Viva o princípio do carisma Canção Nova com coragem

Homilia, na íntegra, da Missa do dia 15 de dezembro das Exéquias de padre Jonas Abib, presidida por Padre Wagner Ferreira

Querido padre Jonas, o senhor faz parte dessa imensa multidão de pessoas que, como virgens previdentes, esperam o Noivo chegar. A sua vida, padre Jonas, seu ministério foi vivido com intensidade. O senhor teve a graça de fundar uma Comunidade, a graça de instituir na vida da Igreja um carisma para o fim dos tempos. A graça de poder motivar muitas pessoas para suplicar com a própria vida: Maranatha, vem Senhor Jesus!

Somos essa Igreja que aguarda e espera o dia glorioso do Senhor, porém, para você, padre Jonas, o Noivo abriu as portas e o recebeu na glória do Céu, recebeu-o com a Sua lâmpada acesa. A lâmpada do Espírito de uma vida carismática, não apenas por causa da graça do batismo no Espírito Santo, mas uma vida carismática pela coragem de ter levado Brasil afora essa experiência tão maravilhosa do batismo no Espírito Santo. 

Quantas pessoas se abriram aos dons carismáticos, dons de serviço, de cura, profecia, dons de milagre! O senhor sabe muito bem quantos milagres em vida Deus realizou por meio da sua oração. Recebemos inúmeros testemunhos durante todos esses anos, porque o senhor, com coragem, por vezes sendo criticado, humilhado, mas com coragem, como essas cinco virgens prudentes, o senhor manteve o seu “óleo”, o senhor manteve a sua lâmpada acesa, a lâmpada do Espírito. 

Diziam para o senhor que estava sendo enganado com essa vida sendo o Espírito, com esses dons carismáticos; o senhor estava enganado e, até o fim, o senhor chegou a ponto de nos ensinar a orar em línguas quando estivéssemos tomando banho, orar em línguas, porque o senhor é um homem carismático.

Vamos ser o motivo da alegria do padre Jonas e viver integralmente o carisma

Essa esponja encharcada de água viva do Espírito que não se economizava ao impor as mãos sobre as pessoas pedindo o batismo no Espírito Santo para que elas pudessem também se abrir a essa experiência de graça, que só entende quem vive. Quem não entende, por vezes, infelizmente critica. A Igreja é multiforme, padre Jonas, e o senhor aprendeu no carisma de Dom Bosco. 

Hoje, por vezes, tendo que representar o senhor nas reuniões da Família Salesiana, impressiono-me com essa capacidade dos grupos da Família Salesiana, essa capacidade de abrir os braços para acolher a todos. A Igreja não é monolítica, a Igreja não é formada somente de um grupo, a Igreja não é formada somente de uma espiritualidade.

A espiritualidade da Igreja é, antes de tudo, litúrgica, e o senhor sempre amou a Liturgia, padre Jonas. A espiritualidade da Igreja é a espiritualidade que brota do mistério pascal de Cristo, e por isso a Família Salesiana é aberta. O nosso carisma, o carisma que o senhor fundou tem raízes ali no carisma de Dom Bosco, e por isso hoje nós temos escolas, o Sistema de Comunicação, Editora — “Feito tudo para todos”, padre Jonas. 

A Canção Nova é a “Casa da misericórdia”

Porque o senhor não quis uma Canção Nova fechada em si mesmo, o senhor não quis uma Canção Nova para que nós fossemos um “gueto” nos salvando deste mundo perdido, o senhor não quis. Infelizmente, o senhor também teve que enfrentar os profetas do desespero — “O mundo está perdido…”

E o senhor, além da Canção Nova, foi inspiradamente constituindo o Sistema de Comunicação, a Escola, o nosso Posto Médico Padre Pio. O senhor foi fazendo as missões da Canção Nova acontecendo pelo mundo afora. Meu Deus, missões para além do Brasil, chegamos na Europa, com missões em Portugal, em Fátima. Os missionários, por vezes, passando até por dificuldades, enfrentando culturas novas na França e na Itália.

