Hoje em dia falamos bastante, felizmente, sobre a necessidade de educar os nossos filhos para a responsabilidade. Prévia à reflexão sobre o modo como poderemos promover essa competência, coloca-se a questão: o que significa ser responsável ou ter responsabilidade?
Segundo a Infopédia, responsável é “aquele que tem consciência dos seus atos”, isto é, “uma pessoa que age com um conhecimento e uma liberdade suficientes para que os seus atos possam ser considerados como seus e deva responder por eles”. O mesmo dicionário define responsabilidade como “a obrigação de responder por atos próprios, ou por uma coisa confiada”.
Podemos então perceber que, enquanto competência, capacidade, podemos até arriscar que uma quasi virtude, que se constrói, a responsabilidade tem como alicerce a razão, a vontade e a liberdade. Razão para conhecer, discernir e decidir, vontade e liberdade para colocar em prática.
Assim, qual a melhor forma de educar para a responsabilidade?
Responsabilizar e, de preferência, o mais cedo possível pois, “se de pequenino se torce o pepino”, é desde cedo que podemos e devemos educar para a responsabilidade.
Mas como colocar em prática?
Atribuindo a responsabilidade de tarefas adequadas à idade de cada criança, logo que possível. Por exemplo, a criança pode levar a sua fralda para o lixo, inicialmente ao colo, depois sozinha, quando começar a andar e tiver autonomia para isso. Depois, de acordo com o seu desenvolvimento, pode ajudar nas tarefas domésticas comuns, como pôr e levantar a mesa, despejar o lixo, arrumar os brinquedos, ajudar a tomar conta ou estudar com os irmãos mais novos, fazer pequenos recados como ir à mercearia, ou tarefas pessoais, como arrumar a sua roupa, preparar a mochila, elaborar um calendário de estudo, escolher e participar numa atividade desportiva ou movimento da igreja, como os escuteiros, por exemplo. No dia a dia, fomos entendendo que é preciso que os pais sejam explícitos nos pedidos que fazem ou nas indicações das tarefas, de modo que os filhos percebam o que devem fazer. Às vezes, o que é óbvio para os adultos não é para as crianças, por isso, é fundamental explicar bem o que se pretende e perguntar o que perceberam.
O leque de responsabilidades não deve reduzir-se às pessoais e familiares, mas alargar-se para um cuidado com o outro e com o mundo. Tentamos que as responsabilidades sociais e ecológicas sejam promovidas em nossa casa, através da partilha dos bens ou da reciclagem diária e da poupança da água ou de outros recursos à nossa disposição, por exemplo, para que os nossos filhos possam crescer num espírito de respeito, colaboração e cuidado com a “Casa Comum”.
Não esquecer duas regras importantes:
Como sugestão de critério e adequação poderemos utilizar a regra dos 3P, que nos indica que, ao iniciarmos uma atividade, esta deve ser Pouca, Pequena e Possível. Deste modo, o sucesso é alcançado e, com ele, uma alegria que serve de motivação para continuar. O que temos percebido pelos nossos filhos é que sempre que lhes confiamos uma tarefa e eles a cumprem com sucesso, ficam mais confiantes e determinados, ao mesmo tempo que sentem que têm um papel importante nas dinâmicas familiares. Acima de tudo, ficam felizes por serem responsáveis e por confiarmos neles. Por isso, começamos por responsabilidades pequenas e vamos depois aumentando o grau, paulatinamente.
E quando encontramos algum percalço pelo caminho? Devemos reger-nos pela regra dos 4C, que nos ensina que, por vezes, ao Caminhar, podemos Cair. Devemos aprender com o que sucedeu, de forma a Corrigir, para Continuar. Ao chamar a atenção sobre o que correu menos bem ou que não foi efetuado, reforçamos sempre “Sei que tu consegues!” e fazemos memória de uma vitória anteriormente alcançada ou de uma virtude notória na criança, para que possa continuar sem desanimar.
Enquanto família integrada numa comunidade de vida salesiana, a base do nosso modelo educativo é o método preventivo de D. Bosco, que se apoia na razão, na religião e na bondade (“amorevolleza”), com o objetivo de criar “bons cristãos e honestos cidadãos”, pessoas autónomas que conhecem e assumem as razões de tudo o que estudam e vivenciam. A prática desse sistema baseia-se nas palavras de São Paulo: “a Caridade é benigna e paciente; tudo sofre, mas espera tudo e suporta qualquer incómodo” (1Cor 13,1-13). Assim, também no educar para a responsabilidade o truque é ter muita paciência, repetir vezes sem conta as orientações, suportar as quedas dos filhos com bom humor e muito amor, acreditando sempre que os nossos filhos são capazes do melhor, mesmo que muitas vezes pareçam distraídos ou se esqueçam do que lhes pedimos (o que é muito normal).
Podemos partilhar que temos vivenciado que “um é o que semeia e outro o que ceifa” (Jo 4, 37). Às vezes parece-nos que não estamos a conseguir atingir os objetivos, mas depois, ao falarmos com professores, catequistas e outras pessoas que convivem com eles, percebemos os bons frutos do trabalho educativo que procuramos desenvolver.
Ana Júlia e Henrique Medeiros da Silva
Missionário do 2º Elo da Comunidade Canção Nova Portugal
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