Final de ano é sempre o momento certo de rever a nossa vida. Temos vindo a refletir em algumas atitudes que nos prejudicam, pois nem sempre refletimos sobre elas.
Hoje gostaria de trazer para a nossa reflexão a questão do parar.
Parece um contrassenso falar em parar no meio de toda a nossa agitação e forma de viver. No entanto, é essencial conhecermos os nossos limites e conseguirmos parar no momento certo.
Quando não conhecemos os nossos limites vamos caminhando até à exaustão e, mesmo aí, pensamos que ainda conseguimos dar um pouco mais e pensamos algo deste género: “mas os outros conseguem, eu também preciso conseguir”, “mas eu preciso trabalhar”, “mas eu não posso dar ao luxo de parar”.
Saber parar não é uma questão de luxo, de preguiça, de capricho, mas uma necessidade básica de qualquer pessoa.
Já vimos como é difícil dizer não aos outros, sobretudo a quem amamos, mas também percebemos que amar implica dizer não em determinadas vezes. Desta forma, parar, em alguns momentos, é uma forma de amar, igualmente, pois ao parar estou a dar-me ao direito do devido descanso e evito uma situação de exaustão, onde terei mesmo de parar, por não ter forças para me levantar, porque desenvolvi alguma doença e, nessa altura, deixamos os nossos próximos preocupados connosco e com a tarefa de cuidar de nós doentes. Outras vezes entramos numa depressão profunda, esgotamento, temos alguma crise psicótica até, que leva os nossos entes queridos a não compreenderem as nossas atitudes, podemos chegar a magoá-los, porque nós não estamos bem, psicologicamente.
Desta forma, existem situações onde nós podemos evitar o nosso sofrimento e o dos que nos rodeiam, então porque não parar? “Ai se eu soubesse que iria ficar assim tinha parado”. Uma senhora que se encontra numa exaustão e desgaste psicológico relata o seguinte: “não gosto de ver o meu marido assim, passo o dia a chorar, não consigo fazer as lides domésticas, é ele que faz tudo, coitado. No trabalho não sinto prazer nenhum em fazer nada, pareço um robot, nem vou beber café com as colegas, não tenho forças. No outro dia, o meu filho fazia anos e pediu-me um bolo (a chorar ela continua) e eu não consegui fazer… estive deitada na cama até a hora de jantar… ai! Que dor no coração de não lhe ter feito o bolo que ele tanto gosta (choro intenso).” Esta senhora sofre com a exaustão em que se encontra, mas, pior, sofre com a culpa de não se sentir útil, de não conseguir fazer o que fazia antes. Como é dolorosa uma situação destas!
Nós só vivemos uma vez, não podemos voltar atrás no tempo e há uma coisa que nos faz doer o coração intensamente e não tem resolução, é o arrependimento, lidar com a culpa, é desgastante e pode tirar-nos a vida. Portanto, saber parar é ter sabedoria, é pensar a longo prazo em mim e nos que me rodeiam. Agora qual é o meu limite? Será que sei quando preciso parar? Até onde eu posso ir e onde já estou a exagerar?
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