SÉRIE For YOUNGS, Ever ALIVE | Fazer comunidade

Nestes últimos dias tenho assistido a alguns episódios da série de comédia “Last Man Standing” [“Um Homem entre mulheres”]. Esta série tem como protagonista Mike Baxter, um homem que tem de lidar com quatro mulheres em casa, a esposa e as suas três filhas. Toda a série se desenrola a partir das peripécias quotidianas deste pai de família, tanto em casa como no trabalho. No geral, penso que a série me cativou precisamente por dar uma especial atenção ao papel de pai e esposo, uma figura cada vez mais apagada no nosso contexto social. Para além disso, acho também interessante o facto de, no final de todos os episódios, Mike Baxter apresentar um vlog, que faz como forma de publicidade à loja onde trabalha, e de onde podemos retirar uma espécie de “moral” a reter daquele episódio.

Falo-vos desta série porque quero focar-me no episódio 18 da 6ª temporada. Esse episódio chamou-me à atenção desde o início, porque começa com a preocupação de Mike e da sua esposa, por não conseguirem convencer as suas filhas a irem com eles ao domingo à igreja. O episódio, passando por muitas peripécias, inclusive por um “curso” de Mike ao seu pastor sobre como captar a atenção das suas “ovelhas”, chega ao seu desfecho quando este pai convence as filhas a irem à igreja, dando-lhes o protagonismo do que lá acontece. Mike desafia a sua filha do meio, que está a tirar um curso de estilista, a criar novas roupas para o coro, e pede à filha mais nova, que tem bastante jeito para a música, para criar novas músicas para a celebração. Desta forma, volta a reunir toda a família de novo na igreja aos domingos.

A história do episódio é, na minha opinião, uma excelente lição sobre o protagonismo que devemos dar aos jovens, para que eles, de facto, se sintam parte das comunidades religiosas, e tenham vontade de ir à igreja. Mas, o que me tocou ainda mais, foi o discurso do vlog final de Mike Baxter: “Olá. Eu sou o Mike Baxter e falo para a nossa comunidade online. Comunidade… online… É uma contradição. Não é uma comunidade, se não ouvirmos, cheirarmos e virmos com quem falamos. (…) Como em qualquer comunidade, aqui dá-se e recebe-se. (…)  Façam parte de uma comunidade a sério, conheçam amigos novos. (…) Deem um pouco de vocês, e vão receber muito mais em troca.”

Como sabemos, as paróquias, devido às circunstâncias que enfrentamos, passaram os últimos meses a tentar construir estas comunidades online. Algo inevitável, mas, como diz Mike, contraditório. E, talvez por isso, penso que se foi tornando cada vez mais difícil e menos entusiasmante para todos os fiéis, seguir todo o leque de celebrações online apresentado. Creio que por todos esses fatores, o regresso dos fiéis às celebrações eucarísticas presenciais, se tornou ainda mais especial e emotivo.

Este tempo de afastamento físico parece que nos ajudou a perceber que, realmente, não podem existir comunidades se “não ouvirmos, cheirarmos e virmos os outros”. E sinto que os nossos jovens, aqueles que poderiam estar mais habituados nas comunidades online, também começam a perceber que, apesar de os meios de comunicação à distância trazerem enormes vantagens, não poderão nunca substituir o contacto pessoal com aqueles de quem gostamos.

Diz o Papa que: “Web e redes sociais representam um lugar indispensável para chegar aos jovens e para envolvê-los, inclusive em iniciativas e atividades pastorais. Contudo, para compreender este fenómeno na sua totalidade, devemos reconhecer que, como qualquer realidade humana, este é atravessado por limitações e carências. Não é saudável confundir a comunicação com o mero contacto virtual.” (CV 87, 88) Por isso, esta é a hora em que precisamos de dizer aos jovens que voltem a estar presentes nas nossas igrejas, que voltem a ser parte das nossas comunidades, mais ainda do que antes, e que eles possam ser os protagonistas desta reabertura, ajudando as pessoas que correm mais riscos de saúde. No fim, de certeza que toda a ajuda dada, será motivo de satisfação, e sentir-se-ão a receber muito mais em troca: “Façam parte de uma comunidade a sério, conheçam amigos novos. Deem um pouco de vocês e vão receber muito em troca.”