Todos sonhamos, desejamos e queremos a felicidade, no entanto parece tão difícil alcançá-la, tê-la, vivê-la. A grande questão é, mas eu desejo a felicidade ou eu quero ser feliz? É que eu posso desejar, mas não querer.
Segundo Enrique Rojas, psiquiatra espanhol, “os desejos são mais superficiais e fugazes. O querer é mais profundo e estável”, isto é, o desejo procura possuir, no imediato, algo, é veloz e funciona num impulso de possessão. Enquanto o querer anseia por algo distante, concebe um plano concreto, com estratégias e funciona pela vontade.
Ao falar de felicidade, falo de sonhos, metas, propósitos a alcançar. Nós vivemos de sonhos, é o combustível da nossa esperança, que nos mantém a energia, a atividade e a força para ultrapassar as vicissitudes.
Então, eu posso desejar muito a felicidade e que ela passe por obter, por exemplo, o prestígio na minha profissão. Como vimos, o desejo é algo fugaz, impelido por impulsos e emoções que, facilmente, desmoronam ao primeiro obstáculo. Sinto-me desmotivada, desanimada e chegam as frases negativas que me vão paralisando de dar passos concretos “Tu não és capaz”, “Realmente há melhores que tu”. Pelo contrário, quando empregamos o querer ter prestígio na minha profissão, entra em jogo a minha vontade, a minha decisão e quando me decido por algo significa que conheço os limites e potencialidades, tenho consciência dos erros e das oportunidades. Neste sentido, não haverá cansaço que me impeça de lutar, irei aproveitar muito bem o tempo que tenho e investir nas minhas potencialidades.
A vontade vai sendo treinada, com o tempo, e ela é o que me sustenta a ir mais longe, o que me faz passar do sonho ao papel e deste à realidade. Como diz Sulzbach “A decisão consiste em entregar-se passivamente ou assumir ativamente a luta por algo ou alguém, dignos dessa dor e sofrimento.” Decidimo-nos por algo que reconhecemos valor, e lutamos, ansiosamente por esse objetivo.
A vontade tem anelada a esperança. Quando eu quero muito algo, eu invisto nesse caminho, porque me decido e acredito que irei conseguir alcançar o objetivo. A esperança é, para além de uma virtude teologal, o motor do futuro, pois vivo hoje, mas com um olhar de esperança para o amanhã. É por isto que, mesmo que hoje eu esteja numa situação menos agradável, de inconstância, ou até de sofrimento, eu mantenho-me no caminho e não desisto, pois confio, tenho esperança de que o amanhã será diferente.
Não esquecendo que a felicidade não é uma meta em si mesma, mas um estado/sentimento que eu conquisto à medida que me supero, surpreendo e encalço as minhas metas. Portanto, pegando no exemplo anterior, eu não serei feliz só quando for reconhecida pela minha profissão, mas já agora nas pequenas conquistas que vou fazendo, nas mudanças internas que vou realizando, no efeito que os meus gestos vão tendo nos outros, nas minhas cedências, abstinências e negações em prol de um outro, de uma meta. Neste sentido, eu arrisco-me a encontrar a felicidade, inclusive, num sofrimento, mesmo não o querendo, mas ele pode ser fruto do meu desejo e posso, inclusive, ver nele (sofrimento) o sentido para a minha existência.
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