecer relações duradouras, resultando assim no vazio existencial, levando o jovem a desencadear diversos problemas subjetivos”. (2)
São muitos os estudos, atuais, igualmente, que nos relatam o vazio existencial nas crianças, jovens e adultos, “as crianças e adolescentes estão sofrendo sérios impactos à saúde mental. Percebeu-se a presença de desânimo, incertezas em relação ao futuro, mudanças na saúde mental e em seus comportamentos emocionais, com destaque para o tédio, irritabilidade e apatia enfrentados pelas crianças e adolescentes” (3), por isso o vazio existencial não é da época de Viktor Frankl, só no tempo dos campos de concentração. Inclusive, há um estudo que concluiu que o vazio existencial que sentimos hoje (pós-pandemia) é igual ao experienciado nos campos de concentração.
Concluindo, o vazio existencial é atual e há necessidade de cada vez mais compreendermos estes conceitos, alertarmos para esta realidade e orientar todos para a necessidade do autoconhecimento, da procura pelo sentido da sua vida e pelo sentido último (suprasentido) que nos leva a viver bem cada momento, ainda que repleto de sofrimento.
(1) Frankl, V. (2011). A vontade de sentido. 1ª edição, Paulus, São Paulo, Brasil.
(2) LEMOS, A. (2015). Cibercultura, tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Ed. Sulina, 7. ed., Porto Alegre.
(3) Souza, C., Aguiar, L., Rodrigues S. & Freitas, M. (2021). O Adoecimento Mental de Crianças e Adolescentes Frente ao Isolamento Social Imposto Pela Pandemia do COVID-19. Revista de Casos e Consultoria, V. 12, N. 1, e27372, 2021 ISSN 2237-7417 | CC BY 4.0.
(4) Medeiros, A., Pereira, E. Silva R. & Dias F. (2020). Psychological phases and meaning of life in times of social isolation due the COVID-19 pandemic a reflection in the light of Viktor Frankl. In Research, Society and Development, v. 9, n. 5, e122953331, 2020 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i5.3331.
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