Padre Jonas, com esse ser carismático da raiz de Dom Bosco, o senhor se abriu. O senhor se abriu para que a Canção Nova seja “Casa de todos”, “Casa da misericórdia”. E aqui está o Santuário, o seu sonho se concretizou, aqui está o Santuário do Pai das Misericórdias. O senhor não sonhou sozinho, muitos sonharam com o senhor. 

E aqui está o Santuário do Pai das Misericórdias, que é para acolher a todos, pessoas que infelizmente nós julgamos desclassificadas, pessoas que infelizmente nós fazemos questão de fechar as portas.

O Noivo que é Jesus, Ele é a porta das ovelhas, Ele veio para salvar a todos, por isso a Canção Nova evangeliza, é um carisma de evangelização, padre Jonas, para que possamos levar essa graça do batismo no Espírito Santo. Proporcionar às pessoas o encontro pessoal com Jesus, e assim que as pessoas estejam preparadas, para que também possam ingressar no festim, nas bodas do Cordeiro.

O afeto de padre Jonas

Padre Jonas, o senhor é carismático também porque é muito afetuoso, uma afetuosidade que o senhor aprendeu ao lado de sua família, como o senhor sempre testemunhou. Eu tive uma educação um pouco diferente, quem me conhece sabe que sou afetuoso às vezes, mas sou duro, ainda estou aprendendo com o senhor, padre Jonas, a ser mais afetuoso.

Mas por causa da sua afetuosidade, o senhor também é carismático. Abraça a todos com aquele abraço que vai dar saudade, está dando saudade! O senhor é carismático porque olhava nos olhos, com esses olhos verdinhos.

Como nós ouvimos na Primeira Leitura desta Santa Missa, neste trecho do livro de Jó, vemos que Jó, no final de sua vida, apresentou a sua profissão de fé e esperança, dizendo exatamente isso: “Eu sei que o meu redentor está vivo, e que por último se levantará sobre o pó. E depois que tiverem destruído a minha pele, na minha carne verei a Deus. Eu mesmo verei, meus olhos O contemplarão”. 

Seus olhos verdes estão contemplando os olhos de Deus, nosso Pai. Os olhos de Jesus, nosso Salvador, a Virgem Maria, os Santos e Santas, uma multidão de Santos, de homens e mulheres que estão na glória de Deus, virgens prudentes, virgens previdentes, que guardam a chama acesa e participam das bodas do Cordeiro. 

Obrigada padre Jonas, pelo seu olhar cativante, e que a sua intercessão possa dar aos membros da família Canção Nova, dos sócios contribuintes, sócios evangelizadores, seus amigos e amigas, sua família, possa dar a todos nós a graça também desse olhar afetuoso. Mais do que seu olhar, padre Jonas, era o olhar de um Deus misericordioso querendo alcançar com a Sua misericórdia o coração de cada pessoa. 

Padre Jonas, nessa sua vida carismática, o senhor nos ensinou a ser comunidade de amor e adoração. O senhor me deu a oportunidade de viver — como também a outros irmãos e irmãs da Comunidade Canção Nova, a partir do Eto e da Luzia — momento de profunda intimidade com o Senhor, foram viagens, congressos…

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A coragem de padre Jonas

Lembro-me de quando eu conheci a Obra de Maria. Quando eu fui com o padre Jonas num estádio de futebol, lá em Recife, eu era seminarista e acompanhei o padre Jonas naquele grande estádio de futebol. Ali, eu conheci a Obra de Maria, e assim vivi as experiências com padre Jonas. Mas porque eu canto timidamente, porém, aprendi dele a coragem, que a gente tem que dar o passo.

Achava que não daria conta de celebrar essa Missa. Quando vim ali no carro de bombeiro, estava pensando assim: “Vou falar para o padre Márcio presidir a Missa, ele tem mais condições do que eu, porque acho que não vou conseguir”. Nesse altar, já desmaiei uma vez, então acho que não daria conta, mas quando fui entrando no Santuário, falei: “Aprendi do padre Jonas a coragem, a parresia, o desassombro, não posso me intimidar”.

