Vimos no artigo anterior que as emoções são alterações de estado de corpo que não controlamos, elas são irracionais, automáticas e públicas (1). Isto é, não conseguimos controlar o surgimento da emoção em nós e, instintivamente, o nosso corpo reage, por exemplo, se me assusto com algo, os meus olhos arregalam-se, a boca forma um O e pode surgir algum gemido ou grito, portanto é visível para quem me rodeia que estou com medo.
As emoções são respostas automáticas, rápidas (surgem em segundos), que geram alterações fisiológicas e são universais, isto é, qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, consegue reconhecer, no outro, estas emoções.
Mas também temos sentimentos. Segundo Damásio (2), o sentimento é quando tomamos consciência do que sentimos. É algo em que se está, estamos tristes ou alegres e difere da emoção porque se prolonga no tempo. É um estado interior de caráter privado, pois ninguém consegue perceber o que estou a sentir, se eu não o verbalizar. Enquanto a emoção é pública e dirigida para o exterior, ela é logo identificável, pois refletem-se em reações expressivas específicas, nos gestos, olhar, voz, músculos, etc.
Podemos, ainda, falar de estados de ânimo ou sentimentos de fundo que são os sentimentos sentidos, com maior frequência, ao longo da vida. É comum dizermos, por exemplo, “aquela pessoa anda sempre de bom humor”.
No artigo anterior, também aprendemos que existem emoções inatas, que nascem connosco e outras que aprendemos com a experiência. Portanto se já nascemos com emoções é porque elas têm algum papel a desempenhar.
As emoções inatas são a alegria, a surpresa, o nojo, a tristeza e a raiva. No próximo artigo vamos ver cada uma delas em particular, como funcionam e o seu papel. Agora vamos focar na importância das emoções de forma geral.
Vejamos alguns pontos importantes:
- Ajudam-nos a agir de forma rápida e com menos intervenção cognitiva (ex. o nojo pode ajudar a agir de forma rápida quando provamos comida estragada);
- Preparam o corpo para agir imediatamente, portanto têm um papel ativo na percepção, atenção, memória, escolha, motivação, definição de prioridades e outras reações psicológicas e motoras. São, da mesma forma, responsáveis por ativar e desativar sistemas desnecessários no momento (ex. quando temos medo, o corpo desliga, temporariamente, o processo digestivo, o que resulta em menos saliva, boca e garganta mais seca e a sensação de nó no estômago);
- Influenciam os pensamentos: as nossas memórias não são só factos/acontecimentos, mas estão coloridas com a emoção do momento. As emoções são a “cola” que nos permite ligar factos diferentes e torna mais fácil lembrar pensamentos felizes, quando estamos felizes e tristes quando estamos em baixo. Desta forma, quando estamos com emoções fortes, não pensamos claramente;
- Afetam e motivam comportamentos futuros: por exemplo, a tal comida estragada, quando vivemos uma emoção de nojo, vamos evitar ao máximo numa próxima. Como? Ver a validade, cheirar, ver o aspecto antes de consumir.
É vital que as emoções que nos chegam não sejam reprimidas. Não é saudável reprimir uma emoção, tentar não a demonstrar aos que me rodeiam e viver sempre dessa forma, reprimindo a emoção. Pontualmente, é normal e até saudável que disfarcemos as nossas emoções, por exemplo, no local de trabalho não é saudável que eu desate a chorar por alguma situação familiar, ou perante uma autoridade sentir raiva e gritar. É muito importante o autoconhecimento, para o domínio das emoções. No entanto, a longo prazo, não podemos estar sempre a suprimir as nossas emoções, pois isso acarreta problemas sérios para o nosso corpo, como dores de coluna, estômago, dificuldades em adormecer, insónias, doenças crónicas, entre tantas outras situações.
Constatamos, hoje, a importância que as emoções têm em nós e como não é saudável vivermos com máscaras, não deixando as emoções surgirem, claro que não é sem filtros, é necessário o domínio de mim mesmo, para que as emoções não conduzam a reações descontroladas.
A próxima semana vamos conhecer cada uma das emoções inatas e suas funções.
(1) Damásio, A. (2003). Ao encontro de Espinosa: as emoções sociais e a neurologia do sentir. Publicações Europa-América
(2) idem
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