Será que o meu corpo revela Deus?

Segundo a Teologia do Corpo de S. João Paulo II, podemos refletir sobre a criação do homem, suas primeiras experiências e sentido último da sua vida. O nosso saudoso Papa deixou-nos esta pérola, onde mergulhamos no plano de amor de Deus para com a humanidade, onde cada um de nós encontra a sua identidade e vocação, compreende o todo da criação, o de onde vim, onde estou e para onde vou. Mergulhemos, um pouco mais, neste imenso e alegre conteúdo, durante as próximas semanas.

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Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, por isso se alegrou tanto com a bela criação do Homem. Deus ama a criação, mas ao Homem, Deus tem um amor imenso, porque na nossa humanidade Deus revela-se. Como? Deus é amor e nós somos frutos desse amor, nós somos imagem da Santíssima Trindade que é amor e gera amor.

Reparemos, quando um homem e uma mulher se unem, no seu leito nupcial, numa só carne, eles têm a capacidade de gerar uma vida. Neste sentido, o matrimónio é um sinal da Santíssima Trindade. Deus criou-nos homem e mulher, com esse corpo sexuado, para que nos recordemos da nossa primeira vocação: o amor. Essa vocação está marcada nos nossos corpos, que proclamam que fomos feitos para uma relação de amor. O corpo do homem e da mulher são, eles mesmos, imagem do Amor. Os nossos corpos falam do Amor. Homem e mulher são impelidos a uma relação, o próprio desejo sexual conduz o corpo do homem e da mulher, para se unirem num acto de amor e gerador de vida. Deus imprimiu nos nossos corpos esse convite à união, à relação, num amor livre, total, fiel e fecundo.

Em Génesis 1, 26-29, diz o seguinte: “Façamos o Homem à nossa imagem e semelhança; e que governe sobre todos os peixes do mar e as aves do céu e toda a Terra. E Deus criou o Homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus e criou-os varão e mulher. E Deus abençoou-os dizendo: Crescei e multiplicai-vos e enchei a Terra e sujeitai-a. E dominem sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na Terra.” Podemos constatar, como explica Edith Stein, que homem e mulher têm uma tríplice tarefa: (1) Ambos são criados à imagem e semelhança de Deus, como “varão e mulher”, para compartilhar a existência – como filhos de Deus; (2) Recebem a missão de “crescer e multiplicar”, enchendo a Terra; (3) Recebem, também, a missão de sujeitar a Terra e tudo o que nela se move, portanto, a tríplice tarefa de ser imagem de Deus, ter descendência e dominar a Terra.

Ainda na ordem da criação, ou seja, no âmbito das essências – das formas internas ou dos arquétipos – Deus também atribui vocações específicas ao homem e à mulher: à mulher concede o dom da maternidade para continuar a geração humana; ao homem dá a tarefa de proteger e sustentá-la, assim como os filhos. Por suas missões, tanto as comuns, quanto as específicas, o homem e a mulher foram criados, para viver em harmonia, em ajuda recíproca, como companheiros um do outro. Essa harmonia os torna capazes de engendrar uma nova vida e cuidar para que ela se desenvolva. Neste sentido, é belo, ao analisar a criação, como Adão se alegra quando Deus cria a mulher: “Esta, sim, é ossos de meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher” (Gn2,23). Adão, ao se deparar com a Mulher, entende quem ele é e qual o seu chamado, a sua vocação ao amor. Este momento, não é um fim, mas o momento em que se descobre um novo caminho. O homem só se reconhece homem/varão, quando conhece a mulher. Só se descobre como masculino, perante o feminino.

Estas diferenças entre o masculino e o feminino são a chave da compreensão da nossa vocação, pois eu, enquanto mulher tenho um dom específico que só eu o posso realizar e o homem, tem o seu dom específico, que só ele o pode realizar.

Deus criou o homem para ser o apoio, sustento e proteção da mulher e sua família. O homem tem como modelo Cristo, isto é, ele precisa amar como Cristo amou a Sua Igreja. E como é que Ele a amou? Morreu por Ela! Cristo deu o Seu corpo para nos salvar, doou-se por inteiro, até à morte. Portanto, Cristo é o modelo de homem, de filho e esposo. É dessa forma que o homem precisa amar a sua esposa, dar a vida por ela, diariamente. Como é bela a missão do homem.

E a mulher? Ela é chamada a deixar-se ser amada pelo homem, assim como a Igreja foi e é amada por Cristo. A mulher deve caminhar com as palavras que Maria disse ao Anjo “Faça-se em mim, segundo a Tua vontade”, portanto deixar-se ser conduzida pelo seu esposo, pois tem a certeza que ele caminha com a sabedoria de Deus e dá a vida por ela.