Documento de trabalho da próxima assembleia de bispos sublinha necessidade de trabalhar uma visão cristã do corpo, com referência inédita a jovens LGBT
O documento de trabalho da próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, divulgado hoje pelo Vaticano, assume o distanciamento das novas gerações em relação à “moral sexual” proposta pela Igreja Católica.
“Os estudos sociológicos mostram que os muitos jovens católicos não seguem as indicações da moral sexual da Igreja. Nenhuma Conferência Episcopal oferece soluções ou receitas, mas muitas são da opinião que a questão da sexualidade deve ser discutida mais abertamente e sem prejuízos”, assinala o ‘guião’ sinodal.
A 15ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, vai decorrer de 3 a 28 de outubro deste ano, por decisão do Papa Francisco.
Na preparação para este encontro consultivo de representantes dos episcopados católicos, o Vaticano promoveu um questionário online e uma reunião pré-sinodal (RP), com jovens de várias confissões religiosas, em março de 2018, acompanhada nas redes sociais por 15 mil pessoas.
As conclusões da RP são citadas várias vezes no documento de trabalho proposto pela Santa Sé, que elenca questões “controversas” para as novas gerações, como a contraceção, o aborto, a homossexualidade e o matrimónio.
Alguns jovens pedem “maior clareza” no ensinamento da Igreja e esperam que os bispos abordem, no Sínodo 2018, temas como a homossexualidade ou as questões do género.
A Secretaria do Sínodo, no Vaticano, recebeu contributos de jovens LGBT que esperam “uma maior proximidade” e um “maior cuidado” por parte das comunidades católicas.
Das conferências episcopais chegaram questões sobre as propostas a fazer aos jovens que “decidem constituir” uniões homossexuais e querem “estar próximos da Igreja”.
O ‘Instrumentum Laboris’, divulgado esta manhã pela Santa Sé, adverte para a vivência “desordenada” do amor, que se pode transformar “numa paixão desregulada e uma pulsão destruidora, levando à tristeza”.
“A sexualidade precoce, a promiscuidade sexual, a pornografia digital, a exibição do próprio corpo online e o turismo sexual arriscam-se a desfigurar a beleza e a profundidade da vida afetiva e sexual”.
O texto do Vaticano adverte depois para uma crescente abordagem “tecnocrática” do corpo, num momento em que crescem as perspetivas de integração de circuitos eletrónicos e de componentes artificiais nos seres humanos.
Outro tema em destaque é a questão das “fake news” e a necessidade de “selecionar entre as infinitas de ofertas de informação”.
“De um ponto de vista antropológico, a irrupção das tecnologias digitais está a começar a ter impactos profundíssimos na noção de tempo e espaço, sobre a perceção de si, dos outros e do mundo, na forma de comunicar, de aprender e de informar-se”.
O Vaticano entende que um “uso superficial” dos media digitais expõe os jovens ao isolamento, inclusive a fenómenos extremos como o que é conhecido pelo termo japonês ‘hikikomori’.
O documento de trabalho do Sínodo 2018 constata ainda a “desilusão” dos jovens com as instituições, incluindo a Igreja Católica, e o sentimento de “indecisão” que reina entre os mais novos, face às escolhas que têm de fazer para a sua vida.
“A insegurança das condições laborais e o precariato social impedem qualquer projetualidade de médio-longo prazo”, pode ler-se.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
Fonte: Agência Ecclesia
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