O mês de Agosto, que habitualmente assinala um tempo de paragem em quase todos os desportos, este ano parece tornar-se o mês dos regressos. No caso do futebol, assinala o regresso da Liga dos campeões, enquanto nos EUA vemos o regresso das grandes ligas da NBA, NHL e NBL.
Todos estes regressos podiam fazer-nos crer, que a situação pandémica está a ficar mais controlada, mas isso não se verifica. Penso que esta retoma indica apenas, que percebemos que não há como fazer parar este vírus no imediato. E, enquanto não paramos o vírus, percebemos que temos de arranjar formas de nos proteger, sem deixar que seja o vírus a parar-nos.
Nos EUA, este regresso das competições desportivas mais importantes a nível nacional, vem carregado também de formas de sensibilização para questões sociais, ligadas sobretudo ao racismo. No caso da NBA, para além do slogan “Black lives matter” escrito em várias camisolas, e no próprio pavimento de jogo, alguns jogadores optaram por trocar o seu nome na camisola, por palavras ou expressões daquilo que poderia contribuir para uma sociedade diferente. Justiça, paz, igualdade, melhor educação… São alguns dos apelos que podemos ver escritos nas camisolas, e que não nos deixam ficar indiferentes (para além de dificultar o reconhecimento do nome dos jogadores). Alguns jogadores desta poderosa liga de basquetebol, têm mostrado o seu desagrado por terem de voltar a jogar numa época, em que o número de infetados e mortos continua a subir, e em que se continuam a multiplicar os protestos antirracistas. A maioria, no entanto, percebeu que o voltar a jogar seria a melhor forma de dar voz aos seus protestos e, ao mesmo tempo, fazer ver ao mundo, que com os cuidados necessários, a vida pode continuar, sem prejudicar a saúde pública.
É um indicador de que aquilo que está a acontecer no mundo, não nos pode deixar indiferentes, e não nos pode manter parados. Toda esta situação obriga-nos, de facto, a repensar novas soluções, novas linguagens, e a tentar criar uma humanidade que deverá, necessariamente, começar a olhar os outros e a vida com outro respeito.
Tudo isto não deve deixar de nos interrogar também a nós, cristãos. Este tempo de retoma pode associar-se, de certa forma, ao pedido constante do Papa, de abrirmos as nossas Igrejas, não só para deixar entrar quem está do lado de fora, mas sobretudo para sermos capazes de sair ao encontro dos outros. Tal como esta pandemia, a relação com Deus, obriga-nos muitas vezes a parar, e a perceber, na intimidade, o que Deus nos pede. Contudo, não podemos ficar por aí. Temos de ser capazes de nos deixar transformar por esses momentos de intimidade, e de nos adaptar às circunstâncias, para irmos ao encontro dos outros. A grande diferença é que, quanto ao vírus, teremos de ter todos os cuidados para que ele não se propague mais, quanto à fé e aos valores cristãos, teremos de fazer tudo para que eles se continuem a espalhar.
No fundo, com tudo o que pode trazer de bom e de mau, o desporto faz-nos perceber, que estamos a iniciar um tempo diferente, e que não nos pode deixar ficar indiferentes. Como dizia o Papa Francisco: “Quando sairmos desta pandemia, não poderemos continuar a fazer o que estávamos a fazer, e como estávamos a fazer. Não. Tudo será diferente. (…) Das grandes provações da humanidade, entre estas a da pandemia, nós sairemos melhores ou piores. Não é a mesma coisa. Pergunto-vos: como querem sair disto? Melhor ou pior?”
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