Na semana passada falamos sobre o luto e vimos que é um processo normal de recuperação psicológica. Esta semana vamos refletir sobre o luto patológico, isto é, quando o processo de luto não corre bem e se torna uma patologia.
O luto engloba sentimentos ambivalentes, visto a pessoa necessitar aceitar a perda e refazer a sua vida sem a pessoa perdida. Neste processo, podem surgir sentimentos de culpa, tristeza, ansiedade, solidão, fadiga, choque, alívio, etc., durante o tempo necessário para a elaboração da perda, percorrendo, assim, as diferentes fases do luto (ver semana anterior) até recordar sem dor, nem sofrimento, essa mesma perda.
Mas e quando a pessoa nega que o seu ente querido morreu, recusa refazer a sua vida, cai num mar de emoções negativas e se perde na solidão e vazio? Estamos a falar do luto patológico.
Podemos falar de 3 formas de luto patológico: luto prolongado (onde a duração dos sintomas é excessiva e persiste por 6 a 12 meses); luto ausente e diferido (quando começa semanas mais tarde ou não há sinais externos de luto); luto excessivo (intensificação dos sintomas de luto). Existem, ainda, alguns sinais/sintomas que podemos observar no luto patológico:
- Alucinações (ver a o falecido, conversar com ele) e memórias espontâneas relacionadas com quem se perdeu; não conseguir enterrar o falecido;
- Anseios fortes ou desejos de que a pessoa falecida esteja presente, por vezes negando a realidade (continuar a colocar a mesa para o falecido, manter as roupas, lavá-las, passá-las a ferro);
- Sentimentos de intensa solidão ou vazio;
- Afastamento ou evitação radical das pessoas ou locais que recordem o falecido;
- Distúrbios do sono (dificuldade em adormecer, acordar durante a noite e não conseguir adormecer, acordar muito cedo);
- Perda de interesse pelas atividades profissionais, sociais e quotidianas.
Portanto, a pessoa não consegue retomar a sua vida, há um bloqueio, uma desorganização psíquica que necessita de auxílio e orientação.
Estes sinais surgem com maior ou menor intensidade e estão relacionados com o grau de intimidade que se tinha com o falecido, a ligação emocional e grau de parentesco, bem como com a história de vida da pessoa, como ocorreu a morte, entre outras questões.
Quando a pessoa nega o sentimento, ou seja, não reage logo, acaba por viver uma ilusão e, mais tarde quando surgem outros eventos, mesmo que menos marcantes, aciona o processo de luto.
No luto patológico podemos ver muitos sinais característicos da depressão como a tristeza, a apatia, o desinteresse por atividades que antes lhe davam prazer, insónias, perda de apetite. Neste sentido, verificamos a necessidade de haver um acompanhamento especializado que poderá ter de passar pela toma de medicamentos (passado pelo médico psiquiátrico) e psicoterapia (psicólogo).
Não deixando de lado a parte espiritual, visto que a pessoa precisa sentir-se amada por Deus e saber que Este não se esqueceu dela, nem a está a castigar. O Papa Francisco disse na catequese de 17 de junho de 2015, sobre o luto na família: “A escuridão da morte deve ser enfrentada com um mais intenso trabalho de amor. ‘Deus meu, clareia as minhas trevas!’, é a invocação da liturgia da noite. Na luz da Ressurreição do Senhor, que não abandona ninguém daqueles que o Pai lhe confiou, nós podemos tirar da morte o seu “ferrão”, como dizia o apóstolo Paulo (1 Cor 15, 55); podemos impedi-la de envenenar a vida, de estragar os nossos afetos, de fazer-nos cair no vazio mais escuro.” Não podemos deixar que a nossa vida pare, nem deixar que a morte vença, pois o amor é mais forte que a morte. Não esqueçamos que a vitória já é nossa e assim como Jesus devolveu a vida ao filho único da viúva e o restituiu a sua mãe (cf. Lc 7, 11-15), também o fará com “todos os nossos entes queridos e connosco, quando nos encontraremos, quando a morte será definitivamente derrotada em nós. Essa é a derrota da cruz de Jesus. Jesus nos restituirá em família a todos!” (Papa Francisco, catequese de 17 de Junho de 2015).
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