Deus quis ter uma família! No plano da salvação, o filho de Deus fez-Se homem e tornou-Se parte de uma família.
Naquele ambiente de amor e unidade, Jesus cresceu em estatura, em sabedoria e graça (cf. Lc 2, 52). Não há dúvidas que Ele foi amado, cuidado e educado da melhor maneira por Sua mãe Maria Santíssima e por Seu pai adotivo, José. Uma família que para muitos era comum como as outras famílias judaicas da época – temente a Deus e virtuosa. Mas naquela casa de Nazaré, o Amor desejou habitar e ensinar-nos que não há outro lugar para aprender a amar e ser amado tão propício quanto o seio familiar.
A Igreja Católica ensina-nos (1) que “Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os ao Matrimónio, a uma íntima comunhão de vida e amor entre eles, “de maneira que já não são dois, mas uma só carne” (Mt.19, 8)”. E esse amor frutifica na abertura aos filhos e no amor por eles dedicado. Portanto, a família é o ambiente privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e receber amor (2). Não pode ser diferente, pois caso contrário torna-se um agrupamento de pessoas!
Se há uma virtude teologal sobre a qual a família deve apoiar-se é a caridade! Certamente é no seio familiar que o amor cristão é forjado no sacrifício diário da doação, compreensão e perdão. Em família, damo-nos continuamente e também recebemos. O pai cuida de todos com o amor de seu trabalho árduo e diário. A mãe zela pelos detalhes, esforça-se pela educação dos filhos e pelo bem estar de todos. Os filhos por sua vez – nessa escola de amor – crescem desejosos de fazer da própria vida uma continuidade do lar. Um lar iluminado pelo amor que tem como fonte o Amor feito carne.
A meta do amor é o céu !
O Beato Carlos da Áustria e sua esposa Zita ensinam-nos muito neste caminho matrimonial. Entenderam desde cedo o sentido do matrimónio cristão, da vocação do homem e mulher chamados a partilhar a vida em comum. Desde o noivado deixavam junto àqueles que conviviam com eles um testemunho eloquente da compreensão dos desígnios de Deus para as famílias e os valores evangélicos vividos neste sacramento.
Nas vésperas do matrimónio, Carlos disse à Zita: “Agora, devemos ajudar-nos um ao outro a chegar ao céu” (3). Ele compreendeu a missão que lhes cabia a partir do sacramento do matrimónio e ela a abraçou com perfeição. E após o nascimento de cada filho sabiam que Deus os chamava a educar filhos para o céu.
Como nos ensina Santo Agostinho, estamos – em tudo o que realizamos – percorrendo o nosso caminho para a pátria celeste; é como uma viagem, uma espécie de navegação para a nossa Pátria; tendemos para o nosso fim último que é a visão beatífica de Deus (4).
Tudo em nós tende para este fim, portanto, a maneira como vivemos a nossa vocação deve comportar essa “tensão” para o nosso fim último, para o céu. Não será então a nossa família o nosso caminho para o céu?
E portanto, a cada dia devemos perguntar-nos: Estou a caminho do céu em meu relacionamento conjugal? Meus filhos desejam o céu ou mal ouvem a falar de Deus? Mais do que falar, nossa vida de casal desperta neles o desejo de Deus? Muitas vezes envolvemo-nos nas atividades e deveres quotidianos e os vivemo-los de forma completamente às avessas ao nosso chamamento que é o amor.
Santa Terezinha do Menino Jesus numa das suas cartas destinadas a sua irmã Leônia afirma: “Escutava-o (ao pai) frequentemente com nossa mãe a falar do Céu, da eternidade” (5). Maria, irmã de Terezinha, por sua vez recorda: “meu pai e minha mãe tinham uma fé profunda e, ouvindo-os falar juntos de eternidade, sentiamo-nos dispostas, mesmo jovens como éramos, a considerar as coisas do mundo uma pura vaidade” (6).
Aquela família transbordava amor a Deus mesmo em todos os desafios vividos. As filhas, porque viviam num ambiente de amor verdadeiro, desejavam o céu! Desejavam entregar-se totalmente a Deus porque viam nos próprios pais os frutos de uma vocação plenamente vivida. O segredo da santidade da família passa pela vivência perfeita da caridade até o sacrifício de si mesmo. E qual o melhor ambiente para sair de si mesmo – diariamente – por amor a Deus e ao próximo?
O Papa Francisco ensina-nos algo bastante prático (7), mas nada fácil sobre o amor conjugal e, por consequência, familiar. O pontífice afirma que amar é também tornar-se amável. “Significa que o amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se mostra duro no trato (…). Francisco lembra que “ser amável não é um estilo que o cristão possa escolher ou rejeitar”, mas faz parte das exigências irrenunciáveis do amor.
E portanto, «entrar na vida do outro, mesmo quando faz parte da nossa existência, exige a delicadeza duma atitude não invasiva, que renova a confiança e o respeito (…) (8). E quanto mais íntimo e profundo for o amor, tanto mais exigirá o respeito pela liberdade e a capacidade de esperar que o outro abra a porta do seu coração». A família assim assume lugar privilegiado na escola do amor e, por isso, berço do amor!
O segredo de um casal imperial
Quando o imperador Carlos I e Zita se casaram (9) – no dia 21 de outubro de 1911 – nas alianças trocadas havia uma inscrição em latim que revelava o desejo do jovem casal e mais do que isso, uma inspiração vivida por toda a vida matrimonial: “Sub tuum praesidium” (“À vossa proteção, recorremos, ó Santa Mãe de Deus”). É uma antífona muito antiga que os dois rezavam confiando a Nossa Senhora o casamento e todos os desafios vindouros – que não foram poucos.
Descobriram um segredo valioso: a intercessão da Virgem Maria! Não deixemos de lhe implorar o seu favor e cuidado contínuos! Ela saberá guiar as nossas famílias na descoberta e vivência do amor e nos acompanhará até ao céu!
(1) Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 337.
(2) Papa Bento XVI. Encontro Mundial das Famílias 2006. Valência, Espanha.
(3) Vergamota, Pe. Joao. O Santo Rei. Pg 17
(4) Royo, António Marín. Grandes Mestres da Vida espiritual. Pg 1
(5) Martín, Celina Maria. Incomparabili genitori, pg 15
(6) Processo de Beatificação de Santa Terezinha
(7) Amoris Laetitia. Papa Francisco, parágrafo 99 (Papa cita:Tomás de Aquino, Summa theologiae, II-II, q. 114, art. 2, ad 1.
(8) Amoris Laetitia. Papa Francisco, parágrafo 99 (Papa cita: Francisco, Catequese (13 de Maio de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 14/V/2015), 16.
(9) Vergamota, Pe. Joao. O Santo Rei. Pg 18
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