A existência de cada ser vivo é produto de milhões de anos de evolução e de selecção, durante os quais, outros tantos milhões de organismos individuais nasceram e se extinguiram, o que transforma a vida num valor natural a preservar com todo o empenho e admiração pelo maravilhoso passado desta lenta evolução.
Biologicamente a vida na terra assenta na sua quase infinita diversificação e na sua perfeita adaptação ao ambiente em que cada espécie se situa.
Existe uma harmonia entre o planeta e a vida que dentro dele surgiu, formando-se entre ambos uma relação de unidade e de multiplicidade que sobrevive e se reproduz, ad eterno.
À semelhança da vida biológica, a vida social é também harmónica porque, à infindável multiplicidade de elementos que a formam corresponde uma unidade social que é assegurada por instituições permanentes.
É pela integração do indivíduo biológico e social no seio das instituições que as necessidades e desejos de cada um de nós ganha interesse colectivo na medida em que interioriza as suas regras, leis e valores, os quais permitem ultrapassar o individual egoísta e ascendem à esfera do absoluto, do todo, no qual se integram e pertencem como Pessoa. Ser Pessoa é constituir-se conscientemente como um ser de valores activo e desencadear comportamentos que, na ordem do bem, levem a ultrapassar o centro ético da sua esfera, para integrar os problemas do tempo em que vive, ajudar a solucioná-los para bem de toda a humanidade, a empenhar-se por deixar um mundo melhor aos vindouros, numa palavra: a ser útil e a deixar rasto.
É neste contexto que urge a imperiosa necessidade da formação da consciência moral bem formada e informada (não deformada), a fim de que cada ser humano possa compreender e interiorizar a riqueza que lhe advém pelo facto de ser uma pessoa e, como tal, portadora duma dignidade imensa, com possibilidade de se conhecer, de se possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas, potenciando uma imensa capacidade de amar e ser amado e fazer progredir o mundo renovando a justiça e a paz.
Tarefa sublime e única que só ao ser humano compete, por ser um animal racional e ter a capacidade/possibilidade de construir, à luz dum saber que se quer total e não relativo, amplo e não fragmentado, uma cultura de vida e não de morte, de amor e de apoio e não de descarte.
A vida é um dom que se acolhe, é um bem que se partilha e que, antes de desabrochar, já potencia toda a riqueza e mistério que nos envolve e transcende.
A vida é um valor em si própria e, como tal, merece ser respeitada e conservada até ao seu fim natural.
Susana Mexia, Professora de Filosofia
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