SERIE For YOUNGS, Ever ALIVE | When the party’s over

Esta semana, ao abrir o Youtube deparei-me com uma sugestão de vídeo que me inquietou. Tinha o título de “Padre britânico reage a Billie Eilish pela primeira vez”. Não resisti em abri-lo para ver qual o desfecho daquele vídeo.

Para quem não sabe, Billie Eilish é uma cantora norte-americana, com 18 anos. No último ano, esta jovem alcançou um enorme sucesso, sobretudo entre o público jovem, não só pelas suas músicas, mas também pela sua forma irreverente de se mostrar ao público. Sucesso que seria amplamente confirmado nos ‘Grammy Awards 2020’ onde foi a artista mais jovem e a primeira mulher da história a arrecadar os quatro prémios das principais categorias: álbum do ano, canção do ano, gravação do ano e melhor artista revelação.

Todo este sucesso fez desta jovem uma personagem bastante controversa, sobretudo pela sua imagem pouco convencional e as suas posições progressistas. Por isso mesmo, antes de abrir o vídeo, apenas pelo título, esperava ver o padre reagir de forma negativa ao estilo de música e aos videoclipes desta artista. No entanto, o vídeo, para surpresa de muitos, mostra exatamente o oposto. Ao longo do vídeo, apesar da estranheza inicial, o padre mostra ficar agradavelmente surpreendido com a música de Billie Eilish. Muitos comentários e muitas piadas são feitas, mas creio que o que me fica marcado deste vídeo, é o momento em que, ao ver o videoclipe de “When the party’s over”, o padre confessa-se comovido e afirma: “Há algo tão ‘alien’, mas ao mesmo com tanto sentido (…). Quando eu vejo este tipo de vídeos penso em todos os jovens que lutam com dificuldades em manter a sua saúde mental e que caem em depressão. Porque penso que o maior propósito de Deus é dizer-nos que somos crianças. Não estamos sozinhos e somos amados. (…). Esta é a imagem de alguém que está a lutar com algo, e mantém tudo para si. (…) E não tem de ser assim.”

Para quem não conhece, a letra de “When the party’s over” fala-nos da solidão sentida após o regresso de uma festa. Num ambiente de desilusão, o refrão repete que “podia mentir, e dizer que gostei”. Esta podia ser a imagem perfeita de tantos jovens que passam de festa em festa, mostrando-se sempre alegres e satisfeitos, mas, no fundo, sentem-se perdidos interiormente e sozinhos…. Mantêm-se ligados a um mundo de aparências, guardando dentro de si aquilo que não está bem. E, muitas vezes, isto parece acontecer por esta pressão que os amigos, a família e a sociedade no geral impõe, de que os jovens sejam modelos da perfeição, que se mostrem sempre bem. Mas, como diz o nosso padre no vídeo: “Não precisa de ser assim”. Billie Eilish, esta jovem que foge totalmente ao ideal de beleza atual, e que não tem medo de tocar temas que ferem o mundo interior dos jovens, talvez nos possa estar a mostrar que a sociedade, depois de tanto lutar pelo ideal de perfeição e ascensão, tenha de arranjar formas de aprender a fazer o caminho inverso: aquele caminho descendente que o próprio Deus faz para vir ao nosso encontro até à morte, e, a partir daí, voltar a ensinar aos jovens que é normal errar, falhar, chorar, sentir-se derrotado,…

O Papa Francisco diz-nos que “os jovens também estão marcados pelos golpes, pelos fracassos, pelas recordações tristes, cravadas na alma. (…). Além disso, também há as feridas morais, o peso dos próprios erros, os sentimentos de culpa por se terem equivocado. Jesus faz-se presente nessas cruzes dos jovens, para lhes oferecer a sua amizade, o seu alívio, a sua companhia que cura, e a Igreja quer ser seu instrumento nesse caminho até à ressurreição interior e à paz no coração”. (CV, 83)

Os momentos de fraqueza, tristeza e derrota, fazem parte da nossa vida. E, ao contrário do que muitos pensam, não estão reservados apenas para os adultos. Aos jovens, para que não se deixem vencer por estes momentos, resta-lhes acreditar que, mesmo falhando, continuam a ser amados. Não deixemos que a festa termine numa mentira, tenhamos a coragem de abrir-nos ao amor e à companhia de Jesus, que se faz presente nas nossas vidas, e aprendamos a fazer festa com Ele, mesmo nos momentos difíceis.