A Páscoa é a Solenidade maior e mais central do ano litúrgico. É a fonte de todas as graças e dons concedidas por Jesus Ressuscitado. D’Ele, da Sua vida nova, do poder da Sua Ressurreição, do Seu Coração que continua aberto e a ser fonte de todas as graças e dons, nos vem a salvação.
Se Cristo não tivesse ressuscitado, como afirma S. Paulo, era vã a nossa fé. Mas Ele ressuscitou, está vivo e glorioso. É doravante o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Vencedor da morte e do pecado, vitorioso, Ele nos concede a graça de vivermos unidos a Ele e participar da Sua vida, da Sua graça, da Sua santidade. Agora podemos saborear e viver a Sua paz e o Seu amor e construir com Ele um reino de justiça, de graça, de santidade, de amor sempre mais intenso.
O Ressuscitado dá-nos a Sua paz e a Sua alegria que hoje, agem em nós, pela ação do Espírito Santo. Acreditar na Ressurreição é um convite incessante a viver esta paz e esta alegria. Paz que Ele é, como Rei da Paz. Alegria que Ele nos concede pois é fonte de alegria interior, espiritual e humana. Alegres de Deus e alegres por causa de Deus, unidos ao Ressuscitado e vivendo em comunhão com Ele. Porque ressuscitou Ele estará presente de muitos modos, quer pela graça divina no nosso interior, quer na Eucaristia onde o Ressuscitado nos alimenta, quer na Palavra que é Vida e presença d’Ele, quer na Igreja Sua Esposa Santa, quer nos Irmãos onde sempre o podemos reconhecer e encontrar. Presente e atuante em todos os sacramentos pela ação do Seu Espírito, presente na beleza da vida e da natureza, presente nos gestos de Amor com que partilhamos o que somos e o que temos. Pelo poder da Sua Ressurreição, Jesus torna-se paz e alegria e continua presente em nós e na comunidade.
Como fonte de dons, o Ressuscitado dá-nos em primeiro lugar o Seu Pai para nosso Pai. Somos em Jesus Ressuscitado, nosso Irmão e Primogénito, filhos de Seu Pai que está nos Céus. A sua vida de Ressuscitado faz-nos participar na vida divina e na comunhão com a Trindade, com a Família divina. Somos um sacrário vivo que contém a vida e as Pessoas da Trindade, pois Jesus Ressuscitado concede-nos esta graça. Pela ressurreição de Jesus, somos filhos no Filho, templos de Deus Vivo, membros da família trinitária pela adoção realizada no batismo. E Jesus convida-nos a entrar em comunhão com o Pai e com a Trindade, pois a Sua ressurreição nos concede esse dom admirável.
Outro dom do Ressuscitado é o Paráclito, o Espírito Santo, que Ele mesmo tinha prometido: “Eu e o Pai enviaremos o Espírito”. E este Espírito é em nós fonte fecunda de graça, de purificação, é água divina, que nos lava e vivifica, é fogo divino que queima impurezas e nos faz viver a consolação espiritual. O Espírito, dado pelo Ressuscitado, é a alma da Igreja, é alma da nossa alma. É Ele que nos converte, nos santifica, nos ensina a rezar, como verdadeiro Mestre Interior. Esse Espírito, dom de Jesus Ressuscitado, faz-nos viver a graça do perdão e da reconciliação pois foi enviado para a remissão dos pecados.
O Coração aberto é outro maravilhoso dom do Ressuscitado e o convite místico feito a S. Tomé, continua a ser feito e cada um de nós: entrar nesse Coração, ir até Ele, pois é nosso refúgio, é oceano infinito de todas as graças e dons, é fornalha de amor que quer incendiar os nossos corações. Na Páscoa, aprendemos melhor a lição que Deus Amor, é Coração aberto, esse símbolo maravilhoso que o Ressuscitado apresenta a Tomé e a cada um de nós. E esse Coração torna-se fonte divina de toda a graça e de toda a santidade, da força e do amor, da verdade e da justiça. Tudo está n’Ele, no Coração do Ressuscitado, que nos convida a entrar nesse tesouro e a permanecer n’Ele.
A Igreja, a nossa Mãe Igreja, Esposa de Cristo e Corpo místico do Ressuscitado., Povo de Deus em caminhada cristã, nasceu do Ressuscitado, é dom do Seu amor, simbolizado na água e no sangue que brotaram do Seu Coração, a água batismal e o sangue eucarístico. Deste modo, a Ressurreição é a fonte do nascimento da Igreja que tenta amar o Seu Esposo, Jesus Ressuscitado. Tenta amar e servir a humanidade como fez Jesus. Tenta ser santa e crescer na fidelidade ao amor do Ressuscitado. Ouve continuamente as palavras d’Ele: “Ide por todo o mundo”, e o convite a evangelizar, a fazer discípulos, a batizar. E o Ressuscitado, presente em cada Eucaristia, torna-se a vida da Igreja, a vai divinizando, e lançando para a missão.
A espiritualidade pascal não pode esquecer nunca que o Ressuscitado está em cada pessoa, em cada homem e em cada mulher, em cada cristão e cada cristã, sobretudo nos mais pobres, doentes, marginalizados. Recorda sem cessar a palavra de Jesus: “Eu tive fome, Eu tive sede, Eu estava nu, Eu estava preso e doente…” Temos que ir descobrindo o rosto de Jesus Ressuscitado nos que não têm pão, casa, família, amor, fé. Ele está presente e vivo em todos, sobretudo nesses. Daí que a espiritualidade pascal nos dá um coração universal que quer amar a todos e servir a todos, como fazia Jesus.
Espiritualidade pascal, como vida de paz e de alegria, como união ao Ressuscitado. Espiritualidade pascal vivida em comunhão com o Pai, em filiação, confiança, abandono, amor. Espiritualidade pascal vivificada pela ação do Espírito Santo que nos unge no batismo e nos faz seres pascais com o Ressuscitado. Espiritualidade pascal que é eclesial, vivida em Igreja, Esposa e dom do Ressuscitado. Espiritualidade pascal que nos centra na vida de sacramentos, sobretudo descobre o Ressuscitado na Eucaristia. Espiritualidade pascal que nos faz entrar no Coração do Ressuscitado e viver com Ele em união profunda. Espiritualidade pascal que se torna universal e fecunda no amor aos irmãos e irmãs onde descobrimos sempre o Ressuscitado.
Padre Dário Pedroso, Sj
Diocese de Lisboa
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