Homilia, na íntegra, da Missa do dia 15 de dezembro das Exéquias de Padre Jonas Abib, presidida por Padre Willian Guimarães
“Só se tem saudade do que é bom, se chorei de saudade não foi por fraqueza, foi porque eu amei.” (Diácono Nelsinho Corrêa)
Meus queridos irmãos e irmãs, desde a noite de segunda-feira, a verdade dessa canção habitou nosso coração. É verdade que as lágrimas desta semana e destes dias revelam um grande amor; amamos e fomos profundamente amados.
A sabedoria contida na letra desta canção, a qual diz que a saudade é o atestado do amor, expressa não só o que nós da Canção Nova vivemos, mas também essa multidão de filhos que amaram e foram amados pelo pai fundador, padre Jonas Abib.
Isso não é vergonha para nós. O sentimento da saudade, experimentado pelo próprio Jesus Cristo, que chorou a morte do seu amigo, não é vergonha, não é fraqueza, mas expressa um dos pontos mais profundos da nossa humanidade, que é a capacidade de amar com o amor que faz história.
Padre Jonas nos ensinou o que é o amor, não tendo medo de perder para dar vida a seus filhos
A história do padre Jonas, um dia, entrou na nossa história, e nós entramos na história dele e vivemos essa profunda experiência de amor. Hoje, nós estamos aqui, as nossas lágrimas, os abraços que damos uns nos outros, o olhar contemplativo sobre nosso pai fundador materializam o amor que nós vivemos com ele.
Nós não sentimos falta do que nós não amamos, não sentimos saudades do que não amamos. É natural ao amor conter a saudade, é natural à saudade conter o amor. É o que nós estamos vivendo e experimentando nesta semana. Acredito que nós viveremos esta saudade para sempre, e serão saudades eternas, porque o padre Jonas amou cada um de nós, seus filhos, mas também o povo de Deus que lhe foi confiado, as outras comunidades. No coração do padre Jonas, havia lugar para todo mundo. E todos, absolutamente todos, uma multidão de vidas, se sentem, nestes dias, também um pouco órfãos.
Quantas experiências e quantas memórias! Quantas histórias trazemos com o padre Jonas, partilhas, sorrisos, lágrimas, pregações, exortações, experiências de um coração de pai que só soube amar e sacrificar-se por nós.
Nós precisamos reconhecer, nestes dias, que o padre Jonas, ao longo de toda sua vida, não economizou nada para nos amar e para nos gestar para Deus.
No seu coração de pai, que se fez tudo para todos, não houve economia, não houve reserva, não houve mediocridade, mas um amor inteiro que se sacrificou por todos nós. Porque nós sabemos, e é uma lei também escrita em nosso coração, que não existe paternidade sem sacrifícios.
No coração de um pai, no coração da missão da vida de um pai, o que alimenta a paternidade é o sacrifício, é a renúncia. E tudo o que esse homem de Deus consolidou entre nós, a obra material que os nossos olhos contemplam, o Sistema de Comunicação que os nossos olhos contemplam, sobretudo o coração dos filhos consolidados no amor de Deus e no Encontro pessoal com Jesus, tudo o que este pai consolidou entre nós foi fruto de grandes sacrifícios.
O lema “Feito tudo para todos”
Ele encarnou o “Feito tudo para todos”, porque este lema não é apenas uma frase bonita que acompanhou sua vida, mas o sentido desse lema está na oferta e nas dores, nas renúncias que a Divina Providência, nos seus mistérios, pediu ao Padre Jonas até o último instante de sua vida.
Todos nós – não somente nós da Canção Nova, mas também esta multidão de filhos, e posso dizer, essa multidão incontável de filhos, como as areias na praia, como as estrelas do céu – somos filhos do coração sacrificado do padre Jonas, que não poupou nada para nos amar e nos gerar para Deus.
O Padre deu tudo e perdeu tudo, e as pessoas que viveram mais perto dele sabem disso, testemunharam isso. Padre Jonas deu seu tempo, a sua vida, os seus projetos pessoais; o Padre Jonas entregou sua saúde, suas energias, sua atenção, tudo para gerar vida em Deus, para testar a grandeza do seu amor por cada um de nós.
