For Youngs, Ever Alive | Festivais de verão, sinto a vossa falta

O mês de Agosto está quase a chegar ao fim. Foi um mês bastante atípico, não só pelas retomas que houve, num tempo que costuma ser de paragem, como por aquilo que normalmente há e que deixou de haver. Nomeadamente, os festivais de verão. Mesmo os que não estão habituados a participar nestes eventos, não podem deixar de estranhar que, durante este mês, as rádios e televisões não se invadam de reportagens que nos mostram centenas de jovens, juntos para ver os melhores artistas nacionais e internacionais.

foto | magazine-hd.com

Como grande apreciador deste género de eventos, não podia deixar de expressar a falta que sinto destes festivais. Até este verão, sabemos como têm crescido em número e em popularidade. E sabemos também, que nem sempre pelas melhores razões. Quando se fala em festivais de verão, sobretudo para as pessoas mais adultas, será difícil não pensar em álcool, drogas, concertos (de artistas que parecem só saber fazer barulho) até altas horas…, já para não falar nas piores notícias que foram surgindo, nestes últimos anos, em alguns destes eventos: as vagas de assaltos no MEO Sudoeste, os carros incendiados no Festival Andanças…

É verdade que dentro de um festival de verão temos tudo isso. Mas, a pergunta que fica no ar é: o que leva tantas centenas de jovens a gastarem tanto dinheiro para ficar quase uma semana a dormir numa tenda, a comer de forma péssima, sem grandes condições de higiene? Será apenas pela música? Será apenas por poderem ficar todos esses dias sem o controlo dos pais? Será apenas pelo álcool ou pelos/as namorados/as?

Certamente que para muitos, sim. Mas creio que, para outros, será por muito mais do que isso. Se vos falar da minha experiência pessoal, a principal razão prende-se sempre com a música. Não me lembro de ir a um festival onde não gostasse de, pelo menos, um par de artistas que estivessem em cartaz. Contudo, certamente que as razões não se ficam por aqui. Primeiro, porque para ver muitos desses artistas, poderia procurá-los noutro tipo de concertos, noutro ambiente. Depois, porque, mesmo que o cartaz me impressionasse, se não tivesse a companhia certa, não iria.

Assim, creio que os festivais de verão são acima de tudo, e cada vez mais, uma forma extremamente viva de expressão livre dos jovens. Diria que se tornam, para alguns, quase um ritual de passagem, de quem começa a ter a maturidade para se poder governar uma semana sozinho. Podíamos servir-nos deste tema para analisar várias questões sociológicas, desde a forma como os jovens vivem, pensam, agem e reagem. Mas, não sendo eu um sociólogo, resta-me constatar que esta necessidade, cada vez maior, de ir a festivais de verão, resume-se com uma procura intensa de algo mais: um sentido profundo de liberdade e de comunhão, que temos dificuldade de encontrar facilmente na vida de todos os dias.

Muitos, ao lerem este artigo, pensarão que esta é uma bela forma de tentar embelezar as coisas, mas a verdade é que, mesmo quem olha com olhar desconfiado para os festivais de verão, não deve deixar de se questionar sobre esta sede juvenil, por encontrar espaços e tempos, onde se possam libertar daquilo que os pressiona diariamente, e onde se possam sentir em comunhão com os amigos, partilhando a sua cultura.

Nós, Igreja, não devemos ter medo de olhar para aquilo que, à primeira vista, nos pode parecer exclusivamente mundano, e procurar as razões profundas, daquilo que leva os jovens a aderir a este tipo de eventos e linguagem. Mais ainda, não devemos ter medo de adaptar algumas das nossas linguagens e formas de fazer, àquilo que o mundo propõe aos jovens. E, neste caso concreto, os festivais de verão podem servir para isso mesmo.