Mas essa graça, padre Jonas, não peço somente para mim, peço para todos os seus filhos e filhas da Canção Nova. Meus irmãos e minhas irmãs, filhos e filhas do carisma de Jonas Abib, por favor, coragem; por favor, fidelidade ao carisma desse homem. Enquanto estiver vivo, assumo com ele, aqui, agora, esse compromisso até o fim. 

Não vou rasgar o Estatuto da Canção Nova, não vou rasgar o Diretório da Canção Nova, não vou rasgar os princípios de vida do carisma de Jonas Abib, não vou! E eu peço a você que é Canção Nova: coragem, viva o princípio do carisma Canção Nova com coragem, porque isso significa manter a lâmpada acesa, significa manter a chama acesa para que, um dia, possamos fazer essa festa, a glória de Deus. 

Alguns de vocês vão se recordar: antes ainda de nós termos os acampamentos de oração, cheguei na Canção Nova em 1992. Padre Jonas ainda vivia a dinâmica de viajar pelo Brasil todo pregando aprofundamentos, encontros pela Renovação Carismática. E em Cachoeira Paulista, na nossa sede, tínhamos, de vez em quando, um encontro ou alguma coisa assim. 

Lembro-me de um Hosana, mas antes de nós começarmos a falar de Hosana Brasil, padre Jonas disse assim: “Quando eu for, vou ficar na porta do Céu esperando cada filho, esperando cada filha”. Ele está lá, ele entrou, saudou tanta gente que ele conhece, inclusive, o padre Léo; saudou Dom Antônio Afonso de Miranda, saudou o pai e a mãe dele, saudou a Maria José, irmã dele; foi saudando a minha mãe certamente. 

Padre Jonas, junto com a Luzia Santiago, foi uma presença maravilhosa quando minha mãe faleceu há 3 anos; depois, sempre que me encontrava com padre Jonas, ele perguntava: “E o seu pai?”. Sempre teve uma preocupação com o meu pai. E eu, para dizer o quanto ele era afetuoso, o quanto ele era amável, o quanto ele dava atenção para cada um, vocês todos podem testemunhar esses momentos de carinho, da ternura desse homem que não troco por ninguém. 

Todas as vezes, ele perguntava do meu pai, ele está lá agora, também se encontrando com a minha mãe e tantas outras pessoas que passaram pela Canção Nova: Isabel Cortez, Claudião… poderia falar de tanta gente, mas ele também está na porta do Céu.

Viver com fidelidade o carisma 

Você, meu irmão, minha irmã da Comunidade Canção Nova, viva com fidelidade o carisma, pois isso vai nos garantir santidade de vida, porque o carisma Canção Nova nasceu do coração da Igreja. Quando nós tivemos a graça do Reconhecimento Pontifício, sem dúvida alguma isso ficou muito claro para todos nós. A aprovação do nosso Estatuto Canônico, por parte da Igreja, tinha como significado exatamente essa regra de vida que, de fato, sendo vivida, contribui com a santificação dos fiéis. 

Vamos ser motivo de alegria para o padre Jonas! Se nós quisermos, de fato, prestar essa bela homenagem para ele, essa despedida, vamos ser motivo da alegria do padre Jonas e viver integralmente o carisma. Não peço isso apenas para os membros da Canção Nova, mas para toda família, todo o povo de Deus que nos acompanha nesse momento pelo Sistema Canção Nova de Comunicação. Porque, depois, quando formos pouco a pouco partindo, com esse sorriso lindo, com esses olhos verdes, ele vai dizer: “Bem-vindo, meu filho”, “Bem-vinda, minha filha”, mas por enquanto ele está dizendo: “Aguenta firme, aguenta firme!”.

Para caminhar para nossa conclusão, perdoe-me estender um pouco, mas dentre tantas experiências assim, de comunhão profunda com o coração do nosso Fundador, pelo fato de também hoje ter a função de vice-presidente, padre Jonas por vezes me chamava e dizia assim: “Padre Wagner, preciso escrever uma carta, um documento”, uma carta para um bispo, uma carta para um padre, uma carta para um cardeal, uma resposta, ele me passava as ideias e eu escrevia. Encaminhava para a Iara, secretária do padre, e falava: “Iara, é isso que escrevi, diga para o padre Jonas que ele pode mudar como quiser, a carta é dele e não é minha”. E ele aprovava, mudava um termo, mudava uma palavra, mas aprovava. 

