No quarto Domingo da Quaresma vamos meditar no Evangelho de São João 9, 1-41 (Eu fui, lavei-me e comecei a ver)
O Evangelho de João penetra cada vez mais no mistério de Jesus, “pão da vida” (cap. 6), “nascente da água da vida” (cap. 7), “Eu Sou” de Deus (cap. 8). O episódio de hoje toma partido de uma dupla situação carregada de simbolismo: a festa dos Tabernáculos, dia festivo com grandes iluminações, e a cegueira de um homem, mergulhado nas trevas. Na verdade, as luzes rituais não conseguem iluminar as trevas do pecado e da morte, enquanto a cegueira física não pode resistir à iluminação divina.
A doença, enquanto estado de necessidade, pode ser condição privilegiada para receber luz (cf. Vv. 1-3), a luz que é Cristo, embora pareça que as trevas é que vencem (cf. Vv. 4-5).
O “lodo feito com saliva” (cf. v. 6) é uma antiga prática terapêutica, mas recorda também a terra com a qual Deus plasmou o homem animando-o com o seu corpo (cf. Gn 2,7).
Indica portanto uma nova criação, expressa no antigo rito baptismal da unção com a saliva. A ablução na piscina (cf. v. 7) é também uma evocação do Baptismo: ia-se buscar à piscina de Siloé a água ritual, embora ineficaz até à vinda de Jesus, verdadeiro “enviado” (assim se traduz o nome “Siloé”) do Pai.
Enquanto os fariseus se encarniçam contra Jesus (cf. vv. 13.16.24), os pais do cego entrincheiram-se por detrás da recusa de responsabilidades (cf. vv. 20-23). Mas a presença do Mestre não deixa ninguém neutro, não existem compromissos entre a luz e as trevas a partir do momento em que Jesus se declara “Filho do homem” (vv. 35-38). A verdadeira cegueira é a interior, que não se deixa iluminar pela verdade (cf. vv. 39-41).
Vejamos agora a visão de conjunto desta 4ª Semana da Quaresma:
Lemos o Evangelho de São João que nos propõe o tema da Vida, como atributo de Deus e do Seu Messias.
2a feira: O oficial romano acredita na cura do seu filho e crê imediatamente na palavra de vida, que Cristo pronunciou.
3a feira: Cristo cura com uma só palavra um paralítico havia já 38 anos! Dá-lhe nova vida nos membros e no coração.
4a feira: Cristo revela-nos o mistério da Vida que há no Pai, que só Ele conhece.
5a feira: O testemunho das Escrituras e o do Pai dizem-nos que Cristo é a Vida oferecida aos homens de boa vontade.
6a feira: Cristo prega abertamente o Reino de Deus. Àqueles que o seguem, desvendará o mistério da Sua Vida.
Sábado: Ninguém falou como Cristo sobre o Pai e os Seus mistérios. Por isso o povo estava encantado, os guardas do Templo que o deviam prender não tiveram coragem de o fazer. Preferiram viver na liberdade que a Sua Palavra lhes inspirava.
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