Reitor dos Olivais abordou desafios atuais da preparação para o sacerdócio
O reitor do Seminário Maior de Cristo Rei, nos Olivais, abriu as portas da instituição para uma entrevista inserida na Semana dos Seminários, e centrada nos desafios que hoje se colocam à formação dos futuros sacerdotes.
Com 86 anos feitos em outubro, o Seminário dos Olivais é uma casa que acompanha o ritmo da globalização que marca a sociedade.
Nas suas paredes alberga 66 seminaristas, 31 do Patriarcado de Lisboa e os restantes provenientes de outras 10 dioceses, de Portugal continental, do Arquipélago da Madeira, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe e da Índia.
O padre José Miguel Pereira destaca a necessidade de lidar com personalidades e experiências diferentes, unidas “numa só comunidade”, porque esta dimensão de grupo, de comunhão, é fundamental na formação dos candidatos.
“Ninguém pode amar o Deus que é Trindade se não experimentar uma dimensão comunitária, uma experiência comunitária. E nesse sentido também tem de estar muito entranhado no candidato ao sacerdócio, na altura de abraçar o ministério, este sentir-se comunidade, sentir-se irmão com os irmãos para poder ser servidor e pastor para os irmãos”, realça o reitor do Seminário dos Olivais.
Recentemente, a instituição alargou a sua oferta formativa com um Tempo Propedêutico, destinado a ajudar no discernimento os candidatos ainda antes de começarem com os estudos superiores.
Para isso, o Seminário foi alvo de obras de alargamento e de reconfiguração, passando uma das suas alas, o Pavilhão A, a servir para este propósito.
São muitos os fatores a ter em conta na formação dos jovens e adultos, pois cada um que chega tem as suas caraterísticas, muito próprias.
Alguns chegam com “experiências insipientes de vida de oração, de vida comunitária e de catequese”, outros revelam já “formas muito sólidas” de ligação à Igreja e de vida cristã mas que depois têm dificuldade em adaptar-se a um contexto de maior “despojamento” e “recolhimento” que é próprio da formação em Seminário.
Há também quem chegue com menor capacidade em termos de relação pessoal, num tempo em que o contacto cara a cara parece estar a ser substituído pelo “individualismo, o imediatismo, a sensação que tudo se pode resolver com um click”.
E aqui o reitor do Seminário dos Olivais aponta o desafio das novas tecnologias, das redes sociais, que é uma faca de dois gumes.
“Tem oportunidades, que as novas tecnologias permitem não só do Seminário se dar a conhecer. Nós temos página de internet e de facebook, na Semana dos Seminários temos hoje à noite uma vigília de oração, aqui na nossa capela, e está anunciado nesses meios digitais. Mas também tem desafios, de relações às vezes mais frágeis, mais escondidas, porque atrás de um texto que se clica consegue-se dizer muitas coisas, frente a frente, olhos nos olhos, já somos mais reservados a dizer”, aponta aquele responsável.
Por outro lado, “um elemento cada vez mais claro é a formação, a maturação afetiva e sexual” dos candidatos ao sacerdócio, num tempo em que “tudo está disponível desde tenra idade, seja no que se vê, seja no que se experimenta e se inicia”.
De acordo com o padre José Miguel Pereira, o Seminário dos Olivais conta atualmente com o apoio de uma psicóloga no acompanhamento dos alunos.
E admite que este trabalho tem que se estender também mais aos sacerdotes já ordenados, pois “há dinamismos da personalidade que, com os desafios próprios do ministério, com a passagem por diferentes de vida humana e de maturação humana muitas vezes se vão ressaltando”.
“Algumas dioceses têm mesmo equipas, com um padre ou vários padres, ou com outros fiéis, de acompanhamento na formação pastoral, para ajudar na formação pastoral. Isso sim, isso é um desafio. A nova ‘Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis’, (documento da Santa Sé relacionado com a formação sacerdotal) está a tentar isso, há experiências já feitas e promove que se avance por aí”, sublinha o reitor do Seminário dos Olivais.
No que diz respeito à Semana dos Seminários, que está a decorrer até ao próximo domingo, o padre José Miguel Pereira manifesta o desejo de que esta iniciativa ajude cada vez mais a consciencializar as famílias e as paróquias para o papel que devem ter na promoção de novas vocações.
“Isto ainda depende muito da atenção ou do sacerdote, ou do catequista ou do animador juvenil, ainda está muito dependente da sensibilidade de alguns agentes de pastoral. Em alguns casos, também a família vai ganhando essa consciência e promove mas reconheço que no panorama da diocese é uma realidade que ainda precisa de fazer caminho”, completa aquele responsável.
Para já, as famílias estão convidadas a participarem numa vigília de oração pelas vocações, esta quinta-feira à noite, pelas 21h30, na capela do Seminário Maior de Cristo Rei, nos Olivais, em Lisboa.
Fonte: Agência Ecclesia
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