Sete características do amor conjugal

Amizade, exclusividade, fidelidade e abertura à vida são marcas de um verdadeiro ato conjugal, ensina Papa Paulo VI


A Encíclica Humanae Vitae, escrita pelo Papa Paulo VI, em 1968, aponta caminhos seguros para fortalecer o amor do casal. No documento lançado oito anos depois que a pílula anticoncepcional começou a ser distribuída nos Estados Unidos (23 de abril de 1960), a Igreja se posicionava contra a pílula anticoncepcional por considerá-la um método artificial de evitar a gravidez. No mesmo documento, Paulo VI estimula os casais cristãos e católicos a exercerem a paternidade responsável1, além de refletir sobre a vida humana em sua totalidade e integralidade.

Em meu livro “Papa Francisco às Famílias, os segredos para a conquista de um lar feliz” relato um episódio em que Bergoglio reitera a atualidade da Encíclica de Paulo VI. Na viagem às Filipinas, em 2015, Francisco denunciou “colonizações ideológicas que buscam destruir a família”. Entre os males, a “falta de abertura à vida” torna-se um câncer na sociedade que envelhece e morre. “Cada ameaça à família é uma ameaça à sociedade”, afirma o Papa.

As indicações presentes na Encíclica Humanae Vitae expressam a verdadeira natureza e nobreza da relação matrimonial, considerando sua fonte suprema, Deus que é Amor. Apresento sete características do amor conjugal:

1. Plenamente humano: espiritual e sensível
O amor conjugal é ato da vontade livre, não é ímpeto de instinto ou sentimento. Capaz de crescer em meio às alegrias e dores, fazendo com que o casal se torne um só coração e uma só alma para alcançar juntos a perfeição humana.

2. Amigos que compartilham
O matrimônio é uma forma de amizade em que marido e mulher compartilham tudo. Quem ama não ama por aquilo que recebe, mas por si mesmo, porque pode enriquecê-lo com o dom de si mesmo.

3. Fiel e exclusivo
Uma fidelidade exclusiva até a morte gera felicidade íntima e duradoura. O casal assume, livremente e com plena consciência, o compromisso do vínculo matrimonial. “Fidelidade que, por vezes, pode ser difícil, mas que é sempre nobre e merecedora, ninguém o pode negar.”

4. Fecundo
Ordenado para a procriação e educação dos filhos, o amor não se esgota na comunhão entre os cônjuges. Ele é destinado a suscitar novas vidas sob a consciência da sua missão de “paternidade responsável”. Aos casais que, por causas independentes de sua vontade, vão ser infecundos, a Igreja orienta a exprimir e a consolidar a sua união.

5. Unitivo e procriador
O significado unitivo e procriativo estão fundados na conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa. A estrutura íntima do ato conjugal torna-os aptos para gerar novas vidas, segundo leis inscritas no ser masculino e feminino.

6. É desejo
O ato conjugal deve considerar condições e desejos legítimos. Caso contrário, não é verdadeiro ato de amor, mas negação da reta ordem moral. Ato de amor recíproco, que prejudica a disponibilidade para transmitir a vida está em contradição com o desígnio constitutivo do casamento e com a vontade do Autor da vida humana.

7. ‘Não’ ao aborto
O amor conjugal considera ilícito interromper diretamente o processo generativo já iniciado, e, sobretudo, o aborto voluntário mesmo por razões terapêuticas. Da mesma forma, exclui a esterilização direta definitiva ou temporária, tanto do homem como da mulher.

Em nossa época, marcada por uma cultura do descarte, em que faltam compromissos definitivos e a vida não é valorizada, a mensagem do Beato Paulo VI adquire força renovada. Um milagre atribuído à intercessão dele foi a cura de um feto. O milagre aconteceu, em 2001, nos Estados Unidos. Diante de um diagnóstico de que o feto estava “gravemente comprometido”, a mãe recusou abortar e rezou a Paulo VI pedindo uma intervenção do céu. Após dez semanas, a prece foi atendida. A beatificação aconteceu no dia 19 de outubro de 2014, na Praça São Pedro, em uma celebração presidida por Papa Francisco e com a presença do Papa Emérito Bento XVI.