Será que queremos viver um Cristianismo sem cruz?

Neste 22º Domingo do tempo comum o Senhor quer conduzir-nos pelo caminho certo e que implica remar contra a corrente.

Liturgia da Palavra

1ª Leitura | Jeremias 20, 7-9
Salmo 62 (63) | A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.
2ª Leitura | Romanos 12, 1-2
Evangelho | Mateus 16, 21-27

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Estas palavras do profeta Jeremias são proferidas nas vésperas de Jerusalém ser destruída e seus habitantes serem deportados para a Babilónia. O rei Joaquim não governa o povo, cuida do seu enriquecimento. Os sacerdotes preocupam-se com os rituais exteriores e o povo sente-se como um rebanho sem pastores. Neste cenário de ruína, Jeremias desabafa perante  Deus os seus queixumes e angústias. Mas fá-lo num clima de amor apaixonado, pois experimenta que Deus o seduziu e ele aceitou essa sedução para exercer a sua vocação de profeta.

Teremos provavelmente a experiência de nem sempre sermos bem aceites na nossa identidade de cristãos e católicos praticantes. Sentimos que nos é pedido remar contra a corrente de modas e do pensamento dominante. Conseguiremos perseverar e vencer os obstáculos na medida em que experimentarmos o amor de Deus que nos seduz pelo caminho do bem, da beleza e da verdade.

São Paulo pede-nos para não cedermos à tentação de nos conformarmos com os critérios deste mundo, com o que é política e socialmente correto. Não podemos permitir que haja pressões e controlo da nossa consciência, orientada por valores e norteada pelo amor de Deus. A nossa felicidade está em saber “discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito”.

No tempo de Jesus, a ideia comum do Messias era muito terra a terra: traria o bem-estar material, a libertação política de Israel, triunfando como um grande senhor temporal. Neste Evangelho encontramos o primeiro dos três anúncios que Jesus faz da sua paixão e morte. Pedro faz de porta-voz dos critérios do seu tempo, fazendo-se conselheiro do Messias: “Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há de acontecer!”. Cristo reage fortemente, clarificando a identidade da sua missão salvadora.

Uma tentação comum é de aveludarmos a exigência do Evangelho e de pretendermos um Cristianismo sem cruz. Cristo também hoje nos recorda o caminho de sentido único dos seus seguidores: ”Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há de perdê-la; mas quem quiser perder a sua vida por minha causa há de encontrá-la”.