Estamos em tempo de férias. Para muitos alunos, o ano letivo passa na expetativa que este tempo chegue. Este é o tempo de encontrar os amigos de uma forma diferente, ir à praia, viajar com a família… E quem não gosta disso?
O tempo de férias reserva, para muitos de nós, o melhor que a vida tem para nos oferecer. Quem não gosta de deixar a pressão do trabalho ou dos estudos, e poder aproveitar o tempo com outra liberdade?
O que acontece muitas vezes, é que, ao deixar o trabalho e os estudos, acabamos por deixar também de lado, a nossa relação com Deus. Mas, para aproveitar da melhor forma este tempo de férias, eu diria que devemos não só lembrarmo-nos de Deus, como seguir o Seu exemplo.
Diz-nos o relato da criação no livro dos Génesis, que ao sétimo dia, vendo a sua obra concluída, Deus descansou (Gn 2, 2). Sabemos que Deus, enquanto Criador, nunca deixa de criar e agir no mundo. Olhando para Jesus, imagem terrena deste Deus, temos sempre a figura de alguém que está atarefado, no meio da multidão, a pregar ou a curar. É difícil imaginar Jesus a descansar. Ainda assim, Ele dá ordens aos discípulos para descansar (Mc 6, 31). Estas referências ao descanso fazem-nos pensar, o quão merecido e importante pode, e deve ser o nosso descanso.
O padre jesuíta Vasco Pinto Magalhães, no livro “Só avança quem descansa”, chega a perguntar: “Será que vivemos para o trabalho ou para o descanso?”. E conclui que, se vida é uma contínua preparação para chegar ao “descanso eterno” na companhia de Deus, então devemos começar, já aqui na Terra, a treinar para lá chegar preparados.
Não me interpretem mal. Isto não quer dizer que devemos deixar de trabalhar, e passar os dias a dormir. Mas acho que Deus nos quer dizer, e nos mostra continuamente, sobretudo no tempo de férias, que a vida é feita de muito mais do que as responsabilidades que temos de carregar. A vida é feita sobretudo de relações. E quando arranjamos tempo para nos relacionar com aqueles que amamos e nos amam, sem pressões e preocupações, então sentimo-nos verdadeiramente descansados.
De facto, acho que não sabemos e não fomos educados para o descanso. Digo-o muitas vezes a mim próprio. Fomos ensinados a estudar, a assumir responsabilidades, a programar o nosso tempo, mas não fomos ensinados a saborear o tempo livre, em que podemos estar com os outros e com Deus. Estamos tão habituados a correr atrás do tempo que, por vezes, até nos sentimos mal se paramos e não encontramos cada minuto programado. Vasco Pinto Magalhães diz-nos que isso acontece porque, normalmente, nos colocamos a pergunta errada: estamos habituados a perguntar-nos “O que posso fazer mais?”, enquanto nos deveríamos perguntar “O que é que me é pedido para fazer?”. Mesmo quando paramos, a pergunta que muitas vezes colocamos a Deus é: “O que é que poderei fazer mais no próximo ano?”. Talvez o melhor desafio destas férias, seja mudar a questão e começar desde já a perguntar a Deus: “O que me pedes que faça no próximo ano?”. Assim, talvez Ele nos possa ir indicando o que realmente importa, e quais as coisas que devemos começar a deixar ficar para trás, para, assim, aprendermos, com Ele, a descansar.
- Primeiro dia do funeral marcado pela trasladação do corpo de Bento XVI para a Basílica de S. Pedro - 3 de Janeiro, 2023
- Legado teológico de Bento XVI está a ser traduzido para português - 3 de Janeiro, 2023
- Canonista explica protocolo do funeral de Bento XVI - 2 de Janeiro, 2023