É o que nós ouvimos na Carta aos Coríntios: enquanto a morte agia no padre Jonas, enquanto ele se gastava, a vida brotava em nós; enquanto padre Jonas se perdia e se dava, nós ganhávamos a vida de Deus, e essa é a lógica do Reino. “O grão de trigo, se não cai na terra e morre, ele fica só, mas quando ele morre, ele produz muito fruto”. A morte do padre Jonas, a morte lenta do padre Jonas e a oferta de suas energias a cada dia, foi gerando vida em nós. Esse é o mistério do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Os nossos olhos contemplam, nestes dias, a semente que é o corpo de nosso Pai Fundador, que será depositada, neste dia, na tarde do dia de hoje, e essa semente continuará brotando vida para nós. Vida de santidade, de virtudes, da expectativa da vinda do Reino de Deus, amor ao nosso Senhor, porque o padre Jonas viveu e encarnou o “Feito tudo para todos”.
A experiência com o amor de padre Jonas
De maneira pessoal, e de maneira particular, a minha vida, quase que literalmente, brota da generosidade deste coração.
Há pouco mais de seis anos, quando eu estava entre a vida e a morte, naquela situação dramática em que nós vivemos aqui na Comunidade, o padre Jonas foi capaz de ver o que ninguém via. O impossível e o milagre que ninguém era capaz de ver, pela grandeza da sua fé, da sua esperança, da sua coragem de acreditar que Deus poderia fazer o que humanamente era impossível na minha vida.
Ele fez o que todos sabem: um grande levante de oração, mas como se não bastasse tudo isso, Padre Jonas, em um daqueles dias difíceis – depois ele me segredou isso, junto com a Luzia e a Iara –, já não tinha mais o que pedir a Deus, ele pediu a Nosso Senhor para que ele morresse em meu lugar, e que nosso Senhor me permitisse ficar para ser padre, pois, na ocasião, eu ainda era seminarista. Ele me disse assim: “Filho, eu sou padre há 50 anos, eu queria que você ficasse para realizar a sua vocação; e eu estava disposto a isso. Já não tinha mais o que pedir a Deus. Eu, padre Jonas, pedi para ser este grão de trigo que morreria no seu lugar”.
Depois que tudo passou, ele ainda brincou comigo que Deus havia feito dois grandes milagres, porque “eu e ele” ficamos; e hoje, meus irmãos, eu sou padre (há seis meses) pela graça de Deus e pela generosidade do coração deste homem que não economizou nada: por mim e pelos filhos dele.
Ele nos ensinou o que é o amor, não tendo medo de perder para dar vida a seus filhos. Diante do corpo do padre Jonas, do grão de trigo que é o seu coração, qual a escolha que nós fazemos? Diante da saudade que experimentamos e que vai ficar para sempre dentro de nós, diante de tantos sacrifícios que ele já fez por nós, eu pergunto a vocês, meus irmãos e irmãs, o que estamos escolhendo a partir de hoje? O que nos resta é seguir os seus passos, perdendo a nossa vida também.
Só seremos “Tudo para todos” se tivermos a coragem de perder, como ele teve. Não economizou nada, mas o que nós vemos aqui, nestes dias e no Brasil inteiro, mostra que o coração deste homem, sem economias, foi capaz de gerar uma multidão de vidas para Deus. Seja esse o legado do padre Jonas para nós, mais do que antes, mais do que tudo Canção Nova, como a única, primeira e a última vez na nossa vida, percamos a nossa vida para gerar a vida nos outros.
Obrigado, padre Jonas! Obrigado por tudo, obrigado por nos ensinar a dar a vida a partir da sua morte! Pai Fundador, nesse seu sacrifício derradeiro, nos lhe pedimos: pede por nós a Deus, para que, através de sua morte, muito mais vida seja gerada em nós.
Nós o amamos padre Jonas, e queremos amar como o senhor nos ensinou, dando a nossa vida.
Transcrição e adaptação: Eliziane Alves
Assista à Santa Missa de Corpo Presente do Monsenhor Jonas Abib – Padre Willian Guimarães
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