Um dos textos que produzi nessa comunhão de coração com o padre Jonas foi o discurso que ele fez por ocasião do nosso Reconhecimento Pontifício. E eu gostaria de terminar essa homilia com esse discurso de estudo para nós Canção Nova. 

Discurso de Monsenhor Jonas no Pontifício Conselho dos Leigos

Pulando todas as saudações que foram feitas pelo Padre Jonas, ele disse assim: 

“Finalmente, um agradecimento muito especial aos meus colaboradores, Eto e Luzia, que, desde o início, entregaram comigo suas vidas ao Senhor para concretizar o carisma Canção Nova. Um agradecimento aos membros desta bela família Canção Nova presente em tantos países do mundo, ser Canção Nova é bom demais! A Providência Divina permitiu que o Reconhecimento Pontifício da Comunidade Canção Nova se realizasse exatamente quando celebramos nosso aniversário de 30 anos”— e agora estamos nos 45; ano que vem, 45 anos de Canção Nova, 15 anos já se passaram. São 30 anos nos quais procuramos enfrentar os desafios da nova evangelização, segundo o apelo, na época, do Papa João Paulo II. 

“Nascida no dia 2 de fevereiro de 1978, a Comunidade Canção Nova se empenha em formar homens novos para o mundo novo. Para realizar essa missão, percebemos que Deus pretendia nos evangelizar, utilizando os meios de comunicação social, assim como operar nas áreas da saúde, da cultura, da promoção social, dos cursos de formação espiritual e dos encontros de evangelização”.

Padre Jonas não é apenas um evangelizador pelas pregações, não é apenas um evangelizador quando celebra o mistério do Senhor no sacramento da Eucaristia, mas entendamos, Canção Nova: a Canção Nova é uma companhia de pesca, e por isso nós também atuamos na saúde, temos o Bom Samaritano, temos a educação. Não vamos abrir mão dessas outras realidades, porque também na promoção social nós anunciamos o Reino que vem. 

Não se iludam! Agora, se você quer outra coisa, uma comunidade só para anunciar e pregar a Boa Nova e não se misturar com coisas sociais, busque outra comunidade, mas aqui não. É uma casa de misericórdia, é aberta para todos!

“Em tudo, buscamos sempre testemunhar a novidade cristã que brota do encontro com Cristo Jesus. Reconheço que a Canção Nova não foi obra minha, mas de Deus. Tentando compreender aquilo que Ele me inspirava, percebi que sozinho eu não poderia realizar essa obra, eis o porquê do nascimento da Canção Nova. Pude compreender que não existe evangelização sem o testemunho do amor de Deus por meio da vivência, da caridade fraterna entre aqueles que seguem Jesus”. 

Continuou padre Jonas no seu discurso, há 15 anos, lá no Pontifício Conselho dos Leigos:

“Aos membros da Comunidade Canção Nova, a minha Comunidade da qual sou o primeiro membro, peço: permaneçam unidos no amor recíproco e na oração, permaneçam unidos no amor um para com os outros e na oração. Que sejam verdadeiramente uma comunidade de amor e adoração. Tudo isso porque queremos levar ao mundo uma Canção Nova cantada por pessoas renovadas no Espírito Santo. 

Para a nossa Comunidade, muito significativa é a data na qual o Decreto do nosso Reconhecimento Pontifício foi assinado: 12 de outubro, festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil. É a Mãe Aparecida que nos confiou esse novo tempo, o qual comporta também uma grande responsabilidade, isto é, testemunhar ao mundo a vida nova em Cristo Jesus em comunhão com toda a Igreja. No Ano Paulino, queremos cantar com toda a força uma Canção Nova, para que todos possam reconhecer que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai”. 

Transcrição e adaptação: Beatriz Barreto 

Assista à Santa Missa de Corpo Presente do Monsenhor Jonas Abib – Padre Wagner Ferreira

 

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