Ser mulher é ter de se adaptar a diversas situações, algumas bastantes difíceis. A mulher tem em si uma força que desconhece e, por vezes, só nas situações impossíveis essa força vem à tona. Vejamos a situação da Ana, nome fictício.
São 19h e a Ana chega a casa de mais um dia de trabalho, cansada, com dor de cabeça e, ainda, com o jantar para preparar, para o marido e os dois filhos adolescentes. Vai direta à cozinha, coloca o avental e começa a descascar batatas, pois tem sempre o cuidado de ter uma sopinha saudável, para a sua família e pensa ‘Talvez hoje faça o prato preferido do João’ (nome fictício do esposo). Entre panelas, lavar o arroz, fazer a carne, como o esposo gosta, colocar a mesa, vai até ao quarto mudar de roupa, finalmente. Os filhos estão a estudar nos seus quartos, o marido a tomar banho e toca o telemóvel dele. Ana, que está no quarto, espreita para avisar o marido de quem lhe está a ligar, mas não conhece aquele nome e acha estranho, pois nunca ouviu o marido falar, mas retorna aos seus afazeres. Jantam todos juntos, falam do dia que passou, arruma a cozinha e vai descansar um pouco no sofá. O marido está esgotado e vai-se deitar. A Ana fica mais um pouco e quando se vai deitar, o telemóvel do marido acende com sinal de mensagem, ela vê que é o mesmo nome do telefonema anterior, e a primeira frase “Meu amor, que saudades!” Ela paralisa! O corpo perde as forças e precisa agarrar-se à porta para se recompor e orientar as ideias.
Desorientada, confusa e sem conseguir pensar de forma coerente, baixa-se para ler o resto da mensagem. O seu pensamento é ‘Não pode!’, ‘Não! Ana leste mal! Estás cansada!’ Pega no telemóvel do marido, com um frio terrível pelo corpo, o coração acelerado, as mãos suadas e tenta ler a mensagem, mas o telemóvel está bloqueado. Ela desata num pranto, sem entender. Vai para o sofá e passa a noite a pensar naquilo e a rezar, sem compreender.
De manhã, o marido pergunta o que se passa, ela não sabe o que dizer e desorientada, nada diz. Passa o dia num estado de ausência e sentimento de irrealidade. À noite, confronta o marido, que nega tudo.
Passado uns dias, ela consegue ter acesso, no computador, a conversas do marido com essa senhora, numa rede social e percebe que o marido a traía, há mais de um ano! O chão desaparece dos pés, a cabeça fica zonza e quase desmaia. Volta a confrontar o marido que não diz a verdade toda, mas pede perdão e que tudo passou. Ela quer confiar nele e propõe terapia de casal. Ele aceita e fazem um ano de terapia.
Cada vez que estou com a Ana, ela, mesmo a chorar, tem uma força e uma certeza dentro dela, que só pode vir da intimidade com Deus, que, entretanto, estreitou mais ainda, só pode ser a Fé dela.
Durante o ano de terapia, ele mantém contactos com duas mulheres, num outro telemóvel escondido, que, entretanto, a Ana descobriu, mas ela permanece firme na sua decisão de “Amar-te e respeitar-te, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe”. A Ana suportou as mentiras do marido, sofreu humilhações e manteve-se firme e forte na sua decisão. Várias vezes me disse “Eu não me casei para me separar!” ou “Eu não vou desistir do meu marido!”. Foram muitos avanços e recuos, muita oração, muita reconstrução, perdão e aceitação. Certo dia, disse-me “Deus abençoou o meu matrimónio e Ele vai-me honrar!”
No final, toda essa luta valeu a pena, o marido voltou para ela, mudaram de casa, recomeçaram o seu relacionamento, e hoje vivem as lutas, normais de qualquer casal, mas juntos, com a mesma meta.
Infelizmente, existem muitas mulheres que são traídas desta maneira pelos seus esposos, mas na Ana eu vi a virtude da fortaleza.
A Ana tinha uma meta e lutou por ela até ao fim. Ela aceitou os riscos e deu a sua vida, como “resgate” da do marido. Ela viveu para o matrimónio e não desistiu na hora da tribulação. Claro, foi um tempo muito duro, de dúvidas, medos, angústia, solidão, desespero, até, mas a Ana permaneceu firme na Fé e na virtude da fortaleza.
A fortaleza enche-nos de força interior, de tal modo, que conseguimos reconhecer a situação em causa e resistir perante a dificuldade, com o intuito de alcançar algo nobre. Esta virtude que vi na Ana edificou-me.
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