A descoberta da vocação profissional pode ser um caminho muito confuso
O homem não escolhe a família onde nasce, não escolhe a cultura que participa nem escolhe as várias situações nas quais foi posto, mas a descoberta da vocação profissional pode ser influenciada por esses meios.
Dentre esses limites criados pela circunstancialidade, porém, o homem tem a possibilidade, a capacidade e aptidão para escolher. Ser humano é estar em continua situação de escolha, de assumir compromissos e sofrer as consequências das escolhas feitas. Sem riscos na há opções significativas para o ser, e sem elas não há liberdade” (Martins 1980).
Hoje em dia, as pessoas, de maneira geral, estão muito pouco dispostas a descobrir sua verdadeira vocação. Parece que a população está dominada por uma anestesia que os meios de comunicação e mídias sociais estão causando, levando as pessoas num caminhar passivo.
Desde a infância e adolescência, os jovens são estimulados para, um dia, no terceiro ano do Ensino Médio ou um pouco antes, por aptidões ligadas às matérias humanas, exatas ou biomédicas definir seu caminho. Onde eu sou mais hábil, deveria escolher uma carreira e aqui depositar o resto da minha vida trabalhando nesta área. Mas será que é assim mesmo? Ensinar, no dia de hoje, o jovem a pensar é também fazê-lo se descobrir. É necessário conhecer-se o mais breve possível, para não ser vítima dessa pluralidade que instiga a cada um desses jovens por uma carreira. São eles: estabilidade de emprego garantido em uma profissão estruturada, identificação às atividades como são os militares (patriotismo), tradição, influência e pressões familiares e possibilidade de receber ensino conceituado e gratuito, perspectiva de ascensão social.
De todos esses aspectos, ficarei com a descoberta individual e tradição familiar que merece um aprofundamento.
Tradição familiar
A tradição familiar é extremamente relevante há anos. Muitos comportamentos, aptidões e mesmo o dar seguimento aos projetos dos mais antigos que desbravaram certos caminhos. Assim, um jovem se inspira no exemplo que tem de seus familiares. Muitos têm tanta convivência com a tradição que, desde cedo, buscam interagir e participar. As conversas sempre estão pelo ar. Como médico, vejo-me sempre partilhando algum fato interesse de medicina em casa, embora eu não seja um bom exemplo de tradição, pois nenhum filho meu tem seguido minha profissão, só me resta uma que ainda poderá decidir.
A tradição tem os dois lados. Um lado que já oferta a alternativa bastante exemplificada diante de um jovem, ajudando-o já a observar a prática das coisas. Nada melhor do que conhecer as coisas na prática, como nos ajuda a observar com mais profundidade e discernimento. As Universidades Americanas chamadas de Ivy League, em sua maioria, têm como um dos fatores de seleção de seus futuros alunos a Tradição Familiar naquela Universidade. Quem imagina isso como fator de seleção e o que está por trás disso, pois conhecer através de exemplos ajuda ainda mais o jovem a buscar se esmerar para conseguir manter a tradição da família e galgar ainda passos mais altos. São as Universidades mais difíceis de entrar nos Estado Unidos. Contudo, o fruto desse enorme esforço plural é a certeza de um futuro brilhante.
A descoberta individual
Outro ponto abordado, neste texto, é a descoberta individual. Um vez perguntaram a um grande inventor laureado pelo SmithSonian, academia de Ciências dos Estados Unidos, como ele tinha chegado àquela descoberta com tão pouca idade. Ele respondeu que não sabia que era impossível, então, fez! Todo o experimento estava dentro dele, por isso os seus professores o tratavam tão mal, pois não conseguiam enxergar o que para ele já estava pronto. Nós vamos nos surpreender quando virmos crianças que se posicionam como adultos, que argumentam e deixam os mais velhos sem resposta ou atônitos.
Grandes matemáticos, desde muito pequenos, já decifravam equações que nós normais demoraríamos todo o curso de nossa vida para entendê-los. Há dentro de cada um de nós alguém que precisamos conhecer, somos nós mesmos.
Para isso, à luz da verdade, podermos nos expor e, com discernimento, reconhecermos nossas aptidões e dificuldades. O jovem se mostra estável e dono de seu próprio caminho quanto mais reconhece as suas limitações e tenta, a todo custo, superá-las. No campo da vocação, não se deixar levar pelas pluralidades acima mencionadas é muito importante, pois nos faz livres. Precisamos ser livres para escolhermos com sabedoria. Para ter sabedoria é necessário: visão, experiência, memória e buscar sempre o que é bom, do jeito certo. Na vida não há atalhos. Na vida não há fórmula mágica para se conseguir as coisas de forma sábia, mas muito empenho com dedicação e caráter! Não basta ter sabedoria se o jovem não tem caráter! O grande juiz de nossa vida é a nossa consciência!
Não ter medo de errar
Um médico jovem é um manancial de amor a ser despejado no coração dos que ele encontra, assim assinalo nos meus livros Ecos do Silêncio e Semeando Dons colhendo vocações. A cada conquista dentro do desenvolvimento profissional é uma alegria incontida de quem sabe para onde está olhando, de quem confia que Deus abençoa sempre aqueles que andam em seus caminhos e colocou o dom em cada um de nós para os outros. Não importa o que façamos, mas que sempre tenhamos os valores morais, éticos e legais ao nosso lado, daremos frutos sobre frutos.
Uma mensagem final aos jovens que buscam, neste dia, qual o caminho a seguir: peça a sabedoria em hebraico: “Hochmá”, “arreté” em grego. Que sua ação seja plena em caráter.
Por último, não tenha medo de se corrigir quando o percurso não foi aquele que você se forçou a tomar, sempre há tempo de se reprogramar e buscar com coração aberto a verdadeira profissão ou vida consagrada, onde, ao começar a caminhar, sentirá sempre o gosto de sonhar pelo próximo dia, para mais uma experiência de vocação, de realização e frutificação.
Em tudo, dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito!
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