Um só Senhor

Entenda a importância de ter um só Senhor

Quem manda em sua vida? Qual é o senhor de sua existência? Perguntas desafiadoras e provocantes! De uma forma ou de outra as pessoas se submetem a poderes de plantão, nos diversos âmbitos da existência. Pode até acontecer que tantos se submetam ao domínio do “Rei Momo” nos dias de Carnaval! Depois, o vazio total! Outros passam de mão em mão, deixando-se controlar pelos vícios, a moda, as novidades eletrónicas, ou o prazer que escraviza. A liberdade mal compreendida acaba por gerar pessoas insatisfeitas, ainda que todas, sem exceção, tenham sido criadas por Deus para a liberdade e para a felicidade. Verdadeira liberdade é a escolha de Deus como Senhor, com o consequente caminho de plena realização nesta vida e na eternidade.

O anúncio do Evangelho interfere nas decisões mais simples do dia a dia, como a administração dos bens e do tempo, a definição de prioridades no trabalho, a definição dos grupos com os quais as pessoas se comprometem, suas reações diante dos rumos da própria sociedade. A Palavra de Deus indica valores diferentes e mais consistentes, possibilitando serenidade e equilíbrio, mesmo nas situações de crises pessoais, familiares ou as mais amplas, como as encruzilhadas em que nos encontramos no tempo presente, que muitos chamam de uma radical mudança de época, mais do que uma época de mudanças.

O horizonte se abre esperançoso com uma palavra chave na pregação de Jesus, transmitida pelos Evangelhos (Mt 6, 24-34). Trata-se do “Reino de Deus”, ao qual o Senhor volta com insistência, enriquecendo seu ensinamento com uma série de parábolas, como a cercar com todas as luzes possíveis as opções a serem feitas no dia a dia. Sua linguagem é simples e objetiva, falando de roupas, alimentos, pássaros e flores, pois “a bom entendedor meia palavra basta”!

O Evangelho pede mudança nas escolhas de vida. Dedicar-se a Deus exige o abandono em suas mãos paternas e providenciais. Deus é compassivo e cuida da erva que floresce no campo ou dos pássaros do céu, tem cuidado connosco, assegura Jesus. Ele quer fazer nos entender que só Deus é digno de nossa confiança total e abandono confiante em suas mãos seguras. É bom recordar outras advertências do Senhor sobre o perigo das riquezas buscadas por si mesmas (Cf. Lc 16, 19-30; Lc 17, 22-37; Lc 18, 24-27). O desejo pelas coisas materiais nos faz perder o rumo e gera inquietação: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10, 41-42).

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá sua própria preocupação! A cada dia basta o seu mal” (Mt 6, 33). A busca do Reino de Deus traz o justo equilíbrio, pois confiança na Providência não significa imobilidade e passividade. Antes, somos chamados à responsabilidade pessoal e uns com os outros.

Trabalhar com seriedade, cumprir os próprios deveres, tudo isso faz parte do cotidiano do cristão. Ao mesmo tempo, a Providência de Deus se manifesta na solidariedade recíproca praticada entre pessoas e grupos, quando aprendemos a olhar ao nosso redor, descobrindo o que podemos fazer concretamente pelos que passam dificuldades maiores. Cuidar dos problemas de cada dia (Cf. Mt 6, 34), não perder tempo, envolver-se na busca de soluções para os desafios sociais, tudo isso segundo as capacidades e cada pessoa, suscita verdadeira agitação, em que a caridade vivida faz brotar estradas antes impensadas. E aqueles que podem contribuir na geração de empregos e postos de trabalho são insistentemente convocados a fazer a própria parte.

Se o Evangelho pede para não nos preocupamos, ele mesmo exige que nos ocupemos do que é bom e justo, trabalhando com nossas próprias mãos, aplicando nossa inteligência segundo os princípios e orientações da Igreja, cuidando de não sujar as nossas mãos com a corrupção e a iniquidade. Trata-se de começar hoje a usar métodos diferentes, olhar com maior dignidade uns para os outros, praticar a justiça social no âmbito às vezes limitado de nossa ação, cuidar das relações de trabalho com quem depende de nós.

Cresça a consciência de que não podemos fugir da força com que o Evangelho nos provoca: “Ninguém pode servir a dois senhores: ou vai odiar o primeiro e amar o outro, ou aderir ao primeiro e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro!” (Mt 6, 24). Escolhemos Deus!