Domingo de Ramos | Semana Santa, tempo da ternura de Cristo pelos homens

Neste Domingo de Ramos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo vamos meditar nas seguintes leituras:

1a leitura:
Is 50, 4-7  | Não desviei o meu rosto dos que Me ultrajavam, mas sei que não ficarei desiludido

Sl 21(22), 8-9.17-20.23-24

2a leitura:
Fl 2, 6-11 | Humilhou-Se a Si próprio, por isso Deus O exaltou

Evangelho:
Mt 26, 14-27,66 | Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

O “Servo do Senhor”, que o profeta Isaías nos apresenta, está atento e sabe ouvir o que se passa à sua volta, para dirigir palavras de consolação e esperança aos que andam abatidos. Provamos que somos discípulos de Jesus quando não nos fechamos nas trincheiras do nosso conforto egoísta, mas, abertos às interpelações dos que nos rodeiam, vamos ao seu encontro com atitudes e palavras de alento e consolação.

São Paulo escreve à comunidade dos cristãos de Filipo, que ele considerava muito boa, mas onde estavam a nascer rivalidades e invejas. Assim recomenda: “nada façais por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, não tendo cada um em mira os próprios interesses, mas todos e cada um os interesses dos outros” ( 2, 2-4 ). E, em seguida, Paulo apresenta o perfeito modelo deste tipo de comportamento, que é Jesus Cristo, pois, sendo Deus infinito, assumiu a frágil pequenez da nossa natureza humana, num excesso de amor por cada um de nós. Consequentemente, para seguirmos Jesus, nosso Mestre e Senhor, temos de viver numa atitude de serviço a quem precisa de nós.

O Evangelho apresenta-nos a narração da paixão, segundo São Mateus. É a história maravilhosa de Jesus, Deus encarnado, que assume voluntariamente o sofrimento mais cruel como preço da nossa salvação. Nesta narração, São Mateus insiste no repúdio da violência e do uso das armas: “Mete a tua espada na bainha, pois todos os que puxarem da espada morrerão à espada” ( 26, 52 ). Orígenes, no séc. II, assim comenta esta passagem: “Nós, os cristãos, deixámos de empunhar a espada, já não aprendemos a arte da guerra, porque através de Jesus tornámo-nos filhos da paz”. Por contraste, a história da paixão e morte de Jesus é uma exortação a evitar a absurda insensatez da violência. Toda a violência é uma história de fracasso e derrota. Só o amor é vitorioso.

Vejamos agora a visão de conjunto deste Domingo de Ramos que dá início à Semana Santa, ou seja, o tempo da ternura de Cristo pelos homens.

Os Evangelhos destas duas últimas semanas apresentavam-nos os fariseus e o Sinédrio em luta frontal com Cristo. Esta semana chama-se Semana Santa, porque nos introduz directamente no acontecimento pascal da morte e da ressurreição de Cristo. Cada um destes acontecimentos tem um conteúdo eminentemente profético e salvífico.

O ambiente da 2a, 3a e 4a feira é para nós de tristeza, pelo que vai acontecer a Cristo, nosso amigo e nosso Salvador. Ele passou-os numa atmosfera de calma e mansidão, de união e de serenidade na Presença de Seu Pai. Ao ressuscitar Lázaro, selou o registo da Sua morte para breve. O povo entusiasma-se; os Seus inimigos agitam-se. Judas faz combinas, os Apóstolos não realizam tudo o que se vai passar. Cristo limita-Se a ser uma testemunha entristecida de todo este drama. Está inundado por uma imensa ternura, que estende até ao futuro traidor. Neste momento sabe que os Seus caminhos terrestres se acabarão, dentro em breve, na solidão e na morte.

Passemos esta última semana da vida terrestre de Cristo com Ele, num último esforço de recolhimento interior, de oração fervorosa, de contrição e de reconciliação efectiva e sacramental com Deus, com os outros, com nós próprios; de modo que a Ressurreição de Cristo seja um dia verdadeiramente “novo” para nós, se prolongue sobre a terra e para lá do túmulo.