“No meio das panelas, também está o Senhor”. Enquanto preparo o almoço do domingo, vem ao meu coração esta tão conhecida expressão dita por Santa Teresa de Jesus, como inspiração para iniciar este artigo.
É também entre as minhas panelas que me recordo daquele 26 de julho de 2001, em que recebemos o sacramento do matrimónio; não imaginávamos que também estaríamos entrando numa escola de santidade. Foi um dia muito feliz, cheio de emoções e alegrias em que começámos uma nova história juntos e, olhando hoje para esses 20 anos, o que construímos materialmente não foi nada em relação ao belo processo de conversão e santidade que o Senhor fez no nosso interior.
Vivemos muitos desafios que nunca estariam nos nossos mais belos “planos de felicidade”: muitas mudanças de cidade, a vida sempre longe de nossos pais e familiares, a infertilidade, o chamamento à vida consagrada na Canção Nova, a graça da paternidade pela adoção e, por último, a mudança de país – deixando tudo que tínhamos para começar uma vida em Portugal.
No entanto, em todas as realidades que vivemos, tanto nas alegrias quanto nos dramas, sustentou-nos uma palavra rhema que estava na nossa lembrança de casamento: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Essa passagem do Evangelho das bodas de Caná marca a história da nossa família e descobrimos que só esse olhar fixo em Jesus é que nos manteria de pé e firmes no meio das tempestades que passamos, e que todas as famílias, sem exceção, passam.
O sacramento do matrimónio faz-nos santos na medida em que o vivemos com toda a sua riqueza, como sacramento ordenado à salvação de outrem, ou seja ele contribui para a salvação pessoal devido ao serviço e entrega ao outro. “A graça própria do sacramento destina-se a aperfeiçoar o amor dos cônjuges e a fortalecer a sua unidade indissolúvel. Por esta graça, eles ajudam-se mutuamente a santificar-se na vida conjugal, como também na aceitação e educação dos filhos” (CIC 1641).
Sem dúvida o que nos fez perseverar e permanecer no anseio de seguirmos juntos até à eternidade foi a vivência da nossa fé, a unidade à Igreja e o desejo de seguir Jesus levando a nossa cruz, levantando depois das quedas, retomando o caminho nas escolhas erradas, perdoando-nos mutuamente e carregando o fardo um do outro. Muitos casais contraem o matrimónio, têm boa intenção, mas a meio do caminho, com os revezes, vêem-se frustrados, pois a coisa não correu como esperavam. Connosco também muitas vezes não correu, mas agarrámo-nos ao Senhor, à Sua Mãe e à Comunidade à qual pertencemos, para compreendermos os planos de Deus para nossa vida.
Hoje podemos colher com alegria na nossa filha de 15 anos, os frutos que plantámos no esforço de viver a santidade em nossa casa, nas pequenas e grandes coisas. Conforme escreveu o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica Amoris Laetitia: “A família é o local da catequese dos filhos, o que nós ouvimos, o que aprendemos não ocultaremos aos nossos filhos, mas vamos contar à geração seguinte as glórias do Senhor, o seu poder e os prodígios que Ele operou”.
Penso que hoje o maior desafio das famílias cristãs na educação dos filhos é o perigo das redes sociais que desconstroem os valores morais e evangélicos levando crianças e jovens ao individualismo exagerado e desvirtuando os laços familiares. Cabe a nós reassumirmos a nossa verdadeira vocação à santidade e lutarmos dia a dia pelos valores do matrimónio e da família cristã, como nos pede o Senhor na Sua palavra: “Sede santos porque Eu vosso Deus sou santo” (1 Ped 1,16).
Vânia e Tarcísio Oliveira
Membros da Comunidade Canção Nova
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